Faz este ano (2016), três anos consecutivos que o Tokyo International Film Festival tem dado destaque a um diretor de anime. Neste é-lhes dado espaço para retrospetiva, palestras, conversas, onde é desenvolvida uma continuidade entre a arte e a filmografia do diretor em questão. Há dois anos atrás o destaque caiu sobre Hideaki Anno e no ano passado foi o criador de Mobile Suit Gundam – Yoshiyuki Tomino. Este ano chega-nos um senhor com uma carreira incrível em ascensão: Mamoru Hosoda, criador de Summer Wars, Wolf Children e Bakemono no Ko.
Após a exibição do filme Wolf Children, Hosoda juntou-se ao colega e diretor Hirokazu Koreeda para uma conversa alargada que acabou por se focar nas temáticas e inspirações do autor.
Mamoru Hosoda – Temas e Inspirações
Começou então por abordar a temática de Wolf Children: ter como narrativa a abordagem das dificuldades da maternidade, dentro do Japão moderno, não é propriamente o típico motor das narrativas de anime.
Foi um tema extremamente desafiador para colocar em animação. As pessoas não abordam este tipo de problemas. Até eu cheguei a pensar que era louco por o fazer. Não é, de todo, um tema normal para um filme que acabou por ser popular.
Acabou por dizer que o filme serviu como uma espécie de forma de ele se desculpar à mãe dele, que faleceu após uma longa hospitalização quando se encontrava a trabalhar em Summer Wars.
Relativamente ao local onde se desenvolve a narrativa de Wolf Children revelou que é o lado rural da vila de Kamiichi, Toyama, que é na verdade a sua terra natal. De modo a prepara-se para o filme da melhor forma, ele e a equipa de animação viajaram até aos locais reais para os estudar.
Levar a minha equipa à minha terra natal foi uma experiência muito estranha. Eles são dos melhores profissionais da indústria e não existe realmente nada para se ver por lá.
Acrescentou ainda que a atriz que interpretou a mãe no filme, também os acompanhou na visita à terra natal, e quando a viu lá sentiu uma estranha ligação entra ela e a mãe dele, “como se elas fossem a mesma pessoa. Foi especial”.
Koreeda, que trabalha exclusivamente em filmes live-action, questionou-o o quão fiel a equipa se mantém relativamente ao que vêem na realidade, quando fazem este tipo de excursões de estudo. Ao que ele respondeu:
Enquanto que fotografias capturam a realidade, os desenhos capturam a impressão que a realidade nos deixou. O que acaba no papel é a nossa perceção de realidade, então acabamos por subtrair os elementos que não captaram a nossa atenção.
Depois disso seguiu-se o segmento de questões do público onde alguém questionou sobre a música presente em Wolf Children (composta por Masakatsu Takagi).
A banda sonora do filme possui uma força enorme porque o Takagi nunca tinha composto música para uma longa-metragem, então deu génese a este resultado original.
Hosoda acabou por requisitar Takagi, de novo, para a banda sonora de Bakemono no Ko (The Boy and the Beast), o que demonstra um grande respeito pelo trabalho do compositor. Depois, quando o foco sobre Wolf Children se alargou para todos os filmes, começaram a abordar as temáticas recorrentes em todos os filmes dele.
Muitos dos meus filmes abordam de uma forma ou de outra a ausência da figura paternal dentro do seio familiar. Isto é retirado da minha própria experiência de vida, uma vez que o meu pai raramente esteve por casa acabando por ter uma presença muito diminuta. Eu acho que a forma como coloco isto nas narrativas tem o seu lado atrativo, quase que dá para sentir a sua existência mesmo não estando lá, como por exemplo em Bakemono no Ko (The Boy and the Beast).
https://www.youtube.com/watch?v=GDcUTvP_3oA
No fim da conversa Hosoda não deixou o público presente, nem os internautas, de mãos a abanar. Aproveitou para lançar uma informação relativa ao seu novo filme:
O primeiro rascunho do guião já foi aprovado, o filme terá como foco uma figura paternal, mas não será sobre o que é ser Pai. Se tudo correr bem o filme irá estrear algures em 2018.
Ansiosos pelo novo projeto de Mamoru Hosoda?
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Fonte: Otaku USA