Vi-me impossibilitado de, durante a semana passada, sentar-me com tempo para fazer a opinião do episódio #4. Contudo, e felizmente, graças à natureza deste vou tentar redimir-me ao fazer a minha opinião semanal dos episódios #4 e #5 que estão unidos pela narrativa.
Tratando-se de uma reflexão sobre dois episódios, vou tentar sintetizar os meus pensamentos o mais possível para não fazer um artigo demasiado extenso… mas não terei obra facilitada!
DISCLAIMER: Para manter tudo bem justo, a parte do episódio 4 foi escrita antes de ter visto o episódio 5! Vai ser giro se tiver que me contradizer dentro do mesmo texto!
>>>ESTE ARTIGO CONTÉM SPOILERS!<<<
Mob Psycho 100 II – Opinião Episódio 4
A premissa deste episódio não tem nada que enganar e é por isso que o anime dispara logo para o cenário onde se vai desenrolar o incidente central. Até o uso de cold open aponta no sentido dos alicerces narrativos assentarem em tropes vistas em obras de ficção sobre possessões.
Não importa quem é o cliente, daí a sua introdução ser a mais genérica possível com o emprego mais genérico possível que: A- justifique o interesse de Reigen; B- possibilite a existência de um imóvel imponente e digno de assombração; C- permita a reunião de todos aqueles psíquicos e “psíquicos”.
Nem sequer importa o alvo da possessão: é uma menina, que é provavelmente dos alvos mais usados em obras nesta categoria.
Nop, o que importa é a interação de personagens, ter corpos suficientes para o “nosso” espírito maligno se poder divertir, um regresso/cameo e, claro, o showdown psíquico com Mob, o qual sim despoleta reais questões que estimulam uma reflexão mais cuidada e aliciam para o episódio seguinte.
Reigen é muito Boss:
Não sabendo o que esperar do quinto episódio, senti que iria ser mais introspectivo e possivelmente mais sombrio. Daí que na minha mente conjecturo que a introdução ao confronto com Mogami Keiji, seja entregue à comédia antes da história mergulhar em assuntos mais sérios.
Nada melhor para isso que “entregar” quase a totalidade do episódio #4 a Reigen. Reigen é muito Boss!
O episódio está talhado para ele:
1- Começa pelo jogo de pedra-papel-tesoura para decidir quem contacta primeiro com a possuída, que é vencido por Reigen e os seus mind games dignos de um master bullshit artist;
2- Quem diria que ser mestre manipulador ia pagar dividendos a Reigen, quando ele basicamente dá “chapada” de luva branca” aos outros profissionais, ao ser o único a perceber que a miúda estava possuída e não era vítima nenhuma;
3- Aquela linda joelhada no estômago do velhote estridente – Anti-Possession Jumping Knee Strike;
4- A forma como defende o corpo inanimado de Mob e depois como cai com estilo.
Mob vs Mogami Keiji – Choque de Crenças Nucleares (Core Beliefs):
Não que Keiji seja apresentado com uma personalidade complexa ou profunda, mas o confronto é tornado muito interessante, para mim, porque temos um psíquico altamente dotado que tem a sua personalidade e “verdade do mundo” bem definida aos seus olhos. Só essa definição choca com a jornada de auto-descoberta de Mob, embatendo também na forma claramente diferente como ambos vêem os seus poderes, embora partam da mesma matéria prima – emoções.
Talvez por isso Mob apareça no mundo mental nu e com um “corpo” não 100% definido e Keiji apareça como a sua visage enquanto era vivo, roupas incluídas – Keiji diz que aquele mundo reflete a visão que cada um tem de si e Mob não tem uma visão definida de si ou de quem ele é! Pelo menos é o que eu acho.
Em Keiji temos um adversário de peso e não apenas em termos de habilidades. Ele toca num assunto que eu já falei em opinião prévia: com aquele poder, Mob podia facilmente afastar qualquer um do seu caminho. Se se deixasse consumir pelas emoções. Keiji não diz isto, mas alude ao mesmo ponto final.
O final do episódio deixou-me na ponta da cadeira esperando pelo próximo e agora está na altura de saber como será a vida deste verdadeiramente powerless Mob no “Upside Down”.
Cantinho da Animação:
Dada toda a liberdade artística que permeia a adaptação, não posso nunca deixar de destacar momentos e decisões artísticas que pautam os episódios de Mob Psycho 100. Posto isto:
- Caracterização da Mogami Keiji/menina durante vários momentos do episódio [colagem]. Aquele movimento dos olhos.
