Atualização 14/07/2022: O jogo foi originalmente lançado, em exclusivo, para a Nintendo Switch, consola na qual foi jogado e analisado. No passado dia 13 de Julho, foi disponibilizada uma versão para PC com conteúdos adicionais, melhorias visuais, mais opções de personalização de personagens e ainda dobragem em duplo idioma (japonês e inglês).
Rune Factory é uma conhecida, e amada, franquia de video-jogos. Apesar de ter um amigo que ama esta franquia de paixão, e este já ter tentando fazer-me jogar os jogos antes, este foi o meu primeiro contacto com a franquia! Então já aviso aos fãs de longa data, que esta é a análise de um novato no mundo de Rune Factory, dito isto o teu feedback e impressões são muito bem-vindas!
Rune Factory 5 – Análise
Os farming simulator (simulador de agricultura, tradução livre) hoje são muito famosos, principalmente após o jogo independente Stardew Valley ter feito tanto sucesso. Mas este estilo de jogo já existe há um bom tempo, provavelmente o jogo mais conhecido seja Harvest Moon, que teve o seu início em 1996 para o Super Nintendo, ou Super Famicom. A franquia cresceu, desenvolveu e dividiu-se em vários títulos. Após alguns problemas com direitos de publicação e de produção hoje temos duas franquias diferentes, a Harvest Moon da Natsume, que manteve o direito do nome no ocidente , e o Story of Seasons, da Marvelous e Xseed Games. Desta forma, apesar da mudança de nome, o que conhecemos como Story of Seasons é a continuidade oficial dos antigos Harvest Moons aqui no ocidente.
Quando o primeiro Rune Factory foi lançado em 2006, para Nintendo DS, esta disputa pelo nome Harvest Moon ainda não havia acontecido, e a franquia principal não havia se dividido. Desta forma o jogo foi desenvolvido pela Neverland e publicada pela Marvelous no Japão e pela Natsume nos Estados Unidos. Por isso o jogo era conhecido como Rune Factory: A Fantasy Harvest Moon, ou Rune Factory: Um Harvest Moon de Fantasia. Hoje, depois de todas as disputas, e com o nome já consolidado Rune Factory sustenta-se como um jogo solo, e está desvinculado ao nome Harvest Moon.
Rune Factory 5 é o segundo título da franquia para Nintendo Switch, apesar de Rune Factory 4 Special ser uma remaster do jogo de Nintendo 3DS. Foi desenvolvido e publicado pela Marvelous e XSeed Games em todo o mundo, teve o seu lançamento inicial em 20 de maio de 2021 no Japão, em 2 de setembro de 2021 na China e na Coreia e agora em 22 de março e 25 de março nos Estados Unidos e na Europa respectivamente.
Enredo
Como todo o bom RPG, em RF5 começamos desmaiados numa floresta, sem nenhuma memória e com alguém para salvar. Vamos tratar o nosso personagem principal como o protagonista, sendo que podemos escolher entre Ares ou Alice, dependendo se queremos um personagem masculino ou feminino. Ao acordar nesta floresta salvamos Hina de um monstro, levámo-la para a cidade e logo de seguida já desmaiamos. Quem nos leva para a médica da cidade são Lucy e Priscilla.
Ao acordarmos somos apresentados a alguns personagens – não irei gastar tempo aqui com cada um deles – e somos levados para Livia, capitã do posto SEED em Rigbarth. Muitos nomes, mas logo irei explicar todos eles. Ela então avalia o protagonista, indicando que este não apresenta nenhum risco para a cidade, e oferece-lhe uma moradia em troca de serviço. Este serviço resume-se em ser um Ranger neste posto SEED, e cuidar da quinta deles. E é aqui que o jogo começa.
Personagens e Entidades
Uma das mecânicas mais importantes de Rune Factory, que ela herda de Harvest Moon, é a da interação e socialização. O jogo tem basicamente dois objetivos, o histórico e o social. O histórico é entender quem é o protagonista e consequentemente salvar o mundo, o que é o normal num RPG. O social é casar, para isso temos que interagir com os cidadãos da cidade e aumentar nosso nível de amizade com cada um deles, escolher aquele ou aquela com quem queremos casar e investir neste relacionamento. Um ponto relevante aqui é que independente de selecionarmos Ares ou Alice, os pretendentes são os mesmos.
O jogo passa-se na cidade de Rigbarth. Nela temos diversos negócios, Ferreiro, Padeiro, Restaurante, Hospital, Investigador, Loja de Conveniências, Termas, Mercearia, Vendedores de Cristais, Floricultura e o Posto da SEED. A SEED é uma organização criada para proteger as cidades e as pessoas dos monstros que vivem nas florestas e montanhas. Toda cidade tem um posto da SEED e os seus Rangers, que podemos traduzir como Guardas-Florestais, que estão nas cidades para trazer paz e auxiliar a todos os que precisarem.
