Karigurashi no Arrietty (“O Mundo Secreto de Arrietty”) é um dos poucos filmes do Studio Ghibli que não foi dirigido pelo mediático Hayao Miyazaki. Da autoria de Hiromasa Yonebayashi, este projeto inspirado no livro “The Borrowers” de Mary Norton não fugiu das linhas que têm demarcado este estúdio de todos os outros.
A história
Quando nos sentimos pequeninos, a nossa perspetiva sobre o mundo muda por completo. No caso de Arrietty e dos seus pais, esta é a sua realidade. Chamemos-lhes “pequenos humanos”.
Há vários anos que este trio se instalou nos cantos mais profundos e inacessíveis de uma casa habitada pela nossa espécie de tamanho maior. Estes “pequenos humanos” são os principais responsáveis pelo desaparecimento de coisas tão insignificantes como um mero grão de açúcar.
Acomodados e conhecedores do local que os protege há tanto tempo, tudo muda para Arrietty e companhia com a chegada de uma nova presença humana à residência. Shou é o novo inquilino, e potencialmente um novo perigo.
Como se isto não fosse preocupação suficiente, os 14 anos de vida de Arrietty começam também a ser dominados pelo seu espírito de aventura e irreverência, deixando-a altamente entusiasmada para assaltar a cozinha dos “humanos gigantes” em busca de mais mantimentos para “os pequeninos”.
Durante uma dessas jornadas, onde nem tudo corre como planeado, tem início uma amizade inesperada entre Arrietty e Shou. Um cruzamento entre as duas espécies humanas que entre algumas peripécias revela-se agradável e inspiradora para o espectador.
Um enredo simples mas cativante
“O Mundo Secreto de Arrietty” faz uso da simplicidade para despoletar uma ponta de fascínio capaz de atrair miúdos e graúdos. Num enredo pautado pela ausência de grandes acontecimentos ou de momentos inesperados, o filme torna-se especialmente agradável pela intensidade e curiosidade depositadas no dia a dia dos “pequenos humanos”, com foco especial em Arrietty e nas suas demandas pelo mundo dos “humanos gigantes”. Aventuras essas que têm a casa que esconde a habitação minúscula da família de Arriety como cenário, ou então o seu terreno.
A produção desperta curiosidade pela arte e astúcia desenvolvida pelos pequeninos com vista a resgatarem dos gigantes os mantimentos que aos olhos de uns passam quase despercebidos e para os outros são sinónimo de perigo e sobrevivência em duas fases adjacentes.
A relação entre humanos pequenos e gigantes
A amizade que nasce entre Shou e Arrietty é o outro ponto de destaque da produção. Uma ligação pacífica que não é de todo uma surpresa, tendo em conta que ambas as personagens ainda vivem dominadas pelo seu estado mais puro.
Por outras palavras, a inocência e a irreverência da juventude torna possível este contacto que se sobressai pelo confronto de ideias e realidades. Grande parte dos diálogos que envolvem Shou e Arrietty são únicos por só fazerem sentido naquelas condições. Ou seja, um pequenino de um lado e um gigante do outro. Esta impossibilidade para o espectador aguça-lhe a curiosidade e o interesse no filme.
Arte visual e animação
Dominada pela simplicidade dos acontecimentos, a história encontra o seu maior aliado na componente da arte visual e animação. O nível de detalhe dos desenhos, os jogos de cores aplicados, os cenários meticulosamente construídos e as animações leves e fluídas conferem a Kagurashi no Arrietty uma outra vida. O espectador facilmente se deixa levar por estas componentes decorativas que nos filmes Ghibli deixam de ser meros “pormenores”.
Banda sonora
Se Hiromasa Yonebayashi tomou o lugar de Hayao Miyazaki enquanto principal responsável por este filme Ghibli, algo de semelhante se passou com a banda sonora. Cécile Corbel tomou o lugar do fantástico Joe Hisaishi, mas o resultado não deixou de ser de grande nível.
Em paralelo com a parte visual, também a música desempenha um papel fundamental nesta longa-metragem, quanto mais não seja na sua afirmação como projeto de qualidade.
Conclusão
O Mundo Secreto de Arrietty (em inglês: “The Secret Worlf of Arrietty“) está longe de ser um filme profundo ou capaz de deslumbrar pelos acontecimentos que se sucedem e colocam a trama em movimento.
O fascínio reside na combinação de nos deixarmos absorver pelos ambientes magníficos da obra, ao mesmo tempo que se intensifica a nossa curiosidade sobre a vida dos “pequenos humanos”. Eles são humanos como nós, pelo que as várias semelhanças estabelecem automaticamente uma relação de proximidade. Fica assim difícil a qualquer tipo de espectador passar indiferente a esta receita do estúdio nipónico, baseada na obra de 1952 de Mary Norton.
Mais a mais, as dificuldades que os “pequenos humanos” enfrentam não são de todo algo que nos passe ao lado. A imagem de um simples carreiro de formigas que por vezes invade as cozinhas numa tarefa coletiva árdua e arriscada pela procura desesperada de mantimentos será uma comparação ajustada a estes pequeninos. Uma visão que nos mostra o quanto podemos ser insignificantes neste mundo e que não somos o centro de todas as atenções como tantas vezes imaginamos.
Por último, de referir que este trabalho de Hiromasa Yonebayashi manteve-se dentro dos padrões a que o estúdio nos habituou, embora fique perto de uma das extremidades. Naquela que poderá ser considerada uma escala Ghibli respeitante à complexidade da mensagem que o autor pretende passar, esta produção aproxima-se bastante da extremidade onde se encontram obras como “Tonari no Totoro”. O mesmo será dizer que se afasta do outro lado, no qual marca presença, por exemplo, “Princesa Mononoke“.
O Mundo Secreto de Arrietty – Trailer
Análises
O Mundo Secreto de Arrietty
Mais um filme do Studio Ghibli que não vive de um enredo extraordinário, mas do ambiente mágico e cativante que os seus responsáveis conseguiram imputar a uma história simples e detentora de uma realidade no mínimo curiosa.
Os Pros
- A produção visual
- A animação
- A banda sonora
Os Contras
- Nada a registar