Paradise Kiss é uma criação da mangaká Ai Yazawa, autora de mangas como Nana e Tenshi Nanka ja Nai. A obra em questão possui 48 capítulos repartidos por meros 5 volumes e teve a sua linha de vigência de 23 de março de 1999 a 22 de março de 2003. A história foca sobretudo no romance e no crescimento interno/psicológico dos personagens, estando por esse motivo bastante bem classificado como Josei. Amado por uns e odiado por outros tantos, este manga divide os leitores apesar de contar com uma honrosa pontuação de 8.37 no MyAnimeList.
Cuidado na leitura desta análise pois contém pequenos spoilers!
Paradise Kiss | A História
A história de Paradise Kiss gira em torno de Yukari, uma rapariga de 18 anos que apenas vive para fazer os seus pais felizes (com foco na sua mãe, bastante exigente com os estudos). Um dia ela é “raptada” por um grupo de estilistas excêntricos que se intitulam “Paradise Kiss“; estes pretendem fazer de Yukari uma modelo para o desfile da escola de artes onde estudam. A personagem principal aceita entrar nesta aventura, porém esta nova fase irá colidir com a anterior: os estudos e a sua mãe. Conseguirá a recente modelo equilibrar as duas facetas no decorrer do dia a dia?
Paradise Kiss | Progressão Narrativa
A viagem do presente manga inicia com a vida estática e cinzenta de Yukari Hayasaka, que se fecha nos estudos de modo a conseguir entrar numa boa universidade (por pressão da sua mãe). A vivência repetitiva e sem sentido da protagonista leva a que a mesma aceite fazer parte do grupo Paradise Kiss ainda que contra a vontade da sua figura materna. Inicialmente, Yukari viverá a vida de modelo de forma oculta, contudo, por força das circunstâncias, tal atividade será revelada – o que irá causar enormes reviravoltas na narrativa.
Para além da entrada num mundo de glamour e completamente divergente do seu, a personagem principal também irá estrear-se na área amorosa ao conhecer um membro (o designer) desta comunidade tão peculiar: George Koizumi. O grande amor “real” da jovem (isto porque Yukari possuía uma paixão platónica por um colega de classe, Hiroyuki) apresenta características bastante marcantes: para além de um lindo homem de olhos e cabelos azuis, é uma pessoa arrogante e convencida mas também muito carismática e singular. É principalmente neste ponto que discordo da maioria dos leitores de Paradise Kiss – adiantarei mais sobre o assunto na categoria “Personagens” – que adoram a maneira de ser de George no papel de namorado de Yukari. Quanto a mim posso dizer que não sou a maior fã.
A história girará assim em torno das tentativas de Yukari como modelo e da sua relação com George, contrabalançando com os problemas dos outros membros do grupo Paradise Kiss.
Algo positivo deste manga é o crescimento pessoal de todos aqui envolvidos. Nota-se bem o desenvolvimento de personalidades um tanto mais infantis para outras mais amadurecidas e com sentido de responsabilidade. Esta “técnica” é o toque de ouro da autora Ai Yazawa: o realismo nas relações! A mangaká, ao contrário dos típicos romances, preza muito em transmitir a quem lê os seus trabalhos uma dose de realidade do que de verdade acontece no mundo dos vínculos íntimos/amorosos entre seres humanos; nem tudo é mágico e cor de rosa. As coisas nem sempre correm bem ou como queremos e é isso mesmo que Paradise Kiss nos mostra (tal e qual como o manga Nana).
Outra situação que também se adequa satisfatoriamente bem ao género Josei é a sexualização dos jovens aqui presentes. Tendo todos por volta da mesma idade e estando em relações amorosas o normal, numa vida palpável, é que os mesmos tenham relações sexuais (o que é um tanto marcado no manga apesar de não haver nada explícito ou digno de uma história Ecchi ou Hentai), contrariando e afastando-se assim dos mangas que abordam o género Shoujo com personagens bem mais inocentes.
Para além da dita sexualização, Yukari começa a namorar pela primeira vez (todos nos devemos lembrar das nossas experiências) e, com o início da idade adulta, é credível que esta relação não vá correr bem como sempre se passa nos contos de fadas ocidentais. Entende-se que existe amor/paixão entre o casal principal, mas também se percebe que os dois intervenientes são bastante imaturos para a fazer seguir por um trajeto saudável. Dito isto, a próxima imagem expressa corretamente o sentimento da protagonista durante boa parte do manga.