Quando iniciamos o jogo não são todos estes locais que estão disponíveis, alguns irão aparecendo somente conforme desenvolvemos a história, da mesma forma que mais personagens vão aparecendo. O jogo é estruturado de forma a valorizar um ritmo equilibrado de jogo, focando um pouco na vida da quinta/social e um pouco na parte de exploração/histórica. Somente os dois estão alinhados é que o jogador irá conseguir aproveitar o jogo como pretendido. A própria personagem Livia fala por diversas vezes: Aaa relaxa, não há pressa.
Mecânicas
Como o jogo tem várias mecânicas diferentes, vou falar sobre cada uma, tópico por tópico, talvez não necessariamente na sequência que faça mais sentido, mas na que me parece relevante.
Relacionamentos
Como já falado, os relacionamentos são parte fundamental da franquia Rune Factory, aqui temos doze pretendentes, seis masculinos e seis femininos, entre humanos, meio elfos, divindades, homens-bestas e até sucubus. Eles tem as mais diversas personalidades, de forma a agradar aos jogadores. Confesso que este é o recurso que menos me atrai em Rune Factory, sou mais voltado para jogos story-driven do que para estes simuladores.
Além dos nossos pretendentes, temos os cidadãos normais da cidade, e eles também tem uma barra de relacionamento. De forma geral devemos investir em ser amigo de todos, para ganharmos presentes, descontos e interações únicas. Para aumentar o nível de relacionamento quase tudo vale. Conversar ao menos uma vez com todos eles por dia, dar presentes aleatórios e no dia de aniversário de cada um. Realizar missões de romance, essas missões aparecem no mapa para serem feitas e algumas tem várias partes e levam alguns dias para serem realizadas.
Uma vez que tenhas certo nível de amizade com os personagens podes chamá-los para aventurar-se contigo, de forma que cada um tem seu próprio nível, arma e equipamento. Podemos fabricar e dar equipamento para deixa-los mais fortes. Isso também irá aumentar o nosso relacionamento com eles. O ponto máximo é o casamento, uma vez que se escolha um parceiro e case-se com ele, podes ter um filho ou filha, e a criança cresce até a idade de interagir com os outros NPCs.
Crafting
Outra mecânica central no jogo é o Crafting, e aqui eu vou usar este termo para generalizar tudo aqui que podemos fazer nós mesmos. Nós podemos comprar e achar quase tudo no jogo, mas o bom mesmo é fazer nós mesmos aquilo. Para isto nós temos que comprar diversas mesas e usá-lás para fabricar os itens. Uma Cooking Table permite-nos fazer comidas simples, junto a um forno, comidas mais elaboradas.
Com esse pensamento podemos fabricar Comidas, Poções, Ferramentas, Armas, Armaduras e Acessórios. Cada um destes tem o seu próprio nível, o que nos permite aprender novas receitas e produzir produtos melhores. Fabricar itens consome RP, que funciona como a energia do nosso personagem. Itens mais complexos necessitam de mais RP, para termos mais RP precisamos evoluir de nível nas habilidades. Este ciclo obriga o jogador a e ir com calma, a fazer uma coisa de cada vez, aproveitar o tempo do dia dele e ver exatamente onde investir a energia, tempo e recursos.
Fazenda
A mecânica mais tradicional, junto a de relacionamentos, é a da fazenda. Temos que, obviamente, cuidar da terra, plantar sementes e regá-las. Simples, certo? Mas tem mais. O calendário é dividido em quatro meses, representando as quatro estações. Então cada fruta, flor ou legume produz melhor em determinada época do ano, cada uma leva um tempo diferente para produzir e precisa de um cuidado diferente do solo. O nível do solo vai indicar se teremos uma fruta ou fruto de maior ou menor qualidade.
Manter o local de cultivo sempre limpo é um desafio, porque surgem sempre novas pedras, gravetos e ervas para colectar. Eu por diversas vezes deixei a bagunça reinar, por preguiça de ficar caçando e limpando tudo. Aparecem, conforme o decorrer do jogo, alguns Farm Dragons, não falarei quantos. Eles são dragões que tem locais de agricultura em suas costas, geralmente maiores do que a que temos em Rigbarth, assim podemos plantar mais, vender mais e assim aumentar o fluxo de itens e sementes.
Da mesma forma que todos os elementos do crafting nos geram níveis, todas as ações da plantação nos geram nível. Arar a terra, plantar, regar, cortar madeira, esmagar pedra, cuidar dos monstros que domamos, andar, nadar, tomar banho, dormir, jogar um item, usar espada, espada de duas mãos, martelo, foice, lança. Tudo gera um nível único e é essencial para ter um bom nível.
