Esta produção de demografia shounen, preencheu a temporada de primavera de 2004 com a sua doçura e romance. Produzida pelo grande Estúdio Pierrot, tentou marcar pela diferença num ano repleto de emblemáticas animações.
Midori no Hibi | A História
Cabelo amarelo, cara de rufia e uma aptidão fora do normal para luta corpo a corpo, Seiji Sawamura era, aparentemente, o estereótipo de qualquer delinquente. Contudo, os verdadeiros desejos do jovem de 17 anos não envolviam gangs e guerrilhas entre escolas, na verdade eram bem mais simples: arranjar uma namorada. O seu drama pessoal com o sexo oposto é assombrado pela sua reputação e constantes confusões em que acaba por se envolver. Incapaz de arranjar uma namorada, após 20 tentativas encontra-se desesperado, ninguém se atreve a aproximar da “mão direita do diabo“. Até que o inesperado acontece, e a sua diabólica mão direita é substituída por uma doce e pequena menina, de nome Midori.
Midori no Hibi | Enredo
A premissa apesar de original é no mínimo arriscada, mesmo no universo de animação nipónica. Romances associados ao fantástico, pouco fogem às diretrizes habituais empregadas para cativar a atenção de um público, que por norma se encontra associado a este género narrativo. Assim sendo, o que se pode esperar de uma obra que em tudo foge aos estereótipos do romance fantasioso e do amor impossível? Pouco ou nada pode cativar, à partida, um jovem com uma menina como sua mão direita. Todavia, desde logo se prova algo engenhoso e encantador, em que a essência está longe de ser a fantasia inerente à condição da Midori.
A progressão pouco usual neste tipo de enredo, acaba por surpreender todos. As reticências consequentes da fantasia base do enredo, desvanecem-se perante uma conduta narrativa pouco regular em que, quer as reações quer os desenvolvimentos, são bastante reais. Em suma, somos confrontados com personagens efetivamente preocupadas em reverter a situação e conseguir conviver com os impedimentos resultantes desta união bizarra.
Os problemas diários como: roupa para a Midori, ou como fazer necessidades fisiológicas com uma mão ocupada por uma rapariga, surgem no decorrer da narrativa. Os elementos ligados à progressiva adaptação dos protagonistas à situação, embarga-nos na caricata história, obrigando o espectador a pensar no próximo passo e nas diferentes formas de resolver os problemas quotidianos, ao mesmo tempo que presenciamos a evolução da relação entre os dois jovens.
A comédia inerente ao género é enriquecida pelo carisma das personagens e pela evolução constante das relações entre as mesmas. A construção conseguida em apenas treze episódios é quase que surreal, reproduzindo o crescimento pessoal de cada personagem, seja protagonista ou não. O número reduzido de personagens com certeza ajudou para o feito. O foco é localizado entre os Midori, Seiji, Takako e Rin, sendo que as outras personagens servem apenas como orientadores da ação, usados para evidenciar uma ideia ou um problema decorrente da condição dos protagonistas.
Ao contrário dos Shonen românticos atuais, onde vemos compulsivamente um protagonista rodeado por uma série de pretendentes de cada estereotipo feminino, aqui tanto Seiji como Midori assumem uma personalidade vincada, mas susceptível a crescimento e modificação, longe das personagens tipo habituais.
Quando ao fanservice, é mascarado entre as situações casuais do dia-a-dia. Uma vez que temos dois adolescentes literalmente ligados, é impossível evitar as situações de embaraço aquando momentos de higiene pessoal ou complicações comuns na vida de jovens adolescentes, ou seja, é realmente frequente vermos as peito da pequena e atrapalhada Midori.
Em suma, o objetivo fulcral da obra é promovido com excelência, por entre gargalhadas e momentos de extrema emoção, somos embrenhados numa narrativa onde nada é o que parece de um ponto de vista objetivo, e as relações são exploradas desde a base, fazendo-nos pensar no verdadeiro significado de “ser-se a mão direita” de alguém.
Midori no Hibi | Ambiente
Primeiro de tudo, temos que estar conscientes de que se trata de uma obra com 10 anos de existência, ou seja, “antiga” por assim dizer, numa era onde a inovação tecnológica e de animação progridem de forma galopante. Como tal, não podemos esperar uma qualidade e fluídez de ação como as que estamos habituados. No entanto, é de realçar que não irão assistir a algo “mau”, muito pelo contrário, o desenho é de uma excelência e qualidade de design que, para o ano em questão, podemos considerar uma obra de arte de animação.
O ano de 2004 foi uma verdadeira inspiração para as obras futuras, prova disso são obras atuais como Nikesoi, em que as semelhanças são indiscutíveis: desde a essência dos olhos, as faces rosadas, o design do cabelo e o uso recorrente e alternado entre tons de cores, onde o esbatido e o garrido são jogados com primazia.
A qualidade técnica da obra, infelizmente, veio a se deteriorar ao longo da narrativa. Facilmente deduzimos que as audiências não terão sido suficientes para suprimir as desprezas e cobrir novos encargos técnicos. É realmente triste vermos uma obra inovadora e desta qualidade ser progressivamente aniquilada.
No início somos contemplados com uma fluidez, e rigor absurdos, prova viva de uma época onde a animação estava a afirmar-se mundialmente, a evolução multimédia estava no seu pico, e com certeza os estúdios envolvidos souberam usar isso muito bem. A riqueza de frames interativos, onde os “Inner” das personagens são retratados e os seus desejos expostos, é sem dúvida uma das maravilhas desta produção. Outro ponto forte da animação são os jogos de cores dos cenários, onde as paisagens são usadas como uma tela descritiva dos sentimentos e emoções dos protagonistas, impulsionando e guiando a narrativa.
O rigor anatómico e o pormenor com que todas as situações são evidenciadas tornam o surrealismo e fantasia da obra, em algo passível de acontecer.
A banda sonora é mediana, sem fugir aos habituais sons interativos e dramáticos, o opening e ending, apesar de bons não conseguem ser apelativos o suficiente para expor a essência latente por entre a fantasia e comédia expostas à primeira vista.
Midori no Hibi | Juízo Final
Agarrados à nostalgia de um passado onde a animação girava à volta de uma base narrativa forte e surpreendente, e onde os aspetos técnicos eram um simples complemento e forma de expor o trabalho do autor, Midori no Hibi, surge nas recomendações do ptAnime como uma animação a não perder. Apesar de ter sido deixada de lado e subvalorizada, aquando a sua estreia, continua a ser aclamada pelos poucos que tiveram a coragem e curiosidade suficientes para se aventurarem nesta obra mágica.
Envolvente e apaixonante, é uma leve e simples história que através de pequenos momentos e grandes conquistas, prende-nos ao ecrã. Não esperem por algo muito complexo, cheio de intrigas ou triângulos amorosos, Midori no Hibi é uma procura incessante sobre o verdadeiro significado de partilha e amizade incondicionais, promovidas por uma situação inusitada e surpreendente.
Se tal como eu, vivem embriagados num saudosismo romântico, onde a narrativa e a qualidade na construção das teias cénicas estão como prioridade, aconselho vivamente esta obra. Por outro lado, se desejarem algo moderno, com qualidade gráfica e rigor surpreendentes, dignos das últimas inovações 2D e 3D, bem como romances complexos e cheios de artimanhas, esta não será de todo, a vossa primeira opção.
Análises
Midori no Hibi
A temporada de primavera de 2004 foi preenchida com a sua doçura e romance de Midori no Hibi. Um shounen romântico do Studio Pierrot.
Os Pros
- Enredo.
Os Contras
- Animação.