De forma a dar continuidade à apresentação dos filmes de Hayao Miyazaki no ptAnime, hoje é a vez de O Castelo Andante receber uma análise da nossa parte. Baseado no livro de Diana Wynne Jones, esta obra conta-nos uma história de amor deveras original em tempos de guerra entre nações.
O Castelo Andante – A História
Sophie Hatter é uma jovem rapariga que trabalha na loja de chapéus da sua família. Certo dia, quando passeava pelas ruas da cidade, dois guardas reais aproveitaram o facto de estarem a sós com Sophie para a cortejar. Desconfortável com aquela situação, mas sem a capacidade de a contornar, a rapariga acaba por ser salva por Howl, um famoso feiticeiro conhecido na região por roubar os corações das mulheres mais belas.
Ao tomar conhecimento desta aventura de Howl e Sophie, a “Bruxa do Desperdício” (Witch of the Waste), eterna apaixonada por Howl, vai ir ao encontro da jovem fabricante de chapéus para lhe lançar uma poderosa maldição. Um feitiço terrível que vai envelhecer Sophie até aos 90 anos de idade aproximadamente.
Incapaz de confrontar a família com a sua situação, até porque a maldição não permite a Sophie contar o que lhe aconteceu, esta personagem vai afastar-se de casa e iniciar uma jornada pelas montanhas da região, quem sabe com o intuito de encontrar algo que a possa ajudar. Se era ou não esse o seu objetivo inicial, a verdade é que será por lá que Sophie vai conhecer um estranho espantalho, ao qual vai dar o nome de “Cabeça de Nabo” (Turnip-Head). Determinado em retribuir o favor àquela que o libertou de uns arbustos onde tinha ficado preso, o espantalho vai conduzir Sophie até ao Castelo Andante, um local móvel, como o nome indica, cujo proprietário é nada mais nada menos que o próprio Howl.
Uma vez dentro daquele edifício/transporte bastante peculiar, a recém idosa vai conhecer novas personagens, como é o caso de Calcifer e Markl, e voltar a contactar com Howl, ficando a par daquilo que se passa na vida do jovem e das dádivas e das maldições que este possui. Com a junção de Sophie a este grupo bastante estranho, aventuras e peripécias memoráveis é o que não vão faltar em “O Castelo Andante”.
O Castelo Andante – Ambiente e Enredo
Ao contrário do que se passa em “My Neighbor Totoro“, o O Castelo Andante apresenta um enredo complexo e explora essencialmente o tema do amor de uma forma demasiado profunda para podermos dizer que estamos perante uma obra própria para crianças. Isto em termos de conteúdo, já que a nível de efeitos e de animações, pequenos e graúdos vão adorar. As transformações de Howl, o interior do castelo, as avionetas e os soldados especiais de Madam Suliman elaborados de forma peculiar, enfim, um conjunto de situações que só vêm comprovar o grande talento deste realizador no espaço da criatividade e da imaginação.
Voltando ao tema, o amor demonstrado por Howl e Sophie é de facto único. Ambos (e não apenas!) foram alvos de terríveis maldições e, no entanto, os dois nunca vão deixar de lutar por estarem próximos um do outro por maiores que sejam as adversidades. Na verdade, a obra é repleta de outras grandes atitudes e valores como o perdão, a compreensão e a união, todos eles presentes nas personagens que constituem um dos “círculos de amigos” mais estranhos que eu já vi. Quem sabe também não seja esta uma outra lição. Aprender-mos a respeitar os outros independentemente do seu aspeto físico e dos seus comportamentos estranhos, algo que é sempre complicado de metermos na cabeça. Este é apenas um mero exemplo da riqueza que O Castelo Andante ostenta.
Mais do que isto é difícil dizer, porque o O Castelo Andante é mesmo daquelas produções em que, olhando as circunstâncias fora do comum que abalam os protagonistas e à magnitude de sentimentos e emoções expressas ao longo do filme, passar cá para fora aquilo que se viu é deveras complicado. É daqueles casos em que se nos perguntam: “Viste? Gostaste?” rapidamente acenamos com a cabeça, mas levamos uma eternidade a explicar porquê, já que dias depois de o vermos ainda andamos a compreender certas cenas. Basicamente, um filme que tem muito que se lhe diga.
