Título: Ranpo Kitan: Game of Laplace
Adaptação: Original
Estúdio: Lerche (Ansatsu Kyoushitsu, Danganronpa)
Géneros: Horror
Ficha Técnica: Disponível
Ranpo Kitan Game of Laplace | Enredo
O anime tira inspiração dos trabalhos do grande mestre do mistério japonês, Edogawa Ranpo e está a ser produzido para celebrar o 50º aniversário da sua passagem para o outro mundo. Este trabalho original do estúdio Lerche retira elementos das obras do mestre e aplica-os num cenário escolar, criando um enredo que gira à volta do mistério, que a julgar pelo primeiro episódio, começa por focar-se num crime macabro.
No centro deste crime está Kobayashi Yoshio, um jovem de 13 anos, que acorda numa sala de aulas deserta com o cadáver do professor e uma serra na mão. Torna-se claramente no principal suspeito, mas mesmo assim conta com o apoio do seu melhor amigo Hashiba Souji. Dado os contornos do crime a polícia chama ao local um detetive especial, o genial rapaz de 17 anos Akechi Kogorou, pelo qual Kobayashi se interessa devido às suas capacidades e ao qual se oferece para ser seu assistente.
Pondo de lado o enquadramento do anime, vamos falar um pouco mais a sério. Esta criação original da Lerche, tem bagagem, depois de lançar animes como as adaptações de Ansatsu Kyoushitsu ou Danganronpa, ambas com elementos de crime e/ou mistério, seria fácil assumir que o estúdio estaria como peixe na água. Pelo que vi do primeiro episódio posso dizer que está e não está.
Focando-me no tópico em questão, o enredo à partida não traz nada de novo. Os diálogos são simples e dão todos a sensação de déjà vu, e o que os torna ainda mais irrelevantes são as personagens.
As personagens ou são criações completamente cliché de uma personagem tipo, como o caso de Akechi que se apresenta como o reservado detetive génio, o lobo solitário, que toma comprimidos para adormecer a dor e bebe café simples, ou são como o caso de Kobayashi que à partida parece uma cópia inacabada de Nagisa (uma das personagens principais de Ansatsu Kyoushitsu) misturada com um sociopata, de tão estóica e natural que é a sua reação perante o mundo e as coisas horrendas que estão a acontecer à sua volta.
Para finalizar este ponto, é relevante denotar que o próprio design das personagens deixa um pouco a desejar na medida em que parece demasiado ‘bonito’, retirando-nos um pouco da imersão do mundo que o anime parece estar a tentar montar. Dado tratar-se apenas da primeira impressão, espero sinceramente que a minha opinião mude e que haja um desenvolvimento de personagens significativo, de modo a justificar uma caracterização inicial tão débil e um design tão descontextualizado.
Ranpo Kitan Game of Laplace | Ambiente
Depois de destilar toda a desilusão e apatia que parte de Ranpo Kitan: Game of Laplace, vou agora falar do bom. A Lerche continua sem dúvida nenhuma um dos mais fortes estúdios na conceção do ambiente de um anime. Em outros artigos denotei a forma como eles controlam bem a luz e os ângulos, e aqui isso não é exceção. Dada a ideia que nos é passada por Kobayashi, este é um mundo muito aborrecido e cinzento, sem vida, e o estúdio conseguiu encapsular isso mesmo, “pintando” o mundo com um filtro cinzento e deixando as cores vivas para algo especial.
Outro ponto que joga a favor do anime a nível da composição do ambiente, é o facto de, a julgar pelo primeiro episódio, nós estarmos a seguir a ação pelo ponto de vista de Kobayashi. Dadas as caraterísticas de sonhador que ele tem, e de jovem aborrecido com o mundo, a Lerche traduziu isso não só na cor e atenuação desta, como também na descaracterização dos elementos que não são essenciais nem chamam a atenção do nosso protagonista. Desta forma, tirando um grupo muito restrito de pessoas, todas as outras presenças neste mundo aparecem como sombras cinzentas, que só ganham cor e luz consoante Kobayashi se foca nelas ou não.
Conhecendo o trabalhos prévios, sinto-me confiante em concluir que este elemento de transição vem da mestria em realização de Seiji Kishi. Estes pequenos e brilhantes detalhes são aquilo que nos fazem continuar a ver Ranpo Kitan apesar das grotescas falhas. Kishi-sensei direciona o nosso olhar, foca os nossos sentidos no que ele deseja que tenha destaque e, embora contrariados, acabamos por encarnar em Kobayashi graças a ele.
Outro ponto positivo a favor de Ranpo Kitan é o design dos cenários. Neste primeiro episódio, Kobayashi visita o ‘antro’ onde mora Akechi, e posso dizer que fiquei rendido. A disposição dos objetos e o detalhe deles, a luz ‘envelhecida’ e a forma como banha tudo o que toca criando sombras altamente realistas, o arranjo do espaço e a ocupação e cada elemento em cada frame, trazem uma lufada de ar fresco que é bem necessária a este anime.
Em conclusão, é importante referir ainda outro ponto que ajuda na imersão, embora ainda não tenha dado bem para entender toda a gama de potencial que tem: a banda sonora e os efeitos sonoros. São bons, mas dadas as distrações visuais ainda não é possível, nesta altura, afirmar com convicção que se tratam de “personagens” do anime, algo que deve ser o padrão para obras que entram na categoria do horror, mistério e thriller.
Ranpo Kitan Game of Laplace | Potencial
Agora tenho que responder à pergunta difícil, terá a série potencial? Bom aqui há dois pontos em contenda.
Se a preocupação e aquilo que vos faz colar ao monitor e ‘beber’ de um anime se trata do enredo e das personagens, pelo que vi devo dizer que não, esta obra não deve ser uma prioridade. Ficariam muito mais bem servidas com outras do género ou deviam até mesmo investir em ler as histórias originais de Edogawa Ranpo.
Por outro lado, o anime tem pequenos focos de genialidade na forma da composição do ambiente, que foi descrita acima, pela mão de Seiji Kishi e da Lerche. Até ver estes dois nomes merecem a minha confiança e portanto pode ser possível que Ranpo Kitan ainda venha a mostrar as suas verdadeiras cores.
Será que o anime se vai conseguir levantar após um tropeção inicial tão grande?
Análises
Ranpo Kitan Game of Laplace
Será que o anime se vai conseguir levantar após um tropeção inicial tão grande?
Os Pros
- Fonte de inspiração
- Conceção de ambiente e mestria na realização
Os Contras
- Personagens insípidas e não originais
- Enredo fraco que não aproveita a inspiração de que dispõe