O hype em torno de Demon Slayer (nome original Kimetsu no Yaiba) tem roçado o desmedido. A internet encheu-se de memes, a Nezuko passou a ser a waifu preferida dos internautas e todos os fãs – e não tão fãs – de anime se renderam à série. Mas então, o que tem de tão especial Demon Slayer? Não será um exagero toda a adoração em torno desta obra?
Porque sou fã de Demon Slayer
Afinal não há nada de “novo” no conceito como em Attack on titan, Promised Neverland ou mesmo Dr Stone. Trata-se de uma obra sobre vampiros e “espadachins”, dois temas já mais que explorados por inúmeras séries e literatura oriental e ocidental.
Todavia, sou obrigada a usar como exemplo uma das minhas obras preferidas da atualidade: também Boku no Hero Academia possui um tema já muito explorado, sobretudo pelo ocidente, e não fez dele uma obra menos genial do que é. Pelo contrário, é mais que óbvio que muita da qualidade advém da forma como conseguiram pegar neste tema, reconstruí-lo e retratá-lo num universo incrível.
Em certa medida, passa-se o mesmo com Demon Slayer. Mais, além dos temas serem reciclados, muitas das ideias são claramente inspiradas em obras shounen como Bleach ou Naruto. Aquela inspiração Michael Jackson vampiresca fez-me tão lembrar o Aizen xD
“Ai e tal estás a comparar Boku no Hero Academia com Demon Slayer”, calma, não acho justo compará-las por inteiro. Apenas estou a reflectir sobre o uso de temas/plots conhecidos e não a comparar as obras em si.
Mas o que faz de Demon Slayer tão popular?
Antes de mais vou-vos contar um bocadinho da minha experiência com a obra.
Quando estreou o manga, como já é meu habitual, decidi fazer um test drive e acompanhar os primeiros capítulos.
Fiquei completamente rendida a todo o primeiro arc e achei a primeira missão de Tanjiro bastante inteligente do ponto de vista narrativo. A escrita do autor foi on point, conseguindo prender-me à história e desenvolver laços extremamente fortes com o protagonista. Mas então… o que falhou?
Sim, falhou algo: eu! Em suma, sou extremamente esquisita quanto a gostos literários e exigente do ponto de vista de construção narrativa.
Após a primeira missão do Tanjiro, este encontra-se com o “Grande Vilão da história”. E isso irritou-me. Aquele primeiro contacto causou em mim uma aversão terrível com a história. Fiquei com medo que se perdesse como tantas outras, e deixasse de ser aquela personagem tão orgânica quanto idilicamente shounen, para se tornar em alguém que consegue tudo pelo “Poder do Amor”, que tornassem a história numa espécie de Fairy Tail vampiresca.
Atenção, eu gosto de Fairy Tail na medida em que é um marco shounen irrevogável, mas do ponto de vista narrativo, basta-me um Fairy Tail na minha vida.
E dei o drop ao manga.
Entretanto sai a confirmação da adaptação anime pela ufotable e eu: ehhhhh lá! Shit gonna get serious… afinal estamos a falar de um dos melhores e mais icónicos estúdios da atualidade!
E decidi não ver… Pessimista, achei que ia ter as minhas expetativas defraudadas e pensei “quando terminar vejo tudo” ou “eventualmente ei de assistir”.
Há medida que os episódios iam avançando os memes e todo o hype crescia rompante. Eu percebia o furor inicial, afinal senti o mesmo com os primeiros capítulos da manga. Vi algumas cenas que foram surgindo no feed das redes sociais, até que a obra ultrapassa o correspondente ao episódio 8. A partir daí tentei fugir de spoilers, mas foi quase impossível. Mas ainda bem, a minha curiosidade foi maior que a teimosia…
Uma lição para quem tira juízos precipitados
E aqui estou eu a escrever uma dissertação sobre o quão apaixonada sou por Demon Slayer.
Vi um episódio, incrível claro. Continuo. À medida que me aproximava do episódio 8 o meu nervosismo só aumentava, mas lá continuei. Ultrapassei os primeiros 10 episódios e comecei a questionar a qualidade do meu intelecto. Como foi possível ter parado de ler o manga com medo de ser defraudada quando não tinha, de facto, razões para duvidar do autor?
Em vez de seguir a linha do protagonista OP, o autor tentou explorar a fragilidade e potencial do mesmo. Claro que o Tanjiro acaba por ser sempre mais Over Power que a maioria e possuir poderes com um crescimento quase que ilimitado. Mas estamos a falar de um shounen, for God sake, claro que o protagonista é um personagem com poderes, técnicas e afins que ultrapassam o comum dos mortais e estão em constante (e repentina) evolução. Mas não é isso que tira a beleza de Demon Slayer.
As Razões Porque considero Demon Slayer um Anime Incrível
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Cuteness overload
Há uns tempos vi um meme lindo sobre as personagens serem adoráveis e a história muito dark. Ri-me muito! Não só por ser bastante on point mas também por ser uma das características que me fazem adorar a obra.
De facto, as personagens são adoráveis – ok, o Zenitsu é irritante -, e marcantes, e com personalidade própria, e com backgrounds únicos.