Exploração
Esta é a mecânica que eu mais gosto, a parte que envolve de facto o RPG. Como Ranger devemos manter a paz e isso implica sair em missões para explorar regiões e caçar monstros. Temos todas as armas citadas acima e algumas magias, fogo, água, vento, terra, trevas, luz. A exploração ocorre em lugares abertos, com elementos clássicos, floresta, deserto, gelo e fogo. Mas há também as dungeons, com vários andares a serem explorados, baús a serem encontrados e sempre há um chefe no final a nos aguardar.
Algumas armas têm elementos específicos, seja fogo, água ou algo assim, se usarmos uma arma desta em um monstro do mesmo elemento ao invés de tirarmos vida deles, eles a recuperam. Então é sempre bom ter umas três armas armazenadas, para poder ir revezando entre elas. O equipamento correto faz todas diferença nas batalhas das dungeons, e a party correta também. Sua vida será muito mais fácil se conseguir manter diversos personagens bem equipados e com bom nível. Mas no final das contas, a missão final, é somente o protagonista e o grande vilão.
A parte boa
Rune Factory traz muitas mecânicas, o que o torna um jogo bem complexo e divertido. Para aqueles que gostam de jogar com calma, aproveitar os diálogos, planear as suas plantações, caças e domar os monstros. O jogo é um prato cheio. Entrega uma experiência agradável, apesar de não perfeita.
Tem, além de tudo já comentado, diversos minigames e detalhes das interações entre os personagens. Podemos personalizar a casa em que vivemos, podemos aumentar o estabelecimento dos NPCs, para ter mais itens e venda ou, por exemplo, novas roupas. E apesar de ter tanta coisa, ele não é complicado. É de fácil aprendizagem e convidativo ao gameplay, por vezes eu parei de jogá-lo e fiquei a pensar nele, de forma que quando fui jogar novamente já tinha um plano formado em mente.
A parte má
Trazer tantos elementos corre o risco de ser muita responsabilidade. RF5 é o primeiro 100% 3D da franquia, enquanto os outros, que nasceram no Nintendo DS, funcionavam com uma base de grid, ou seja cada elemento em um espaço definido, aqui é tudo livre, de forma que fica um pouco difícil lidar com algumas mecânicas. Para deixar um exemplo, se tem uma pedra do lado de sua plantação e você for usar o martelo na pedra, que seja o mínimo errado o posicionamento do personagem, ele erra a pedra e destrói a plantação. Isso é muito frustrante.
O jogo apresenta certa dificuldade de renderização. A regra é, toda as vezes que saires de um ambiente fechado para um aberto ele irá perder frames, dar uma leve travadinha e demorar para carregar o mapa e os detalhes visuais. Se estiveres com uma plantação bem carregada, certamente ela demorará um pouco para aparecer por completo. Para alguém que jogue de forma casual, pode não afetar a experiencia, mas para pessoa, que como eu, realizam as coisas nos jogos com urgência e pressa, incomodou.
Mas o meu maior problema foi nas etapas finais do jogo, aonde alguns inimigos, e eles usaram várias vezes estes inimigos, possuíam golpes hit-kill. Um golpe hit-kill é um golpe que, independente do seu nível de personagem e nível de defesa, ele irá matá-lo em um único ataque. Ele ignora todas as defesas e simplesmente mata o personagem. Entrar numa sala com quatro inimigos destes, ou passar em um corredor apertado com dois portais de monstros, oito inimigos e entre esses oito, dois usam somente este golpe. Muito frustrante. Para mim, até desonesto com o jogador.
Juízo Final
Rune Factory 5 finalmente está entre nós, do ocidente, e eu gostei muito do que joguei. Como eu disse, foi minha primeira vez jogando um jogo da franquia, e ele entregou o que eu imaginei que entregaria. Há seus erros de execução, bem como estes pontos negativos do final da minha caminhada, e sim, eles foram decisivos para que eu baixasse a nota. Mas, para todos que gostam de jogos do género farming sim, e aventura casual, Rune Factory é o pedido perfeito.
Quero saber de vocês! O que estão a esperar de Rune Factory 5? Para quem já jogou, o que acharam?
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Análises
Rune Factory 5
Após uma longa espera, os fãs de Rune Factory finalmente têm um novo jogo para aproveitar e desta vez diretamente na Nintendo Switch. Mas, a grande questão é: Rune Factory 5 faz jus a seus antecessores?
Os Pros
- História
- Personagens
- Sistema de progressão
Os Contras
- Quebra de framerate
- Demora em carregar elementos
- Inimigos "injustos" na reta final do jogo