Com mais de 470 anos, a relação entre Portugal e o Japão deixou desde cedo marcas em ambas as sociedades, que permanecem até hoje. Esta troca de influências passa muitas vezes despercebida, mas tiveram um papel importante no desenvolvimento dos dois países.
Tudo começa em 1543, com a chegada dos primeiros portugueses a Tanegashima, no sul do Japão, em plena Era dos Descobrimentos. Eram eles três navegadores – António da Mota, António Peixoto e Francisco Zeimoto – que, estando aportados no Sião, terão navegado um junco com destino à China. Este desviou-se da sua rota original devido a uma tempestade, e assim se deu este encontro fatídico. Antes desta data, no Ocidente a existência do Japão era bastante desconhecida, estando limitada a uma referência de Marco Polo nas suas Viagens como “Cipango”. Rapidamente terão vindo outras levas de navegadores ao Japão, incluindo Fernão Mendes Pinto, autor da famosa obra A Peregrinação.
A veia empreendedora dos portugueses depressa os fez ocupar um vazio importante nas trocas comerciais daquela zona da Ásia – atuavam como intermediário no comércio da prata japonesa pela seda chinesa. Estando o Japão e a China com uma relação conturbada, e necessitando urgentemente dos produtos da outra parte, o papel dos portugueses como “pombo-correio”, via a famosa Nau do Trato, foi uma mais-valia para as três nações. Esta passa a fundear-se em Macau a partir de 1557, de onde partia para fazer comércio para outras partes da Ásia Oriental. A Nau tinha não só esta vertente de negócios, como também uma função de combate à pirataria. Sendo os navios ocidentais muito mais avançados e possantes relativamente às pequenas embarcações asiáticas, esta superioridade tecnológica e militar era tida como uma benesse em territórios asiáticos, aos quais conferia proteção.
Gradualmente, começaram a chegar outros europeus ao território nipónico, e ganharam o nome de Nanbanjin 南蛮人, “bárbaros do sul”. Estes traziam consigo não só grandes inovações tecnológicas, como a espingarda ou a cadeira, como também conhecimento de ciências europeias (medicina, matemática, geografia) e ainda outros aspetos da cultura europeia, desde a música ao vestuário. Por outro lado, os nanbanjin ficaram fascinados com a educação e disciplina dos japoneses, e em particular com a importância que o sentido de honra tem na sociedade nipónica.
E assim começa a presença portuguesa no Japão, que viria a durar durante cerca de um século. A troca de influências entre estas culturas alargou-se a outros campos da sociedade, que vão ser analisados em mais detalhe em artigos futuros. Por isso, não percam!