Rolling Girls é uma obra original produzida pela Wit Studio, e foi lançada na temporada de outono de 2014. O primeiro episódio atinge-nos com um potencial acima da média, mas terá ela conseguido manter este grande nível?
Rolling Girls | Análise – Uma valente armadilha
Rolling Girls apresenta-se como aquele pedaço de queijo brilhante e suculento, que está no centro da ratoeira. Nós público, somos o pequeno e esfomeado rato durante os dois primeiros episódios. Somos incentivados pelo cheiro do gostoso queijo, e corremos de episódio para episódio para sabermos mais… mas assim que entramos no terceiro episódio: BANG… falece-nos a esperança.
Os dois primeiros episódios mostram-nos a potência que Rolling Girls podia ter sido. Um exemplar magnífico de uma produção visual frenética, estrondosa, cheia de impacto nunca antes visto, aliada a uma narrativa aleatória preenchida de aspetos interessantes, armas irreverentes e golpes celestiais! Claro que a nossa primeira sinapse é: eu não faço ideia onde isto vai dar, mas caramba, eu quero injetar mais episódios destes aqui p’ra dentro. Ingénuos os infelizes que avançaram destemidos para o terceiro episódio.
No caso de não lerem o resto da análise, e tenham chegado até este ponto, aconselho vivamente que desfrutem dos dois primeiros episódios de forma isolada, essencialmente que se debrucem sobre o primeiro episódio, de modos que é basicamente uma obra de arte.
A quebra desproporcional!
Apesar de nos ser apresentado no início um sabor salgado, este abandona-nos dando lugar a um sabor doce não muito bem-vindo. A partir deste ponto é iniciada uma leve viagem pelo mundo, com quatro amigas como foco. Estas têm como objetivo encontrar uns talismãs em forma de coração, enquanto ajudam os habitantes de cada cidade que visitam. Porém, este objetivo é rapidamente ultrapassado, de tal forma, que conseguimos sentir o quanto a narrativa se sente perdida. Não sabe o que é, não sabe para onde quer ir e nem sabe o que pretende ser, o que por consequência aumenta os nossos níveis de aborrecimento.
Através da progressão narrativa, os grandes aspetos que temperavam a obra num alimento original, vão-se perdendo um a um. Desaparecem as batalhas interessantes, o conceito peculiar, os aleatórios elementos de enredo, as personagens carismáticas, os conflitos de ideais, etc. Gradualmente a teia narrativa que se expandia em todos os sentidos, vai-se fundindo num só linha, transformando-se numa história completamente genérica, linear, conduzida através de personagens-tipo executadas de forma pobre.
Então, o que correu mal?
Fundamentalmente o que correu muito mal na escrita desta obra, não foi propriamente a vulgarização da estrutura narrativa. De maneira que, se desde o primeiro episódio esta fosse a proposta de argumento, então não seria assim tão mau. A falha encontra-se no dissabor e frustração que criam em nos mostrar algo nestas linhas: “então… nós conseguimos fazer esta maravilha estão a ver? Algo que pode muito bem tornar-se num clássico. Mas não o vamos fazer. Por isso vamos criar antes algo bastante vulgar com pouca substância, para que possamos cobrir garantidamente o investimento exorbitante que fizemos para a produção visual”. Eles não disseram isto claro (acho eu), estou só a divagar pela possível explicação.
A série não é terrível em qualidade pelo formato que estabeleceu a partir de certo ponto. É bastante consistente, nunca extrapolando os limites do universo criado, abordando temas bonitos de forma leve, como por exemplo: a amizade, a entre-ajuda, o perdão e o melhor de todos: as vantagens da unificação de uma sociedade, que não possui o aspeto monetário como elemento governativo. Ainda que não os aborde da melhor forma, nem da forma ideal, não é algo terrível, é apenas algo que nunca será muito mais que o mediano.
Arte em narcóticos
A obra foi criada pela Wit Studio, que são os estúdios responsáveis por parte da criação de Shingeki no Kyojin, pelo brilhante filme Hal e pela adaptação da manga de Owari no Seraph. Não se esperava menos que uma qualidade excecional e acima da média, e ainda assim fomos brindados com algo bem original. O mundo que a Wit Studio criou para Rolling Girls ultrapassa qualquer expetativa e ou previsão daquilo que eles poderiam criar. Vão além do já existente, forçando a barra para um nível de fantasia nunca antes visto!