- A hilariante montage dos infelizes “psíquicos” a tentar… bem, à falta de melhor palavra, exorcizar a menina (o entediado Keiji vá…)
- Combate contra o Dimple no corpo de Mob – short but sweet
- O que antecede e o que se sucede na excursão de Mob ao mundo mental onde se encontra Mogami Keiji
Fanboy Zone – Episódio 4:
- O Reigen a ser o ultimate forreta ao preferir usar o comboio para amealhar o dinheiro que o cliente pagaria pela viagem de táxi:
- Aquele momento do Shinra Banshomaru com o Dimples – Vocês sabem bem qual.
- A forma como Reigen Sherloquiza o seu processo para vencer jan-ken-pon:
- A insistência de Reigen para Mob “aquecer”… What?? Ai Mob, paciência meu filho…
Mob Psycho 100 II – Opinião Episódio 5
Como não me parece ser legal nem ético colocar aqui todo o episódio e forçar toda a gente a ver resta-me dizer isto: o episódio #5 de Mob Psycho 100 II é um triunfo artístico que para mim ficará nos anais da história anime.
Une, simultaneamente, sensibilidade estética e animação indescritível, com uma profunda análise da psique humana e o triunfo da coragem e possibilidade de mudança face a um ambiente opressivo.
Como TL;DR: A encenação que Mogami Keiji monta para Mob na tentativa de o fazer como as circunstâncias moldam uma pessoa e como uma vida rodeada de opressão e ódio cultiva uma pessoa com esses sentimentos, faz-me querer apelidá-a de “The Killing Joke” versão anime.
O que o Joker tenta provar com a abordagem “It only takes a Bad Day”, Mogami Keiji tenta ao longo de “meses” no mundo alternativo, enquanto tenta desgastar Mob e fazê-lo juntar-se ao Dark Side.
Gostei como Keiji é sempre representado por insectos naquele mundo, agindo como o Grilo Falante de Pinóquio. A “consciência” de Mob que, a pouco e pouco, faz aproximar o nosso herói do abismo e da completa entrega às suas emoções mais nefastas, provando a “verdade do mundo” de Keiji.
Tudo nesta experiência tortuosa pela qual Mob passa, faz-me pensar o quão longo e sinuoso está a ser o caminho de auto-descoberta do nosso Shigeo. Tadinho do Mob!
Pessoas do mal, que se servem de bullying a outliers para subir na escada social, existem e não são poucas. Mas Mogami Keiji mete o “volume no máximo” no que toca a um ambiente opressivo, sem qualquer luz de esperança, e é doloroso ver Mob passar por tudo aquilo.
Destacando…
Antes de avançar para a secção em que rendo completamente à animação, quero destacar alguns aspectos narrativos e de personagem que eu apreciei muito neste episódio, mas que, dada a sua clara representação, não pedem uma análise mais profunda da minha parte que estrague o guião executado.
Mogami Keiji:
Não era essencial, mas gostei que tenha sido dado ao Mogami Keiji uma motivação e objetivo de vida mais concreto que não fosse apenas o ser vilão. A sua espiral para o “lado negro da força” foi eficazmente representada e, embora de forma retorcida e exagerada, conseguimos ver o que o leva a pensar assim e a tentar moldar Mob nesse sentido.
Asagiri Minori:
Gostei de terem dado caracterização à Asagiri Minori, elevando-a para de miúda possuída tipo 1 (embora essa seja a sua utilidade para Keiji conseguir atrair os “auto-proclamados psíquicos”), a uma potencial interessante personagem e uma das primeiras a provar o ponto de Mob, “se eu consigo mudar, talvez consiga mudar outros”, que é a grande lição do episódio.
Reigen:
Seja por ser um fã inveterado da obra ou não, mas acho extremamente comovente a forma como Reigen acredita e confia em Mob, inequivocamente. A sua inabalável crença de que Mob é capaz de superar uma “muralha” aparentemente intransponível – Mogami Keiji – ajuda ainda a “convencer” Dimple a ficar, levando este ao caminho para a sua evolução.
Dimple:
Começando como vilão na primeira temporada e deixando-se ficar na esperança de despertar os poderes latentes de Shigeo, há algum tempo que se nota o quanto o nosso protagonista “mudou inadvertidamente o verdinho”, ou o quanto a sua confiança nele o fez mudar mesmo que o próprio Dimple não o reconheça.
Este facto é bem apontado por Reigen quando diz a Dimple: This is probably the first time someone’s placed so much trust in you too, right?
