Magic Kaito 1412 é daquelas produções em que cada episódio (ou grupo de dois) conta uma aventura diferente, mas cuja estrutura é sempre a mesma. Ora, para uma produção que se apresentou em grande estilo, dizer isto ao fim de 24 episódios soa a um belo elogio. E, em certa medida, o é, pois os vários parâmetros – que destaquei positivamente no meu artigo de primeiras impressões – não perderam o fôlego. Todavia, tratando-se de uma produção que repete a mesma sequência todas as semanas, o factor “rotina” tem de ser bem trabalhado, em termos de conteúdo, ou fica muito fácil o espectador desligar-se. E é aqui que Magic Kaito 1412 revela alguns problemas que, não comprometendo a sua qualidade, lhe tiram um pouco de brilho, precisamente por força desse desgaste da repetição. Mas vamos aos detalhes.
Magia e Entretenimento
Creio que estas duas palavras sejam indissociáveis, quando se trata de um espectáculo relacionado com a primeira. Pois bem, Magic Kaito 1412 é essencialmente isso. Um show televisivo que depende da vertente mágica para cativar o espectador. Salvo raras excepções (mais sentimentais e, diga-se, com alguma qualidade), este é o ponto central, ainda que os participantes no espectáculo, em maior ou menor número, possam alternar entre si.
Como consequência, ou o espectador aprecia este tema e/ou sente que este tem um efeito libertador e relaxante em si, ou então a produção torna-se inútil, já que vai “girar sempre o mesmo disco”. Em resumo, aqueles fãs, onde esta estratégia surte efeito, terão pela frente vários episódios muito apelativos, pois o conteúdo, tradicionalmente enigmático, é interessante.
No entanto, falta ainda responder a uma outra pergunta, que não tem resposta tão directa quanto aparenta: quem os protagoniza?
As Personagens
Kaito Kuroba é o grande actor dos espectáculos (e da trama), e portanto, como é natural, está sempre presente. Ele é o “Ladrão Fantasma”, famoso por avisar o dia e a hora em que vai roubar determinada jóia, e mesmo assim ser capaz de furar todas as barreiras de segurança e ludibriar aqueles que o tentam impedir.
Já no que diz respeito ao restante elenco, o dito cujo é rotativo. A seguir a Kaito, o mais regular acaba por ser o detective Nakamori. Uma personagem cujo principal papel é reforçar a vertente cómica da série. Já os vilões, substituídos a cada aventura, pouco relevo têm para a história, salvo terem de existir para darem sentido às intervenções de Kaito.
A relação de Kaito com Aoko
Em paralelo com os shows do “Kaitou Kid”, a produção dedica boa parte do seu tempo aos colegas de escola de Kuroba, a fim de revelar o que estes pensam sobre Kaito, desconhecendo que este é o seu colega de escola. Neste assunto, especial atenção para Aoko Nakamori. A filha do detective Nakamori – inspector que, como já dei a entender, é o principal perseguidor do mágico – tem uma relação muito próxima (a roçar o romântico) com Kuroba. Um clima que, embora não dê em nada, me parece bem concebido, embeleza alguns momentos, traz um encantamento diferente à trama, e serve para intercalar os espectáculos do Mágico e fazer o tempo da história avançar de uma força mais suave.
Os rivais de Kaito: Conan e Hakuba
Posto isto, resta-me falar de duas personagens que, embora o seu tempo de palco seja bastante limitado, acabam por partilhar o protagonismo com Kaito e estar na base dos melhores episódios da série. Estou a falar dos seus rivais: Conan Edogawa e Saguru Hakuba. Estes são os que dão verdadeira “luta” a Kaito e que dificultam os seus roubos pré-anunciados. Duas personagens que não são novas, visto que transitam da famosa franquia “Detective Conan”, a qual também não é necessário conhecer-se para a visualização desta produção. Quando uma delas aparece em palco, a série parece ter dois protagonistas a actuar em paralelo, o que redobra a atenção e o interesse do espectador.
Os pais de Kaito Kuroba
Por outro lado, julgo que o ponto fraco da história reside nos pais do Kuroba mais novo. O seu desenvolvimento parece-me descuidado.
Relativamente à mãe de Kaito (Chikage), e para não criar spoilers, apenas dizer que as suas intervenções mais activas não me parecem bem conseguidas, mas sim demasiado forçadas.
