Sakurasou no Pet na Kanojo conta-nos a história de Kanda Sorata, um aluno que foi expulso do dormitório da escola por ter acolhido um gatinho de rua. Sem outra alternativa, o protagonista acaba por se mudar para Sakurasou. Uma casa onde os alunos problemáticos da escola estão hospedados. Ainda que reticente com a ideia da mudança, Sorata não vê outra alternativa. Pouco tempo depois, uma nova inquilina invade a casa. Contudo, esta rapariga tem uma particularidade: não sabe o que é ser independente e nem sequer sabe cuidar de si própria. Assim, Sorata e Shiina acabam por desenvolver uma relação de “mestre” e “animal de estimação”.
Inicialmente, Sakurasou e só mais um Slice of Life. O começo é lento e simples, nada de realmente incrível surge nos primeiros episódios. Os entusiastas de Slice of Life sabem bem que, regra geral, as histórias têm sempre uma introdução calma antes de partirem para o que realmente interessa. Esta obra em questão não é diferente. Primeiro presenteia-nos com um cenário tipicamente mundano, posteriormente introduz as personagens de uma maneira um pouco confusa e só depois de algumas peripécias cómicas surge o “problema” que nos vai acompanhar até ao longo de vinte e quatro episódios.
No fundo, Sakurasou é mais um daqueles animes que se apresenta como algo leve e divertido e que ilustra muito bem aquele antigo ditado “Não julgues um livro pela capa.”
Sorata era um rapaz que carregava em si o preconceito imposto pelos restantes alunos relativamente a Sakurasou. Afinal, segundo todos à sua volta, incluindo os professores, só jovens mal comportados e com problemas de personalidade habitavam aquele velho edifício. Na realidade, Sorata já sabia que ao entrar ali seria automaticamente rejeitado e apelidado de esquisito. É evidente o descontentamento da personagem nos primeiros episódios. Evita conversar com os outros moradores, limita-se a ficar no seu canto fazendo figas para que não percebam a existência dele.
Só que é neste ponto que Sakurasou deixa de seguir o enredo de uma comédia comum e carregada de clichés e se começa a focar mais na vertente do drama. Rapidamente entendemos que nenhum dos habitantes daquela casa tem problemas mentais como todos afirmavam tão convictamente. São apenas jovens com vocações diferentes, que querem trabalhar nos seus próprios sonhos em vez de estudar. Nenhum deles quer ser médico ou engenheiro, na verdade nenhum deles se importa com a opinião da sociedade.
E como todos eles são ovelhas negras desviadas do “caminho correto”, porem-nos de lado foi a forma mais simples que a escola arranjou. Eles estão ali para irem atrás do que acreditam, sem se esquecerem que são humanos. Todos eles tiveram o seu passado atribulado e todos eles cometeram erros. Simplesmente em vez de se ficarem eternamente a lamentar, seguiram em frente e foram capazes de dizer: “estamos vivos, então vamos continuar e dane-se o que os outros vão pensar”.
Outra coisa realmente interessante é que nem todos os personagens nasceram dotados de um incrível talento. Alguns tiveram de se esforçar o anime inteiro para conseguirem o primeiro elogio, outros foram rejeitados uma e outra vez até acertarem. É isso que acrescenta uma profundidade à história e uma semelhança incrível com a vida real. Existem pessoas que possuem um dom natural para uma certa função e existem pessoas que vão ter de lutar para chegar ao mesmo patamar. É um enredo com que muita gente se vai identificar. Afinal, já todos sentiram que estavam no lugar errado e que não pertenciam ali, já todos tiveram a sensação de estar a investir tempo e paciência em algo que não ia render frutos, mas continuaram porque era o mais correto a se fazer. Principalmente jovens que se encontrem na transição para a vida adulta vão rever-se em cada uma das personagens do anime.
Sakurasou compromete-se a ser um anime de romance, mas sinceramente, não vai muito além disso. Existem casais, existe um triângulo amoroso e existem algumas demonstrações de afeto, no entanto o foco realmente é a amizade entre as personagens.
