Pouco tempo antes da estreia da adaptação live-action de Ghost in the Shell, a IGN teve a oportunidade de falar um pouco com Mamoru Oshii sobre o assunto.
Mamoru Oshii – Opinião sobre a Adaptação Live-Action
O casting da Scarlett Johansson provou-se um enorme ponto de controvérsia pelo simples facto da atriz não ser asiática, porém Oshii não partilha do mesmo ponto de vista, nem considera que seja um problema.
Para mim ela é a melhor escolha possível para interpretar a Major. Qual é o problema em ser ela a escolhida? A Major é um cyborg, e todo o aspeto físico dela está ligado a esse elemento. O nome ‘Motoko Kusanagi’ e o corpo físico atual não têm nada em comum com o nome e aspeto originais, portanto não existe qualquer fundamento em afirmar que tem que ser uma atriz asiática a interpretar a personagem. E mesmo que o corpo original dela fosse asiático, não existia nenhum problema em ser a Scarlet a interpretar a Major.
No passado, existiram inúmeros atores que interpretaram personagens de outro grupos étnicos sem qualquer tipo de problema. No cinema o John Wayne pode interpretar Genghis Khan, e o Omar Sharif, um árabe, pode interpretar Doctor Zhivago, um esloveno. São tudo convenções cinematográficas. Se nada disto é permitido, então o Darth Vader provavelmente nem deveria falar inglês. Eu acredito que ter a Scarlett como Mokoto foi a melhor escolha possível para o filme. De todos que se mostraram contra só consigo sentir fundamentos políticos, e acho que a expressão artística deve estar livre deste tipo de questões.
Ghost in the Shell – A Multifacetada Major Motoko Kusanagi
Oshii também não concorda com quem defende que a adaptação deve ser purista em relação ao filme dele, e que o realizador Rupert Sanders esteve livre para tomar liberdades criativas.
Eu não vejo necessidade de o realizador ter que expressar com extrema fidelidade aquilo que existe no material fonte. O realizador deve exercitar a sua liberdade criativa o quanto conseguir. Se ele não o fizer, então qual é o objetivo desta produção?
Claro que existem pontos importantes que têm que ser carregados de um formato para o outro, como essência daquele mundo, a relação do homem com a tecnologia, e o existencialismo.
A adaptação live-action recria a icónica sequência realizada no filme de 1995. Oshii comentou sobre a mesma:
Achei que estava muito bem feita. Mas, por outro lado, fez-me pensar que a animação feita à mão continua a ser muito superior à animação por computação gráfica, no que diz respeito à expressão emocional. Claro que isto poderá vir a mudar, não sei o que o futuro aguarda em termos tecnológicos. É possível que cheguemos a um ponto em que as equipas de computação gráfica tenham a possibilidade de se expressarem emocionalmente de forma superior em relação a nós.
Ghost in the Shell Live Action – Opinião de Beat Takeshi
Depois disto abordou um pouco as diferenças entre o formato live-action e o formato de animação:
O formato live-action faz um trabalho incrivelmente melhor em imergir o público. E depois existe a possibilidade de realizar planos em close-up que permitem capturar as pequenas expressões dos atores, que é algo mais complicado de fazer em animação.
Eu gostava de ver mais trabalhos meus a serem levados para o formato live-action. Como por exemplo Patlabor, se o mudassem para a América, isso seria interessante. Então se o transformassem numa comédia como Ghostbusters, isso seria divertido.
Apesar disto, Oshii diz que o filme que mais gostaria de ver receber o tratamento live-action com um grande orçamento de Hollywood seria o filme “The Sky Crawlers”.
Seria impossível adaptar este filme em live-action com os orçamentos nipónicos.
Por outro lado, o filme que ele escreveu e realizou, Jin-Roh (1999), vai ser adaptado a live-action, na Coreia do Sul.
Acho fascinante que filmes onde eu estive envolvido estejam a ser feitos noutros países por outros realizadores. Estou mesmo ansioso por ver o resultado final. Claro que seria ainda mais divertido se eu pudesse realizar o filme.
Agradecimentos a Alex Osborn (IGN) por ter conduzido e disponibilizado a entrevista.
Fonte: IGN