Mais um ano, mais uma edição do Iberanime OPO. Um dos maiores certames de Anime, Manga e Cultura Japonesa do país teve lugar, pelo terceiro ano consecutivo, no Pavilhão Multiusos em Gondomar, no fim de semana de 24 e 25 de outubro.
Como não podia faltar, o ptAnime esteve presente no primeiro dia do evento. Câmaras a postos, guarda-chuvas em punho e olhos e ouvidos bem atentos, e lá fomos para mais um dia recheado.
As condições meteorológicas não favoreceram as centenas, se não milhares, de visitantes do primeiro dia do evento. A azáfama era a habitual, filas enormes de jovens e crianças ansiosos para desfrutar de um espaço concebido segundo os gostos particulares dos mesmos. A chuva proporcionou uma abertura prematura das portas de modo a albergar, o mais rapidamente possível, as centopeias humanas sob chuva torrencial.
Um recinto bem diferente!
As diferenças em relação à edição anterior eram substanciais. Em vez de darmos caras com os jogos, voltamos a rever o palco principal na entrada da convenção, o que foi sem dúvida uma mais valia, proporcionando espaço suficiente para o público dançar, conviver e desfrutar das atividades principais sem a habitual correria entre auditórios.
O apresentador voltou a brilhar, juntamente com novos animadores repletos de energia para mais uma ronda de Para Para Dance matinal! As melhorias na organização do espaço e animação do público foram o ex-libris do Iberanime OPO 2015. Finalmente podemos caminhar livremente entre bancas, desfrutar da companhia dos cosplayers e amigos, sem andar aos encontrões na expectativa que dali a uns metros conseguiríamos respirar… ou sentir efetivamente os pés no chão.
As bancas com produtos direcionados para alimentação e bem estar dos participantes, foi outro quesito desenvolvido nesta edição, bastante felicitado pelo público recorrente já habituado a lidar com esse desfalque nas edições anteriores. Finalmente, após 4 edições marcadas por longas filas para um belo e quentinho ramen e sem outras alternativas vigentes, a organização dispôs-se a criar novos espaços e bancas especializadas na venda de produtos alimentares caracterizados.
As atividades sofreram uma renovação não tanto de espaço, mas em termos de participação e animação. Pequenas multidões eram visíveis aquando atividades como Quizz, AMV e Desfiles de Cosplay, criando novos nichos de público vocacionados para usufruir do que de mais maravilhoso este tipo de convenções pode oferecer: convívio, troca de experiências, conhecimento e divertimento tendo por base os temas que tanto amamos.
Cosplay, Cosplay e mais Cosplay!
Um bem haja às centenas de artistas maravilhosos, que decidiram presentear-nos com os seus maravilhosos fatos apesar de todos os contratempos metrológicos e populacionais! O número de aficionados e curiosos na arte do cosplay aumentou consideravelmente, bem como a qualidade dos fatos apresentados, sendo indiscutível o primor e evolução dos participantes. Não havia metro quadrado sem um cosplay, ou mera vestimenta ou acessório alusivo à arte, pelo que a representação do amor por Anime, Manga e Jogos esteve bem patente por entre os corredores do Pavilhão Multiusos de Gondomar.
Staff dotada de uma peculiar simpatia… efémera
Confusos com a minha afirmação? Acredito que para muitos dos que foram ao primeiro dia do evento, esta possua sentido e compreensão dignos de empatia. Pois bem, passo a explicar o paradoxo abstrato acima referido: nunca o Iberanime OPO possuiu uma equipa tão alargada quanto esta, em todo o lado tropeçávamos por mais e mais staff, prontos ou não para nos ajudar nas nossas necessidades. Contudo, à eficácia duvidável foram acrescentados tristes episódios comentados por corredores, e alguns assistidos em primeira mão pela nossa equipa.
Foi triste, muito triste. Cosplayers com fatos maravilhosos, maquilhagens assombrosas, armas e todo o tipo de material enorme e com toda a certeza, extremamente sensível, foram obrigados a percorrer um longo caminho desde o parque onde estavam, à chuva, porque não podiam afastar uma fita divisória de uma entrada que decidiram fechar. Mas vamos entender o lado do Iberanime, claro que não podiam deixar passar um conjunto de cosplayers que fugiam da chuva e tentavam a todo o custo preservar os seus fatos por mera burocracia, afinal quem são os cosplayers para se acharem melhores que os outros participantes do certame? Até devem pensar que são a principal atração do Iberanime… Francamente, que falta de noção!
Eficácia e profissionalismo acima de tudo!
O contraste dentro da equipa de produção do Iberanime OPO é notório. De um lado temos grandes profissionais no ramo, entidades com conhecimento e profissionalismo dignos de louvar, do outro temos uma equipa de subalternos que fomentavam o mistério nesta edição: saberiam eles onde estavam e o que estavam a fazer?
Uma equipa com tantos elementos como esta é difícil de gerir, nesse quesito não poderemos criticar desenfreadamente a entidade organizadora. Sendo voluntários ou não, numa equipa tão alargada quanto a deste ano seria evidente as discrepâncias e confusões na organização, no entanto, faltas de noção essas sim são pouco toleradas.
Cosplay é uma arte que merece respeito, zelo e cuidado, ver sucessivamente cosplayers a queixarem-se da falta de apoio, e sobretudo comprovar que nada era feito para ajudar os mesmos, não me foi indiferente. Acredito que muitos bons trabalhadores estiveram presentes e ajudaram, injusta sou eu em criticar o geral, contudo são muitos os pontos a desenvolver, educar e treinar para as próximas edições, e simpatia e prontidão serão uma delas.
Iberanime, o evento português especializado em Anime, Manga… Jogos e Multimédia?
