Quem diria que Hakozume poderia melhorar logo no segundo episódio? Na opinião da semana passada comentei sobre o interessante que seria o anime se transformar, em algum ponto, numa dark comedy, e não é que parece que vai seguir mesmo esse caminho?
O segundo episódio abordou temas bastante pesados, mas com comédia pontual para não saltar fora do género – até porque não é esse realmente o foco. Este tipo de histórias estilo Rainbow, Monster, Made in Abyss, etc, são realmente as que me despertam mais atenção, todavia penso que aqui não haverá necessidade de seguir essa via. Se eles forem interligando os temas pesados e a comédia, vai culminar num trabalho bem interessante.
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Realidade | Hakozume Episódio 2 – Opinião
O passado da mangaká
E não é que a mangaká realmente trabalhou como polícia durante 10 anos? O website Anime News Network publicou um artigo sobre uma entrevista que a Miko Yasu realizou em 2018, onde falou das suas motivações para escrever mangá (que é o que realmente traz um sabor especial à história). Tanto como polícia que entende a dinâmica da profissão, como mulher no meio. A autora decidiu abandonar a carreira devido à cultura de excesso de trabalho (interessante ter ido para a indústria de mangá…), e logo após o profissional substituto durante a sua licença de maternidade ter falecido por este mesmo motivo.
Na entrevista ela destacou várias experiências pessoais, que são retratadas na sua obra, tais como o facto das mulheres polícias não serem autorizadas a ir à casa de banho (ou quarto de banho, como quiserem) por não poderem largar as armas. Ao contrário dos agentes masculinos que conseguem servir esta necessidade abrindo apenas o fecho das calças, para elas não seria possível. Desta forma, confessou que durante o serviço evitava beber demasiada água para não sentir necessidade de urinar (isto deu-me PTSD, não como polícia obviamente, mas ao lembrar-me que tive de fazer exactamente isto quando trabalhei com atendimento ao público, uma vez que no local não existia ninguém para me substituir e eu não podia simplesmente abandoná-lo. Os meus rins nesses meses estavam sequinhos).
Agora existem mais oficiais masculinos que compreendem este tipo de situações, comentou ela, contudo quando ocorre algum incidente geralmente tende-se a ignorar estas questões específicas de mulheres.
Ela com este mangá pretende mostrar ao mundo a sua história e convencer mais pessoas a serem polícias.
A realidade nua e crua
Nunca esperei, e logo no segundo episódio, a Kawai ter que lidar com menores de idade a prostituirem-se, violações e violência doméstica. Mas que bela chapadona levei na cara, que não estava a contar com isto num anime slice of life e comédia. Posso confessar que fiquei contente sem me irem denunciar? Posso, ninguém lê isto e não, por isso estou a salvo.
Embora estes temas sejam extremamente pesados, conseguem não ser gráficos ao ponto de provocar um sentimento de angústia no espectador – são, no entanto, tratados na mesma de forma sensível e cuidada, tal como merecem.
Hakozume simplesmente mostra o dia-a-dia de um polícia, que tanto pode lidar com infracções no trânsito e ser insultado de “parasita” e “sugador de impostos”, como no outro pode literalmente salvar uma menor de idade de se prostituir (para sobreviver) por ter fugido de casa onde sofria abuso sexual (certamente a psicologia explica a dinâmica de abandonar uma relação de abuso para uma também relação abusiva mas “consentida”, todavia não vou meter-me nesse buraco do qual posso nunca mais sair por achar demasiado interessante o tema).
É esta realidade tão “próxima” do anime que me está a cativar.
Ingenuidade vs Experiência
As duas protagonistas servem bem, juntas, o propósito de mostrar as diferenças entre alguém que está a iniciar uma carreira (seja ela qual for) e um profissional com vários anos de experiência, que absorve as situações de uma outra forma. Penso que a mangaká possa ter espelhado a sua vida na Kawai, quando entrou para a polícia, e na Fuji após ter trabalhado ao longo de 10 anos. Ela consegue criar personagens tão fielmente bem escritas, por, muito provavelmente, estar a escrevê-las na primeira pessoa. Não existe nada mais real que isso.
A forma como a Fuji consegue comunicar de acordo com o perfil de cada um (quem tem que lidar com o público também precisa de aprender estas skills. São muito importantes se não queremos aturar clientes raivosos), como percebe detalhes de que algo não está bem (como na situação da menor de idade ou da mulher que caminhava na rua sem um dos chinelos) é fruto de muita experiência acumulada que apenas é ganha, lá está, com o tempo. A Kawai não podia ter uma melhor parceira: candidata a best girl de 2022. Quem concorda respira (incluindo tu Molinos).
Realidade | Hakozume Episódio 2 – Opinião
Pensamentos Finais:
- Ela dar o número do “112” àqueles adolescentes foi tão bom xD
- Ver a Kawai a lidar com esta moça foi só hilariante
- Queres ser polícia? Então toca a abrir uma janela anónima
- Vou só deixar isto aqui
- Fuji-san perfeita a perceber todos os detalhes ♥
- Kawai, tens de aprender: nunca se diz isso. Só chamas os problemas
- Este presente… não estava a contar xD
- Bonita cena para mostrar à Makitaka que existem homens em quem ela pode confiar
- Mais uma polícia apresentada. Bem-vinda coisa fofa
Também gostaste deste episódio? Diz-me nos comentários.
Até para a semana!