Não me irei alongar mais neste aspeto pois penso que já transmiti alguns spoilers importantes para o entender da obra. Para finalizar acrescento que o manga dirigiu num caminho doloroso de ver mas que deixa passar a mensagem certa ao público feminino.
Paradise Kiss | Personagens
A imagem escolhida pode estar um tanto “desfocada” face às outras já apresentadas mas foi por um motivo: apresentar Yukari como ela é como pessoa; sem todos os aparatos e maquilhagem das sessões fotográficas, mas com a simplicidade que esta transmite com o olhar.
Yukari Hayasaka é uma rapariga atraente fisicamente mas o mesmo não se passa quanto à sua personalidade. Insegura, facilmente influenciável e dependente de aprovação dos à sua volta, para além de egoísta. Contudo, a protagonista é uma pessoa simples, doce, meiga e apaixonada. Apesar de todos estes defeitos (devido à educação que teve) não é difícil de gostar dela e querer que consiga alcançar os seus objetivos. É brilhante a forma como Ai Yazawa transforma a sua personalidade no decorrer do manga, um dos pretextos de eu ter gostado desta história.
George Koizumi é uma pessoa com uma personalidade bastante peculiar. É gentil, carinhoso e preocupado com as pessoas que gosta, todavia consegue ser ao mesmo tempo rude, arrogante, convencido e implacável. Nota-se que muito do seu comportamento se deve ao seu passado e às bases familiares que obteve, porém nada disso pode ser desculpado face às atitudes com a protagonista. Indiquei em cima que não era fã de George no papel de namorado de Yukari e isso deve-se ao seu modo de ser. Percebe-se que os dois são bastante apaixonados um pelo outro, que a relação mudou tanto Yukari como George (no quesito de se tornarem mais adultos) mas a personalidade deste não se adequa a uma relação estável. A maneira como este trata a sua namorada é de uma frieza tal que podemos sentir do outro lado do ecrã o desespero que Yukari deve sentir, apesar dos momentos bons.
Miwako Sakurada é um dos membros de Paradise Kiss, namorada de Arashi (também membro deste grupo). É uma menina bastante doce, querida e “fofa” – tanto na maneira de agir como de aparência. Age por vezes de forma infantil devido a um sentimento de insegurança projetado na sua irmã mais velha, a qual vê como o modelo a seguir. Porém, não é possível não derreter com este personagem kawaii e que tenta sempre que tudo e todos se dêem bem! Por força das circunstâncias acaba por se tornar melhor amiga de Yukari.
Arashi Nagase é um membro do grupo de estilistas Paradise Kiss e namorado de Miwako Sakurada. Possui um estilo bastante alternativo com tatuagens e piercings, todavia o seu interior não se coaduna com o exterior: apesar da aparência dura, Arashi é uma pessoa bastante sentimental e dedicada, para além de muito apaixonado pelo que faz. Porém, a sua doçura também existe par a par com a sua possessividade face a Miwako (algo que irá ser bastante marcado, e chocante!, quando se conhecer o passado destes dois).
Foi também complicado arranjar uma boa imagem desta linda senhora Isabella, talvez por não ter um papel tão importante na história. Contudo, não nos podemos esquecer dela. É igualmente um membro de Paradise Kiss por influência de George na sua vida, desde que eram crianças. Isabella, na verdade, é um homem. Descobriu que nasceu no corpo errado e o seu verdadeiro eu era como mulher. Foi George que a ajudou a aceitar-se e a ser feliz do jeito que achava o correto. Possui uma personalidade muito calma, racional e, pode-se dizer, maternal. Não é possível não gostar dela. É a pessoa mais terra a terra desta obra e que, literalmente, cuida dos outros membros do grupo.
Paradise Kiss | Arte ou Visual
Podem reparar que a categoria Arte ou Visual foi a que obteve a menor pontuação na minha avaliação. Tal tem um motivo; não será por achar que os traços de Ai Yazawa sejam maus/fracos/insuficientes. Muito pelo contrário: as linhas da mangaká podem ser diferentes do que nos habituaram os mangas Shoujo ou até Josei, mas tal leva a que o realismo da história aumente significativamente, levando os leitores a entranharem de forma verdadeira no romance e não o associarem tanto a uma obra de fantasia. Esta pontuação apenas se deveu a uma preferência pessoal, visto que quem leu as obras de Yazawa sabe que a possibilidade de confundir personagens ou de encontrar bastantes referências a obras anteriores é gritante. Gostaria de ter contemplado um pouco mais de variedade.
