One Piece Capítulo 844 – “Sanji vs Luffy”
Embora não tenha sido consensual (por parte dos leitores de One Piece), ou até evidente, tínhamos consciência que o comportamento de Nami seria um factor determinante na qualidade deste capítulo. É um pormenor que passa completamente ao lado numa primeira leitura, pois o capítulo está estruturado para nos dar um forte impacto emocional entregue numa estrutura aparentemente reciclada de acontecimento anteriores: Nami em Arlong Park e Robin em Ennis Lobby.
Como uma das personagens mais inteligentes de One Piece era esperada uma reação mais perspicaz, algo que mostrasse a forma como ela conseguiu interpretar a situação de Sanji, e a forma como a poderia contornar. Em vez disso obtivemos uma reação puramente emocional, e que retrata uma ligeira hipocrisia uma vez que ela, melhor que ninguém, tem a experiência necessária para se colocar nos pés dele.
No entanto, e apesar de tudo isto, acho que é importante refletir se será só isso… será que estamos realmente perante um esgotamento de ideias de Oda ou até, por outro lado, um esquecimento de que já tinha ido por este caminho? Será que Nami não percebeu realmente nada ou será que Oda se esqueceu do passado dela?
Abandonando todos estes possíveis lados negativos do capítulo, vamos então mergulhar um pouco no restante conteúdo. A partir do momento que ignoramos a forma como tudo foi escrito, de modo a atingir o seu propósito, encontramos um sumo com grande qualidade não só pelo impacto na evolução técnica de One Piece mas também pela forma como Luffy é visto enquanto Capitão.
De um ponto de vista visual temos uma bela quantidade de painéis para desgostar. Há uns capítulos atrás afirmei que o enquadramento, movimento e conjugação de painéis, em sequências de luta, tinha sido melhorado. Mas, só conseguiria comprovar (com mais certezas) quando houvesse de novo uma batalha que assim o exigisse. Claramente contra Cracker, a luta foi menos convencional, menos “física”, e portanto não dá para retirar esse tipo de conclusões. No entanto, aqui é bem diferente, e mesmo que Sanji tenha sido o único a batalhar, é notável a limpeza e precisão de cada movimento.
Do ponto de vista narrativo temos as pesadas ações de Sanji, seja pela forma como falou, seja pela forma como agiu. Ações estas que deram espaço para que Luffy pudesse agir com uma firmeza incrível. Vê-mo-lo, pela primeira vez, a vocabulizar o quanto cada nakama é importante para ele, pelo menos de uma forma tão forte e ao mesmo tempo “fatalista”. São todos insubstituíveis ao ponto de o vermos afirmar que sem Sanji ele não consegue tornar-se Rei dos Piratas, e acima de tudo não quer continuar a aventura sem ele. Pelo lado do leitor (e até pelo lado de algumas personagens), muitas foram as ocasiões que se formaram vozes a afirmar que Luffy não está talhado para ser Capitão. Todavia, é precisamente através das controversas ações de Sanji que se abre a janela para que Luffy nos possa relembrar o que significa ser um verdadeiro Capitão, e que ele, melhor que ninguém, o sabe ser!
Portanto, resumindo e concluindo, apesar de ter sido um capítulo aparentemente desenhado numa estrutura já utilizada, penso que (para já) o brutal conteúdo visual e o impacto narrativo são suficientes para o tornar em algo bom e muito importante.