Inspirado nos vídeos musicais da franquia Vocaloid, Kagerou Project de Jin (Shizen no Teki-P), Mekakucity Actors surgiu na lista de produções da temporada de primavera de 2014. Sobre alçada do conceituado estúdio Shaft (Puella Magi Madoka Magica, Monogatari, Nisekoi) e do diretor Akiyuki Shinbo, o pioneiro projeto começa a ganhar forma. Desejada à demasiado tempo, foi recebida de braços abertos por um público já fiel à obra de Jin.
Mekakucity Actors | A História
A história é baseada numa colectânea de músicas que em conjunto contam uma complexa narrativa cheia de magia, desilusão, tragédia e romance. Na versão animada, a obra inicia-se com Shintaro Kisaragi, um NEET – pessoa que se tranca a si própria por um longo período de tempo, no seu caso, 2 anos – que vive com a sua mãe e irmã uma vida pacata e sem grandes preocupações. Até que um dia, por ironia do destino, o seu computador é literalmente ocupado por uma cyber-rapariga de cabelo azul chamada Ene. O que parecia ser apenas um vírus demonstrou ser mesmo real. A rapariga existia, não desaparecia, e passou a controlar toda a sua vida e dia à dia, inclusive fazê-lo sair de casa. No dia 15 de agosto, Shintaro sai pela primeira vez à rua após dois anos de clausura, para se dirigir a uma loja de eletrónica.
Mekakucity Actors | Enredo
A complexidade da obra e as suas sucessivas divisões foi algo muito contestado. Mekakucity Actors é dividida em duas histórias ditas “principais” e flash’s passados em forma de extra-créditos. Relativamente às duas linhas narrativas principais, temos a primordial, que segue a premissa fulcral: a história desenrola-se no presente e todos os acontecimentos desenvolvem-se na primeira pessoa. A segunda é narrada por Azami, uma medusa desprezada e perseguida pelos seres humanos.
Os minutos dedicados à vida de Azami parecem pequenos face à extensão de acontecimentos e importância da medusa, sendo que a partir desta se desencadeará a base de toda a premissa: a criação de um novo mundo, Heat Haze. A cobra, símbolo da traição, engano e sedução corrompe a doce medusa com promessas de felicidade eterna. Azami teria que se unir à cobra e criar um novo mundo onde o tempo não passasse, onde só existisse o presente.
E assim se inicia a primeira linha narrativa da obra.
O enredo principal começa a tomar forma com a iniciativa de Shintaro. No dia fatídico de 15 de agosto, uma sucessão de acontecimentos em cadeia mudam completamente a vida do jovem rapaz, outra vez. A obra é construída por meio de sucessivas analepses e prolepses, despoletadas, numa primeira instância, por Shintaro. Após uma discussão com Ene acaba por derramar sumo no teclado. Incapaz de viver sem o computador é obrigado a sair de casa e abandonar o seu regime de isolamento. A sua vida de NEET acaba por se tornar numa mera miragem face aos acontecimentos que se seguiram: a loja de electrónica acaba por ser assaltada, envolve-se com estranhas personagens e, no final, um grupo de jovens com peculiares olhos vermelhos ditam o final da cena e início da narrativa.
A justificação de todos os estranhos acontecimentos do primeiro episódio surgem nos seguintes, em simultâneo com a apresentação das personagens. Os acontecimentos estão interligados? Sim e não será a resposta mais correta.
As diretrizes da obra ainda são uma incógnita. Se consideramos a cena do assalto confusa, os restantes episódios são um conjunto de frames desconetados e confusos. Cada episódio surge como uma introdução a uma personagem, a um membro ou futuro membro dos Mekakushi Dan. Este grupo é o centro e causa de todos os acontecimentos. Cada elemento possuiu uma habilidade ocular paranormal, que surgiu a partir de determinado momento na sua vida à custa de algo precioso para os mesmos. O que está verdadeiramente por trás de todo esse poder é progressivamente desvendado ao longo dos 12 episódios.
Os sete membros são progressivamente apresentados, de forma mais ou menos direta. Os membros iniciais são três irmãos órfãos e uma tímida menina de cabelos brancos. Grande parte da história gira em torno de Shintaro Kisaragi. A passividade e falta de interesse com que encara o mundo não o protegem contra toda a panóplia de situações que acontecem à sua volta. Vários são os elementos mistério à volta do passado esquecido do mesmo: uma estranha rapariga de cachecol vermelho é tudo o que lhe resta da sua vida antes de se fechar. A distração provida por esta personagem ofusca-nos para os reais interesses da produção, personagens como Marry Kozakura são deixadas para um segundo plano propositado, que lentamente nos embriaga num conto cheio de artimanhas, mistérios, mortes e mundos paralelos, onde cada pormenor, cada imagem, cada relógio conta para entender o real significado de tudo.