A diversidade de conteúdos explorados no recinto principal foi notória. A nova área desenvolvida nesta edição, o IA!PLUS, forneceu novos e interessantes Workshops, Apresentações de Livros, onde destaco a apresentação de Ziggy Brown e os Felinos de Vénus, entre outros.
A secção dos jogos sofreu uma divisão inteligente sob o ponto de vista de conteúdo e público alvo, sendo que de um lado o retrogaming e do outro, o já habitual espaço da Nintendo. As melhorias foram substanciais, uma delas a louvável novidade nesta área tão desfalcada nas demais edições: a inserção de um jogo Visual Novel português!
Mas… houve espaço para tudo?
O sentimento de estranheza aquando a primeira ronda no espaço tão bem alargado, e estruturalmente bem organizado, alertou os mais antigos nestas andanças. Algo está mal! Falta algo… Como conseguiram colocar mais espaço para o público circular? Terá sido a alteração por áreas suficiente para provocar tão drástica mudança no espaço?
Depois de algumas voltas, o óbvio foi constatado: faltavam “bancas”! E quais os icónicos expositores que foram postos de lado? Os que enriqueciam o certame de cultura nipónica, os que acentuavam e relembravam aos mais esquecidos o objetivo do evento! Os workshops continuaram, contudo a primeira abordagem no centro do evento foi quase aniquilada pela organização de modo a prover mais espaço para circular.
Muitos dirão: “Ai mas ao menos assim podemos percorrer as restantes bancas com relativa facilidade!” – Não digo o contrário, em termos de espaço para circular e organização de expositores, esta foi a melhor edição do Iberanime sob guarida do Pavilhão Multiusos de Gondomar, contudo, quero acreditar que a supressão deste marco não passou despercebida aos fãs.
Um cartaz de luxo!
Por muitos aspetos negativos que possa ter apontado à organização e estruturação do evento, de uma coisa nem eu nem ninguém se pode queixar: a qualidade dos artistas convidados e os eventos cabeça de cartaz!
Neste primeiro dia de evento o cantor Piko deu-nos uma pequena amostra do que seria o concerto do dia seguinte, e tenho que admitir que a vontade de assistir a um concerto dele foi exacerbada a valores difíceis de controlar! O cantor japonês para além de possuir uma voz inigualável, dotada de timbres masculinos e femininos, completamente díspares, cantava maravilhosamente bem. A interação com o público, simpatia, e a enorme vontade de partilhar e incentivar o crescente número de pessoas que se acumulava aos seus pés é indescritível! O artista fez os possíveis e impossíveis para animar e puxar pelo público muito contido, não é todos os dias que vemos um cantor de sucesso do Japão a dançar lado a lado com o público numa simples Demo!
Cosplay World Masters
As imagens e vídeos de majestosos cosplayers povoam a internet como se de outra realidade se tratassem. Algo de longe, do outro lado do mundo, concursos fora do alcance deste país tão pequenino e medíocre… até que surge a final do campeonato mundial de Cosplay: Cosplay World Masters!
Sem dúvida o ponto alto do dia! O recinto parou para contemplar toda a magnificência e poderio dos artistas participantes! As apresentações foram deslumbrantes, repletas de efeitos e com fatos de nos fazer esquecer de fechar a boca repetidas vezes.
O primeiro lugar não poderia ser para outra pessoa que não Andrea Milanovic da Sérvia, que interpretou Saint Celestine de Warhammer 40.000, com um surreal fato e interpretação da heroína do popular jogo de guerra.
O segundo lugar foi para Mônica Somenzari, do Brasil, que conquistou público e jurados com a sua fiel representação de Nuwa do jogo Musou Orochi Z.
O terceiro lugar pertenceu a um guerreiro da República Checa, Ales Strmiska, que reproduziu numa perfeição inigualável as armas e aparência do Cavaleiro do Apocalipse, The Death, de Darksiders 2.
Veredito final
Muitas foram as edições do Iberanime OPO em que a equipa do ptAnime esteve presente, alguns de nós desde os primórdios de formação do que seria o primeiro grande evento com tema de destaque sinérgico ao da nossa entidade, Anime, Manga e Cultura Japonesa.
A nostalgia e frenesim continuam patentes nos nossos corações, ainda que ultrajados pelos constantes erros e falta de respeito pelo derradeiro cerne, do que deveria motivar à produção e organização da mais icónica convenção de Anime, Manga e Cultura Japonesa do nosso país.
Comprovamos algumas melhorias, sem dúvida alguma, contudo muitas delas com um custo que levanta um misto de dúvida e contestação. É verdade que o Iberanime está a adaptar-se aos novos tempos, mas porquê a necessidade de diversificar algo cuja a qualidade é exatamente a especificidade dos conceitos explorados?
Há muita coisa a ser melhorada, e realço ainda a questão dos artistas. O Iberanime não deixa de ser um certame cultural, ou não estaria ele a albergar conceitos de arte nipónica, então, porquê a hostilização dos artistas? Para quê o desleixo da amostra da qualidade Anime e Manga em Portugal, que tanto nos deveria orgulhar? Porque não dão lucro? Porque passam muitas vezes ao lados dos visitantes, loucos por novas bancas repletas de merchandise? Não deveriam eles fomentar o oposto e incentivar a apreciação da arte nos jovens? É preciso de tudo, bom senso, qualidade de produtos, bancas, atividades tudo em equilíbrio com uma boa gestão financeira.
Em suma, o Iberanime é único e possui pontos demasiado positivos para os derradeiros amantes deixarem de participar, contudo, aclamo à modéstia, qualidade e fomentação da cultura em destaque no certame, porque uma coisa não se podem esquecer: o Iberanime deveria ser um evento cultural, não um festival de amostras.
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