Todo o ambiente parece ter sido construído por uma criança hiperativa, que sofreu privação de sono e de seguida lhe foi injetada uma dose engraçada de alucinogénos. Afirmo isto tudo, claro, com a melhor das intenções. Os cenários são construídos maioritariamente através de aguarelas, sem qualquer limite no que diz respeito à quantidade de cores utilizadas. Todo este fogo de artifício visual, caminha de mãos dadas com a animação 2D sólida. Esta, por sua vez, apresenta uma fluidez bastante consistente, dando origem a um universo completamente novo, sugando-nos para uma experiência única e gratificante.
No que toca a 3D também está tudo muito bem produzido, ao ponto de não se estranhar em nada quando este é inserido.
São poucas as vezes que nos deram a oportunidade de cheirar um mundo mais real, mas quando essa visão nos foi possível, mostraram um incrível resultado de hiper-realismo. Todo os frames são bons ao ponto de se tornarem facilmente dignos de serem encaixilhados, com lugar merecido ao lado de quadros com resultados semelhantes aos criados pelo célebre Vincent van Gogh.
A banda sonora, infelizmente, não tem nenhuma faixa que nos fique na memória. Em contrapartida, o design do som, tem combinações de sons fantasiosos que possuem a sua própria linguagem sonora, que assentam que nem uma luva no visual espalhafatoso.
Gostava de ver outras obras sobre esta estrutura, o que devo ver?
Pelo que a obra se estabeleceu, não nos dá muito espaço para a vangloriar em nenhum aspeto em específico, uma vez que existem obras que o fazem de melhor forma. O estilo narrativo episódico, sobre viagens, com muitas personagens e locais a serem visitados, onde existem temas pesados abordados, é algo que requer muita noção no momento da sua escrita. É possível executar este estilo sem se prenderem a limites, sem abandonarem o aspeto criativo completamente livre, e o Passado prova-nos isto de forma positiva. Não obstante, é algo complicado ao ponto de existirem pouquíssimos exemplares que o conseguem realizar com sucesso.
Destaco: Cowboy Bebop, FLCL e Trigun nos clássicos. Se procurarem algo mais contemporâneo nas mesmas linhas aproveitem: Space Dandy, Tengen Toppa Gurren Lagann e Samurai Champloo.
Juízo final
O que posso acrescentar aqui que já não tenha sido referido? Nada. Concluindo, a escrita é vazia na maior parte da história e as personagens são facilmente esquecíveis devido à sua falta de desenvolvimento, que é apenas notada no final da viagem quando todos os seu desejos convergem com as suas ações. A viagem apesar de por vezes ser agradável, não é algo que me apeteça voltar a fazer, ao contrário das obras bem executadas em cima mencionadas nas quais vão querer viajar nelas sempre que vos for possível.
A produção técnica viaja por caminhos nunca antes explorados, sobretudo no que diz respeito a aspetos visuais (especificamente os cenários pintados de forma estática, combinados com a animação 2D em movimento). O design de som foi também uma das experiências mas bem concretizadas neste departamento, uma vez que a equipa responsável conseguiu dar origem a sons que traduzem literalmente o colorido ensaio visual.
A obra pela narrativa não vale a visualização, a não ser que estejam a necessitar de algo muito leve sem grandes progressões. Vale a pena ver os dois primeiros episódios como aconselhei em cima, e quem estiver interessado nos episódios que os sucedem, vale pela arte nela contida, única e exclusivamente.
Análises
Rolling Girls
A obra pela narrativa não vale a visualização, a não ser que estejam a necessitar de algo muito leve sem grandes progressões. Vale a pena ver os dois primeiros episódios como aconselhei em cima, e quem estiver interessado nos episódios que os sucedem, vale pela arte nela contida, única e exclusivamente.
Os Pros
- Produção visual
Os Contras
- Desenvolvimento narrativo
- Personagens