Novamente, parabenizo esta história. Ao contrário do que seria de esperar, a relação entre os seis inquilinos não é coesa desde do início do anime. Existe um processo e uma sucessão de eventos que vai fortalecendo os seus laços. Pequenas coisas como terem de trabalhar juntos em algum projeto escolar, desempenharem tarefas domésticas em conjunto e viverem simples percalços quotidianos na companhia uns dos outros, faz com que a sua amizade cresça de forma natural e espontânea. Afinal, todos eles eram casos perdidos que juntos tiveram de provar à sociedade que sabiam o que estavam a fazer. Pessoalmente, a mim ensinaram-me que o conceito normal devia ser, ser-se feliz e não viver em prol de estereótipos.
Apesar de termos seis personagens principais, é incrível como em vinte e quatro episódios conseguiram abordar cada uma individualmente e mostrar as suas histórias. Mesmo aqueles que pareciam estar longe da ribalta acabaram por ter o seu momento de destaque. Obviamente os protagonistas são o Sorata e a Shiina, e isso é inegável. Dá-se mais enfâse aos percalços dos mesmos.
Aposto que alguns de vocês ficaram assustados com o que é dito na premissa sobre a relação destes dois. Bem, antes que pensem em sadomasoquismo ou num romance estupidamente abusivo deixem-me explicar.
A Shiina é uma das personagens mais diferentes com que eu me cruzei. É uma pintora talentosíssima que deixou a sua promissora carreira em Inglaterra. Mudou-se para o Japão com o desejo de ser mangaká. Só isso já dá que pensar. Ela tinha fama e renome no seu país de origem, tinha praticamente o seu futuro garantido e escolheu deixar tudo isso para viver o seu verdadeiro sonho. Shiina expressava-se através da arte e não conseguia desempenhar pequenas tarefas do dia-a-dia porque não via significado nelas. Acabou por ficar dependente de Sorata para conseguir viver a vida de uma estudante normal. É maravilhoso ver como ela demonstra os seus sentimentos de uma maneira diferente e tão única. Sorata seria o típico herói de um Slice of Life, se não fosse a primorosa maneira como lutou pelos seus objetivos e cuidou da Shiina durante o anime inteiro.
Destaco também a Misaki. Foi a personagem com que mais me identifiquei. Especialmente pelo facto de estar sempre alegre e tentar fazer os outros rir. Sofreu calada grande parte do anime, sempre com um enorme sorriso.
Sakurasou no Pet na Kanojo | Ambiente
Adoro a arte de Sakurasou. A obra foi muito bem animada principalmente nas cenas mais importantes da trama. Tratando-se de um Slice of Life e não de um anime de ação, o trabalho feito pela J.C. Staff foi notório. Não fosse ela uma das maiores produtoras da indústria. As cores são vivas e alegres, as personagens são esteticamente bonitas e o ambiente do mundo real foi bem conseguido.
A banda sonora é pouco inferior à arte. As aberturas são realmente muito boas, mas a música ambiente fica um bocadinho aquém do que seria de esperar. Contudo, tem uma diversidade engraçada, oscilando entre música clássica e faixas mais alegres.
Sakurasou no Pet na Kanojo | Juízo Final
Apesar de Sakurasou ter uma mensagem fantástica e ser um anime divertido, continua a ser um Slice of Life. Sendo assim para quem não é entusiasta do género, não vale a pena apegar-se à premissa do anime.
É sem dúvida uma obra com qualidade acima da média, porém tem também os seus problemas. Estes, por mais pequenos que sejam acabam por atrapalhar o desenvolvimento do anime. O ritmo lento, as cenas clichés de fan service e as piadas típicas de animes do género deixam um pouco a desejar. Mesmo sendo considerado um drama, a trama não foi feita para nos fazer chorar e sim refletir. Contudo, depois que a história começa a desenvolver, somos surpreendidos a cada episódio, apegamo-nos aos personagens e descobrimos os seus sonhos com o passar de cada aventura.
Não posso afirmar que é unanime a avaliação que fiz do anime. Mas como já disse e volto a frisar: apenas procurem Sakurasou no Pet na Kanojo se gostarem de um ambiente realista e se estiverem habituados a uma história que avança devagar.
Análises
Sakurasou no Pet na Kanojo
Um Slice of Life de qualidade acima da média com ótimas personagens que merecia mais destaque.
Os Pros
- Premissa
- Personagens
- Desenvolvimento no Geral
Os Contras
- Nada de relevante a apontar