Para além do já escrito, os presentes no manga por vezes podem adotar medidas corporais um tanto exageradas, como os braços e pernas gigantes, as enormes pestanas ou corpos muito esguios.
Não é um desenho fraco, apenas diferente. Na verdade, os traços da autora tornam-se mais intensos no anime e não tanto no manga, que se encontra bastante equilibrado com o tipo de narrativa.
Dito isto, e como uma imagem vale mais que mil palavras, apresento-vos aqui alguns desenhos de Paradise Kiss.
Paradise Kiss | Consistência Geral e Juízo Final
Cuidado na continuação da leitura pois contém spoilers sobre o desfecho final do manga!
Já no final desta análise é visível o prazer que obtive em ler esta história, apesar de não ter achado nada de fantástico. Paradise Kiss é-me um manga muito querido, tal como o anime (mas nada ultrapassa o manga, nem mesmo o dorama se aproxima), pela lição de vida que transmite e também pela mensagem que deixa transparecer.
Sei que a maioria dos leitores que não gostou da história foi devido a romantizar um casal no qual um deles, a Yukari aqui, se rebaixa completamente perante o outro, chegando ao ponto de deixar de viver a sua vida para viver a vida do outro, de acabar com a sua personalidade para agradar o parceiro, para, simplesmente, existir em função de outrem. As pessoas que defendem isto têm a mais completa razão! Eu mesma não concordo com este tipo de relacionamento. Como disse supra, a relação do casal protagonista não é saudável e os dois são muito imaturos.
Yazawa fez-me gostar deste manga pelo modo como conduz a narrativa: Yukari precisou de George para crescer e se tornar uma mulher independente, contudo ela nunca iria conseguir ser feliz ao seu lado. Assim, uma drástica sentença foi tomada: George ao decidir ir viver para Paris colocou uma importante decisão nas mãos da sua amada… Iria Yukari deixar a sua vida para trás e seguir esta relação ou iria ela colocar-se em primeiro lugar? A resposta conseguida pela mangaká (na seguinte imagem) foi excelente!
Yukari finalmente colocou-se em primeiro lugar, recuperou o seu amor próprio e decidiu seguir a sua vida longe de George!
Achei este final realmente digno de um Josei, de uma pessoa já mentalmente amadurecida e esclarecida. Foi por este desfecho que realmente dei um valor enorme ao manga. Quem me conhece sabe que gosto mais de histórias que não sejam o mesmo de sempre e que me surpreendam. Bem, foi o que Paradise Kiss fez e é por estes motivos que Ai Yazawa tem o meu respeito!
Para finalizar esta análise falta-me dizer que apesar da pouca simpatia para com George (enquanto namorado da protagonista) ainda assim consegui sentir o amor existente entre estes dois, o que fez com que no capítulo final eu não conseguisse resistir a soltar umas (poucas…) lágrimas de tristeza pelo amor não realizado. Para quem leu o manga como eu, penso que a seguinte imagem diga muito sobre o porquê deste meu comportamento.
Penso que o presente dado a Yukari tenha sido um dos gestos mais sinceros e gentis de George. Fiquei muito comovida nesta parte, pois viu-se que apesar de tudo, ele realmente a amava ainda que à sua maneira.
Como não me quero alongar muito mais – nem estragar totalmente o final aos leitores mais curiosos – irei deixar uma parte do final por desvendar. Mas os fãs de Paradise Kiss sabem do que falo… Para quem já conhece a história do manga (pois o anime não mostra esta parte e o dorama apresenta um desfecho diferente) só posso novamente afirmar que apoio incondicionalmente a decisão de Ai Yazawa! Realmente foi a melhor escolha para que Yukari fosse verdadeiramente feliz!
Assim termino esta análise! O que acharam deste manga, foi de acordo às vossas expetativas? Para quem não leu, ficaram curiosos para o fazer?
Qualquer dúvida ou troca de ideias não hesitem em comentar 🙂
Análises
Paradise Kiss
Um manga que acentua bastante o crescimento dos personagens enquanto profissionais e pessoas!
Os Pros
- Personagens
- Progressão Narrativa
- Consistência Geral
Os Contras
- Arte ou Visual por se confundirem bastante com NANA