Em novembro de 2016, um animador que trabalhava para a P.A. Works, iniciou uma grande controvérsia após publicar, numa rede social, uma fotografia da sua remuneração. Após subtrair as despesas de alimentação, transporte e renda, sobrava-lhe apenas 1,477 yen (10€) para gastos pessoais.
Afirmou ainda que os animadores que não conseguirem passar de in-betweener para key animator, após três anos, têm que pagar uma taxa de aproximadamente 40€ por mês. De acordo com a publicação, o maior pagamento que o animador recebeu foi em outubro de 2016, num valor de 470€.
Osamu Yamasaki – Indústria Anime encontra-se num Círculo Vicioso
Apesar da P.A Works ter negado que cobravam taxas aos animadores, confirmou que os valores do ordenado estavam corretos, o que levantou, mais uma vez, a questão das condições de trabalho nesta indústria. O que até é algo que a própria P.A. Works já tratou de abordar no seu anime original Shirobako.
O Business Journal entrevistou Osamu Yamasaki, realizador de animes como Hakuōki e de Toward the Terra, e também diretor da instituição Japan Animation Creators Association, de maneira a descobrir um pouco mais sobre esta problemática.
Os animadores são pagos conforme aquilo que produzem, então os que tiverem a habilidade de desenhar bem e mais rápido poderão atingir ganhos a rondar os 3.300€ por mês, aos vinte anos de idade. Contudo, isto é atingido com alguns sacrifícios, como por exemplo a ausência de vida social, devido à quantidade de horas que terão que trabalhar para atingir estes valores (mais de 10h por dia).
Não é nada incomum um animador receber menos de 7.000€ anuais. Nos primeiros três anos de carreira de um animador, o objetivo principal é desenvolver as suas capacidades como in-betweener, o que é muito difícil, levando muitos a desistir antes de progredir na carreira.
O Japão é abundante em animadores talentosos, jovens e com muita vontade de trabalhar na indústria da animação, mas também tem uma taxa elevada de desistências.
Atualmente acho que apenas 1 em cada 10 animadores ficam na indústria. Como resultado, a maior parte dos animadores está nos seus 40 ou 50 – pessoas que vieram trabalhar na indústria inspiradas em Space Battleship Yamato e no Mobile Suit Gundam original. Daqui a 10 anos estas pessoas estarão nos seus 60, se nada for alterado a indústria vai levar um grande soco.
Os estúdios mais capazes de oferecer bons ordenados, grande produtividade e estabilidade são os grandes estúdios, o que faz com que os pequenos e médios estúdios estejam constantemente a perder talento jovem. Isto aprofunda a problemática, fazendo com os pequenos e médios estúdios fiquem desmotivados, reduzindo o investimento direcionado aos talentos individuais de cada animador. Em vez disso contratam em regime de freelance e criam grandes pressões.
Por consequência estes pequenos estúdios são, cada vez mais, caracterizados por ter trabalhadores inexperientes, com habilidades técnicas pouco desenvolvidas, o que leva à pouca produtividade e, claro, a ordenados baixos. Por fim, isto conduz os animadores para os grandes estúdios.
A Indústria Anime encontra-se num Círculo Vicioso.
De forma a conseguir acompanhar a crescente quantidade de séries que é lançada por temporada, os grandes estúdios são obrigados a contratar os pequenos estúdios, levando a inconsistências visuais com as quais devem estar bem familiarizados.
Então, porque é que os animadores continuam a compactuar com estas práticas?
Pelo amor que têm pela animação. Na maioria dos casos, a paixão que têm por animação, por desenhar, é a única motivação dos animadores, e é isso que os leva a continuar mesmo nestas condições.
Além disto, Yamasaki acrescenta para concluir:
Os animadores não são do tipo de se preocuparem muito com dinheiro, nem de se juntar em grupos para abordarem os seus superiores com estas problemáticas. Não existem muitas pessoas a lutar para que isto melhore.
Talvez a indústria anime precise de criar um novo modelo de negócio.
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Fonte: Anime News Network