Já no que diz respeito ao pai, no qual incide a premissa inicial, a maneira como ele deixa o seu legado ao filho não faz muito sentido. Ainda que isso exigisse mais tempo de antena, fazia mais sentido que este comunicasse com o filho de outra forma do que a existente. Recorrer a discos gravados, em jeito de um robô de inteligência artificial que responde às perguntas do Kaitou Kid, não me pareceu uma estratégia muito sensata. A meu ver, haveria outras mais indicadas, como por exemplo “fazer uso” do velho Jii – que auxiliou Touichi Kaito quando este era o “Ladrão Fantasma” – para passar as mensagens e conselhos deste ao filho, em vez dos discos de vinil utilizados.
A premissa sem desfecho de Magic Kaito 1412
Apesar de se tratar de uma série episódica, existe um propósito para Kuroba Kaito dar seguimento ao trabalho do pai e continuar a roubar jóias valiosas. Porém, esse grande objectivo, no final, acaba por ficar tão em aberto como quando é apresentado. Ora, o que normalmente acontece em histórias como esta é que, apesar do domínio das aventuras episódicas, existe uma história mais central que, muito paulatinamente, vai tendo desenvolvimentos. Pois bem, no caso de Magic Kaito 1412, ela acaba por não avançar na sua investigação, muito menos chegar ao seu destino. Como tal, fazia mais sentido não ter sido criado este grande objectivo por trás de todas as intervenções de Kaito e, em vez disso, dar forma a uma premissa que o levava a roubar os objectos apenas por divertimento. Desta forma, e sem necessidade alguma, quer-me parecer que a produção deixa um amargo de boca na sua despedida, depois de ter criado esta expectativa de uma história mais intrincada que, feitas as contas, não teve uso, muito menos uma conclusão.
Aspectos Técnicos
Como indiciei em cima, boa parte do trabalho revelado no primeiro episódio de Magic Kaito 1412 manteve-se ao longo de toda a trama. Com efeito, e de igual modo, os elogios que deixei no meu artigo de primeiras impressões mantêm-se inalteráveis, no que ao visual e à animação diz respeito.
Já em termos musicais, quero, antes de mais, destacar o segundo opening da série onde, aliada ao vídeo, a música “Ai no Scenario“, protagonizada por CHiCO (vocalista) e pela HoneyWorks (orquestra VOCALOID), faz furor. Contudo, não menosprezar a outra abertura e os encerramentos, pois, em termos gerais, também têm boa qualidade. Sobre a banda sonora propriamente dita, creio igualmente que se encontra num bom patamar de qualidade, muito perto do nível dos restantes aspectos técnicos deste trabalho da A-1 Pictures.
Conclusão
Em suma, Magic Kaito 1412 é, definitivamente, uma série para quem é fã de magia (ilusões), ou deste género de espectáculos, e que pouco esteja preocupado com outro tipo de desenvolvimentos. Afinal de contas, este último aspecto é a grande lacuna do projecto. Seja na escola, na relação de Kaito com os seus amigos, nomeadamente com Aoko, ou no descobrir mais sobre a morte do seu pai e sobre a pedra-preciosa Pandora, a sensação que fica em todos estes assuntos, após a visualização da série, é que nenhum saiu do seu ponto de partida.
Enquanto o triângulo Kaitou Kid-Conan-Hakuba asseguram a manutenção da qualidade rotineira, faltaram os desenvolvimentos naquele que se poderia considerar o (pequeno) enredo desta série, cuja principal característica (como em tantas outras) é a repetição. É uma pena, pois, caso contrário, a obra poderia ter chegado a outro patamar de qualidade e, quem sabe, ter continuado (fora da série “Detective Conan”), pois ainda tinha alguma margem para isso. Actualmente, e volvidos mais de 6 anos desde o término desta produção, não há perspectivas de uma sequela.
Perante tudo isto, confirmou-se, em grande medida, aquilo que eu tinha adiantado no meu artigo inicial sobre Magic Kaito 1412: o caminho pela qual a produção enveredou foi o de carácter mais simples, isto é, um percurso acima de tudo preocupado em despoletar a boa-disposição no espectador. Uma aposta solidamente alicerçada na boa qualidade dos aspectos mais técnicos que, não sendo muito elaborada, aquilo que fez em termos de repetição, fê-lo bem.
Magic Kaito 1412 – Trailer
Análises
Magic Kaito 1412
Uma série que se viciou na sua própria rotina, ao ponto de não dar qualquer tipo de andamento à premissa que está na sua origem. Por seu lado, o processo repetitivo, com recurso a mais do que um protagonista, justifica a aposta.
Os Pros
- Alguns dos espectáculos mágicos protagonizados por Kaito
- Os duelos que envolvem Kaito, Hakuba e Conan
- Arte visual
- Animação
- O segundo opening
Os Contras
- O desgaste da rotina episódica
- A premissa inicial acaba por não ser trabalhada