O projeto Megalo Box surge com a intenção de celebrar os 50 anos do clássico Ashita no Joe. Este está a ser realizado por Yoh Moriyama, que é estreante no cargo, e está a ser produzido nos estúdios TMS Entertainment.
Há muitas formas de celebrar aniversários de séries clássicas e/ou que foram marcantes a certa altura no tempo. Criar um cour de uma série completamente nova, sem qualquer tipo de material de origem, não estará, certamente, entre a lista de celebrações mais comuns. Acho que este é um aspeto que comunica bem a importância de Ashita no Joe, tanto na indústria anime como na indústria manga.
A forma como decidiram festejar a sua existência é algo que os fãs de animação devem aplaudir.
Megalo Box – A Homenagem não é um Erro
Porém, após ver o primeiro episódio de Megalo Box, passei os olhos em alguns fóruns, de modo a ganhar perceção de como a série está a ser recebida. Para minha surpresa deparei-me com comentários indignados com a “suposta” qualidade da série, invés de comentários sobre o produto como um todo.
Bem, escrevo este artigo não com a intenção de vangloriar os muitos aspetos incríveis que esta série tem (talvez faça isso noutro artigo, quando a série terminar), mas sim para esclarecer alguns dos desentendimentos e da desinformação que se está a propagar pela Internet.
O “Erro”
As queixas/justificações que mais li são:
- A forma como o enquadramento, no que diz respeito à dimensão horizontal, se encontra muito curto;
- Está muito desfocado, isto não é alta-definição (HD);
- Foi um problema de transmissão na televisão, no blu-ray vai ser melhor;
- Isto são manobras/atalhos de produção para poupar dinheiro.
O problema não está nas queixas, porque essas, dependendo do gosto de cada um, são completamente válidas. O problema encontra-se no modo como as queixas estão a ser justificadas e na forma como isso se está derramar como A Verdade. E custa-me ver pessoas que gostam genuinamente de animação a acreditar naquelas “especulações”.
Posso já adiantar: o facto de haver um enquadramento “estranho” não é um erro, nem uma forma de poupar orçamento para depois as lutas serem momentos incríveis de sakuga. Tudo que está presente no vosso pequeno ecrã é uma escolha criativa deliberada muito bem fundamentada. Aproveito, também, para informar que estes elementos não irão “melhorar” com o desenvolvimento da série. Não vão. Uma vez que todos estes elementos visuais foram uma escolha intencional, isso manter-se-á consistente de início ao fim.
Claro que, como tudo, haverá gente que irá apreciar e haverá gente que não irá gostar nada. Se estes detalhes foram algo que vos causou impressão no primeiro episódio e não vos deixou apreciar o que estavam a ver, então acho que não precisam de ver mais.
A Homenagem!
Mas, vamos lá ao que realmente interessa. Felizmente, e nem a propósito, uma conversa que o realizador de Megalo Box, Yoh Moriyama, teve com o atual realizador de Space Battleship Yamato 2202, Nobuyoshi Habara, para o site V-Storage, consegue-nos clarificar tudo e mais alguma coisa acerca do assunto.
Se fizerem um pouco de investigação sobre a equipa núcleo que se encontra a trabalhar nesta série, irão concluir que parece, e talvez seja, escolhida a dedo. Mas vou focar-me só e apenas no Yoh Moriyama-sensei, pois foi ele que trouxe para a mesa todos os elementos que geraram tanta controvérsia.
Passem os olhos na ficha técnica dele, pelo menos aquela que se encontra disponível, e podem ver que tem um background que lhe deu muita experiência a nível de composição visual. Além disso, também vão verificar que esteve envolvido em muitos projetos que decalcaram não só o gosto pelo visual pré-era digital, mas também, e principalmente, pela animação tradicional executada em cel. Gosto este que, tal como ele afirma na entrevista, já possuía antes de entrar na indústria.
Na entrevista ele diz o seguinte:
No que diz respeito à escolha de utilizar uma linha firme, grosseira e pintada à mão, esta foi feita já quando estávamos no processo de filmagem. Se correr como espero, acho que vai ficar um tom muito semelhante ao que existe nas imagens criadas pela animação em cel. Quando imaginei este projeto a ser transmitido na televisão não o conseguia ver com aquela imagem atual super limpa.
Eu quando entrei na indústria anime ainda se usava animação em cel, então eu adoro esse estilo. Daí a linha de desenho ter sido levada para o passado. Tínhamos pensado em colocar apenas aquele “grão” na imagem, mas isso além de não ser suficiente não é agradável para os olhos, então decidi encurtar o enquadramento a partir da imagem normal que já tinha criado, e depois repetir o processo e voltar a expandir, adicionando-lhe, no fim, um toque mais cinematográfico.
Como podem ver, foi tudo bastante trabalhado, pensado e intencional. Ele, após ter concluído a imagem final, deu-se ao trabalho de a colocar numa proporção de 4:3, dar-lhe um look de Definição Padrão (Standard Definition) [SD] e voltar a expandir (upscale) para 16:9, dando origem ao “estranho” 16:9 SD que temos no resultado final.
Pessoalmente, e como apreciador do old look pré-era digital, gosto muito do resultado final. Para mim tem um duplo impacto nostálgico, não só por me fazer lembrar a animação em cel, da qual tenho muitas saudades, mas também por me reavivar memórias de quando comecei a ver anime e ainda era tudo transmitido em 4:3. O que levou à existência de versões upscalled para se ver em 16:9.
Não acho que seja o único a sentir estas nostalgias ao observar as escolhas visuais feitas para Megalo Box. Dou valor, aprecio e agradeço. Como disse em cima, é debatível se gostam ou não, mas, considerando o que este título representa, parece-me pouco debatível se foi, ou não, uma boa escolha.
Claro que fico com alguma pena que este tenha sido o processo utilizado para lhe dar este aspeto. Apesar de trabalhoso é provavelmente o processo mais simples para atingir algo assim com o tempo que têm disponível. Fico com pena porque é impressionante a quantidade de detalhe que eles têm nos cenários e está, ou a ser cortado quando mexem nas proporções ou é invisível devido a muita coisa estar desfocada.
Contudo, muito em breve, teremos acesso a keyframes e layouts que nos permitem ver todo o trabalho que aqui foi alocado e que de momento não é visível, portanto não é completamente perdido.
O que acham desta decisão e do resultado final?
Agradecimentos especiais ao
do site sakugabooru, por me deixar utilizar o artigo dele como referência e por me ter indicado a entrevista do V-Storage como informação adicional.
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