Isto para dizer que não são só “fofas”. As personagens, na sua maioria, possuem um design único e bastante compatível com a sua personalidade – ok, excepto o Inosuke. Tal característica cria um ambiente de excentricidade e comédia que, na minha opinião, é impossível não ficarmos rendidos.
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A Empatia
É difícil não gostarmos dos personagens, mesmo de alguns demónios. A obra trabalha a empatia, um sentimento muito desvalorizado e nem sempre bem usado.
Tanjiro mata todos os demónios que matam humanos, mas não é por censurar as suas ações e pôr fim às mesmas que não respeita a dor dos demónios sendo empático em relação às emoções e passado dos mesmos. Isto não significa que devam ser perdoados em vida ou que há esperança numa “reabilitação”, como acontecia com Naruto, em vez disso merecem uma morte em paz. Afinal todos eles foram outrora humanos.
E esta empatia, raciocínio e metodologia de ação foram algumas das razões que me fizeram apaixonar pelo protagonista.
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A História
Como disse em cima, Demon Slayer não possui um enredo inédito ou que difere muito da maioria criada dentro do universo do fantástico. Em boa verdade, aborda um dos temas mais trabalhados: os vampiros. O segredo da qualidade – e porque gosto tanto – é a construção da história.
O anime é curto, pelo que falarei em contexto com tudo o que li até agora (sim, após terminar o anime ataquei desenfreadamente a manga).
A história possui IMENSOS personagens, mas apesar de todas as sidestories a linha narrativa principal continua a mais importante. Temos um vilão “supremo” e toda uma estrutura em ranking para chegar ao mesmo. Mesmo na cooperação de Demon Slayers existe um ranking segundo os poderes dos “slayers“. Tudo isto para um clímax final.
Nada de novo. Afinal é uma estrutura base bastante usada, todavia a forma como vão de um ponto para o outro é extremamente orgânica. Envolve treinos, exploração do universo e uma ligação com todos os pormenores e personagens que fomos encontrando. Honestamente estou em pulgas para continuar a ler o manga dados os mais recentes acontecimentos. Parece que está tudo ligado! Parece, não, está!
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A Originalidade
Sim, leram bem, originalidade. Depois de tudo o que escrevi até agora parece um contrassenso alegar que um dos pontos fortes é a originalidade. Mas sim, na minha opinião é. É original a maneira como tratam as personagens, como as tornam divertidas ao mesmo tempo que badasses. Como pegam no tema vampiros e tornam o mesmo ser hediondo e mortífero numa personagem com um passado. É original como mesmo sabendo que determinadas situações vão acontecer, somos surpreendidos pelas ligações e acontecimentos. Cada arc é único e não conseguirmos prever tudo o que vai acontecer é uma sensação gloriosa!
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A Animação
Não é exagero dizer que grande parte do sucesso e, sobretudo, o hype em torno da série se deveram ao estúdio em questão. Fizeram um trabalho soberbo na animação, deram vida e cor a um universo negro com personagens peculiares. Conseguiram reproduzir na perfeição todas as particularidades e emoções que o manga transmite. Eu li o manga antes de ser adaptado a anime e reli tudo de novo até ao último capítulo lançado e digo-vos que não senti que “falta-se” nada no anime. É das poucas obras – sobretudo shounen – que posso afirmar que o anime consegue equiparar-se à obra original e ser superior em termos de experiência global.
Pensamentos finais – Uma animação sublime!
A série acabou com a confirmação da sua continuação através de um filme. Este corresponderá ao Demon Train arc, um arc forte emocionalmente e que marca o início de uma nova fase para os nossos protagonistas. Como vimos nos últimos episódios, o ranking mais elevado dos Demon Slayers, os Hashiras, surgem em grande plano, começa a sim a jornada por entre os mais fortes deste universo.
Quero acreditar que esta série terá continuidade. Quero acreditar que irão adaptá-la na integra em anime, sobretudo em formato série. O estúdio é famoso pelas suas criações e tem o hábito de adaptar na integra as suas obras. Assim o espero.
Em suma, e para terminar, admito que sou fã de Demon Slayer ou, chamando pelo nome original, Kimetsu no Yaiba. Como se todas as razões em cima não fossem já mais que suficientes para mostrar o meu ponto de vista, realço ainda um ponto que me deu que pensar.
Não sabia como explicar o que esta obra me faz sentir, o porquê dela tocar sem nunca me irritar ou achar que é “demasiado forte”, ou demasiado leve. Acredito que o termo certo seja “inteligência emocional” do autor, foi isso que me conquistou. A forma como mistura doçura, confiança, amor e superação em cada painel é um regalo para qualquer fã de shounen, é um alívio para alguém impulsivo e sem paciência como eu.
Sei que há muita polémica e discussão em torno do overhype – ou não – de Demon Slayer, na minha opinião (e vale o que vale) não se trata de comparar obras, não se trata de colocar Demon Slayer num pedestal sem defeitos. Trata-se de o olhar como ele é e, se as características deste te fizerem vibrar como me fizeram a mim, poder dizer de boca cheia: eu sou fã de Demon Slayer!