Dimple é, para todos os efeitos e embora ele mesmo “não o mostre totalmente”, o primeiro a confirmar a crença fundamental a que Mob chega neste episódio. E por isso que é tão fixe e significativo que seja ele o elemento que faz Mob “despertar” da sua queda e iniciar o seu comovente triunfo contra Keiji e completar mais uma importante etapa no seu crescimento enquanto pessoa. Our little Mob is growing up so fast!
Mob:
Awwwwww Mob-kun! A mudança que tenho vindo a sublinhar semana após semana é cada vez mais notória. A forma como Mob aguenta 6 meses naquele mundo repleto de abuso e opressão sem se sentir tentado a magoar ninguém é incrível e só faz com que a sua quase queda tenha ainda mais suspense.
O momento em que Dimple chega para “salvar o dia” e despertar Mob do seu transe, relembrando-o de todas as pessoas que ele gosta e com as quais se preocupa, é emocionante, é cómico e de lapidar.
A partir daí são quase 10 minutos de Shigeo a ser um querido, a mostrar o quanto cresceu, a que conclusão chegou após toda esta tortura e ser um badass, à sua maneira.
Adoro a sua forma em 100% coragem e depois quando “ultrapassa” o limite, rompe o seu “receptáculo” e revela o seu core… Lindo!
Animação, a.k.a WTF!!! AWESOME! ISTO É UMA DÁDIVA DOS CÉUS!
Sendo sincero, não há nada que eu consiga escrever que faça qualquer tipo de justiça à componente de animação deste episódio.
Careço do lirismo e conhecimento técnico necessário para fazer uma verdadeira apreciação, ou até mesmo uma tentativa de uma.
Nesse sentido, encaminho-vos para o Twitter do kViN ou para o seu blog, Sakuga Blog, onde quase garantidamente encontrarão um conhecimento mais definido sobre tudo isto.
Scenes like these demonstrate how well it combines the very precise, realistic portrayals of space and the surreal evocative shots, more striking than ever this time. Effortlessly blurring the lines. pic.twitter.com/X2KPGN3MKk
— kViN (@Yuyucow) 4 de fevereiro de 2019
Posto isto, o que há a dizer? Vou rever este episódio vezes sem conta ao longo dos anos e usá-lo como exemplo e porta estandarte daquilo que anime é capaz como meio artístico e veículo de emoções.
Duas notas que quero sublinhar:
- Apesar da tez cinzenta do mundo alternativo, o tipo de animação, cinematografia, movimento das personagens atraiu-me imediatamente. Mesmo fora deste mundo, a animação das personagens manteve a mesma expressividade, deixando o anime sem ponta possível para crítica.
- Que dizer de todo o confronto? Que dizer dos movimentos, das cores, do som, do realismo e do surrealismo, do abstracto e do concreto… Prefiro deixar aqui momentos que falam por si, que tentar inventar palavras que expressem o que aconteceu.
Fanboy Zone – Episódio 5:
- Mob Flor
- Mob Hulk
- Mob 100% Coragem
- Aquele jab do Reigen ao McDonalds no final, logo depois de mostra que no fundo há muita sensibilidade e ética no nosso Mestre Psíquico (misturado com um a quota parte de auto-preservação):
Notas Finais:
Mesmo sem o Santo Graal de animação que foi o episódio #5, a estética a que Mob Psycho 100 já me habituou, aliada às suas personagens e narrativa com raízes em desenvolvimento pessoal, faria destes dois episódios duas excelentes adições à adaptação da obra e ao mundo anime no geral.
Comédia, ação, emoção e espaço sob o holofote para cada personagem de relevo brilhar, mesmo que a estrela final seja o nosso Shigeo.
Claro, e como tentei destacar, tudo isto é multiplicado pelo incrível trabalho de realização e produção do episódio #5.
Estou tão feliz que Mob Psycho 100 exista! Obrigado ao mestre ONE, obrigado ao estúdio BONES, obrigado a todas às pessoas fantásticas que trabalharam no episódio e o lançaram para o mundo!
Depois disto, eu nem sei o que esperar do episódio #6, mas se já antes confiava plenamente nesta produção, que dizer agora.
Easily the peak for a production that already stands atop all TV anime of its kind. Though it’s impossible to summarize a dream world that reshapes itself constantly in an endless animator relay, the one constant might be the stunning layouts. pic.twitter.com/8QqXReRhlv
— kViN (@Yuyucow) 4 de fevereiro de 2019
E tu, que achaste destes episódios? Os teus olhos também derreteram com o episódio 5?
Deixa nos comentários a tua opinião!
Mob Psycho 100 II – Opinião Semanal