Mekakucity Actors | Ambiente
A excelência da animação japonesa anda de braços dados com o que pior a animação em 2D pode oferecer. Uma obra cheia de contrastes do início ao fim, divide o público entre o deslumbramento e a desilusão. Em primeiro lugar, a animação e a qualidade do desenho é preguiçosa face aos padrões atuais. Inúmeras são as produções onde contemplamos fluidez na animação aliada a um traço preciso, rico e pormenorizado. Nesta obra não é o caso. Parece que o prestigiado estúdio Shaft deixou-a um pouco de lado comparativamente às suas outras produções da temporada de primavera, como Nisekoi e Hanamonogatari.
O design das personagens é, com certeza, do que de melhor existe na atualidade. A indumentária é original, pensada ao pormenor e adaptada a cada personagem, passando pelos traços precisos e criações prodigiosas dos dez protagonistas. Fãs da indústria Vocaloid em nada ficam surpreendidos com a magnificência da produção nesse aspeto. Afinal é o mínimo que podem fazer para manter o nível da franquia próximo à obra original. Em contrapartida, os cenários variam entre deslumbrantes frames com contrastes de cores e traços precisos, e cenários desajeitadamente compostos e fundos simples demais. Tudo o que foge do plano principal é desenhado por segundos ilustradores sem o cuidado e rigor necessários numa obra de animação.
A pobreza da animação não passa despercebida por nenhum telespetador, que apesar de vagamente saciado com maravilhosas cenas que completam a teia da obra original (com um desenvolvimento progressivo e todas as situações de side-story), este vê-se perdido com sucessivas paragens de cenas, falta de fluidez e inclusive saltos narrativos. A desenvoltura de toda a animação fica largamente aquém do esperado, com paragens significativas entre frames, lentidão na ação ou movimentos não desenvolvidos das personagens. Vemos, por exemplo, uma personagem a falar e a imagem de outra personagem parada no ecrã. Imagem muito bonita, está claro, mas sem qualquer sentido em termos de animação.
A narrativa secundária é significativamente diferente da principal, sobretudo no ambiente teatral que nos transporta para um teatro de sombras com floreados simples, mas nem por isso menos belos, a rodear o cenário principal. Todas as personagens surgem sem rosto e de base negra, acentuando o efeito entre teatro de sombras e marionetas coloridas. Também na narrativa de Azami os picos de qualidade fazem-se presentes. Vemos traços artísticos originais, onde o efeito de cores e luminosidade varia entre o mais negro dos tons ao mais claro e luminoso tom, que nos remonta ao estado de espírito da protagonista. No entanto, vemos por vezes quebras de qualidade e uma mudança brusca de cenário nos episódios finais.
Quanto à banda sonora de Mekakucity Actors, não podia faltar o reportório de Jin. A maioria dos episódios são baseados num vídeo do autor. Como tal, em cada cena fulcral do referido episódio é introduzida, como plano de fundo, a música que lhe serviu de base. A restante banda sonora variou desde doces faixas de música clássica, sons fortes e bem colocados e muita música Vocaloid. É de realçar as qualidades do opening e ending. Música e design ligados de forma perfeita transmitem um verdadeiro espetáculo de cores e magia.
Mekakucity Actors | Juízo Final
Uma desilusão para uns, uma obra prima para outros. Mekakucity Actors divide opiniões desde a confirmação da sua produção. O enredo não há dúvidas que é complexo e intrigante, suscita curiosidade e é absolutamente impossível ficar indiferente. Apesar do final ser uma cambalhota de acontecimentos sem qualquer tipo de justificação e razão aparente, a restante narrativa possuiu uma qualidade acima da média o que poderá ser um ponto determinante para o: ver ou não ver o anime. Os aspetos técnicos poderão irritar a maioria, afinal num curto espaço de tempo vamos do melhor ao pior, o que para os mais exigentes é insuportável e inadmissível.
Em suma, tudo depende do que quiserem ou não retirar da obra: se quiserem assistir a algo bom, que exija atenção meticulosa e raciocínio, mas sem grandes expetativas nem exigências técnicas, asseguro-vos que não se vão arrepender. Contudo, se estiverem à espera de uma obra que faça jus ao projeto em que se baseou, ou que pelo menos mantenha o nível que a Shaft nos habituou, tal não vai acontecer.
Análises
Mekakucity Actors
A tão aguardada adaptação da obra de Jin tornou-se numa das mais criticadas e adoradas da Shaft.
Os Pros
- Character Design;
- Ambiente.
Os Contras
- Falta de coesão narrativa.