O Castelo Andante – As Personagens
Howl, Sophie, Bruxa do Desperdício, Calcifer, Markl e Cabeça de Nabo. São estas as personagens que vão constar nesta fase do artigo e que formam o tal “circulo de amigos” exageradamente estranho presente em “O Castelo Andante”.
Como já referi, Howl é um feiticeiro famoso por roubar os corações das mulheres mais belas. Curiosamente nunca vamos ver isso a acontecer. O que vamos presenciar é este jovem mago a dar uso ao seu talento mágico para reduzir os danos e as graves consequências da guerra. Mas não só! Também noutros assuntos Howl deixará a sua marca.
Relativamente a Sophie, esta destaca-se acima de tudo pela sua determinação e otimismo em situações complicadas, como acontece na altura em que esta é amaldiçoada. Levar com mais 60 ou 70 anos em cima de um momento para o outro e ainda ser capaz de dizer que assim as suas roupas lhe assentam melhor e que pelo menos conseguiu preservar os dentes não é para qualquer pessoa.
Quanto ao Cabeça de Nabo, o mesmo não fala já que é um espantalho, mas também não precisa de tal para ajudar a sua salvadora (Sophie) naquilo que ela mais precisar. Como várias vão ser as peripécias da rapariga dentro e fora do Castelo, esta personagem vai estar sempre lá por perto para contribuir com o que puder naquilo que for preciso.
Restam então Calcifer, Markl e a Witch of the Waste. Os dois primeiros são os habitantes do Castelo e vão ser a grande companhia de Sophie quando esta lá chegar. Calcifer é um demónio que tem a responsabilidade de fazer mover o Castelo. Desde já saliento que este apresenta-se em forma de fogo, e que a animação aplicada às suas falas e movimentações no ambiente que o rodeia estão simplesmente soberbas.
Já Markl é uma criança órfã que Howl recebeu no seu Castelo. Apesar de novo é ele que, de forma disfarçada, atende os clientes que batem à porta daquele edifício móvel para tratar de assuntos importantes com Howl.
Finalmente, a Bruxa do Desperdício é alguém que vai sofrer uma transformação física e psicológica acentuada ao longo da história, mas conseguindo sempre manter um nível de importância bastante elevado para o enredo.
O Castelo Andante – Juízo Final
Depois de tudo o que aqui foi dito sobre O Castelo Andante, escusado será dizer que devem ver o filme e recomendá-lo aos vossos amigos e familiares, pois este é um grande exemplo de como o Anime é muito mais do que desenhos animados para crianças.
Como também dei a entender, esta foi sem dúvida das análises mais complicadas de elaborar que tive, pela dificuldade de passar para aqui, não a essência, mas a verdadeira profundidade desta longa-metragem. Um aspeto que demonstra bem a qualidade sentimental e racional deste filme que, para além de conseguir penetrar nos nossos sentimentos e emoções com as cenas que apresenta, tem ainda a capacidade de nos deixar a refletir sobre os temas apresentados e a compará-los com a realidade.
Para terminar, quero partilhar o seguinte convosco. Tenho a sensação de que quem vê filmes de Hayao Miyazaki rapidamente se torna um fã incondicional deste senhor e, portanto, aqueles que nunca lhe deram uma oportunidade podem já hoje fazê-lo com O Castelo Andante. Se esta minha teoria está certa ou errada, isso já é algo que vocês, caros leitores do ptAnime, vão ter de me dizer depois de verem o filme ou outra obra deste realizador japonês. Fico então à espera de poder descobrir se estou certo ou errado. Conto convosco!
O Castelo Andante – Trailer
Análises
Análise de O Castelo Andante
O Castelo Andante revela uma enorme capacidade para atingir os nossos sentimentos e emoções com as cenas que apresenta. Um filme capaz de nos deixar a refletir sobre os temas abordados, durante dias a fio. Mexe com qualquer um!
Os Pros
- O enredo: que agarra a atenção dos mais novos pela combinação inusitada de personagens que o constituem; que agarra os mais velhos pelas atitudes e valores que se fazem representar das mais diversas maneiras;
- A banda sonora.
- A arte.
- A animação.
Os Contras
- Nada a apontar.