O realizador de anime Shinji Takamatsu (Mobile Suit Gundam Wing, Gintama, School Rumble, Kochikame), respondeu no seu Twitter ao episódio do Close-Up Gendai+ que foi focado no lado negro da indústria anime. O episódio abordou este lado com algum detalhe e foi acompanhado por alguns veteranos da indústria. Por um lado, Takamatsu concordou com o retratado das condições de trabalho e as consequências inerentes, mas, por outro, criticou algumas opiniões expressadas.
Shinji Takamatsu responde ao Documentário da NHK
Ele afirmou que recorrer ao uso de inteligência artificial e computação gráfica não irá, de modo algum, ajudar o estado atual da indústria, porque irá colocar de fora os animadores que já se encontram em dificuldades. Afirma que um anime tem, normalmente, orçamentos mais elevados que qualquer outro programa televisivo, porém, como os custos de trabalho são agrupados de forma indiscriminada, o pagamento que cada indivíduo recebe é menor. Cada episódio de anime envolve o trabalho de centenas de pessoas. Para se explicar melhor adicionou o seguinte exemplo:
Se recebermos um orçamento de 80.000€ e tivermos que o dividir por 200 pessoas, isto significa que cada pessoa apenas recebe 400€.
Algumas pessoas mencionaram que uma possível solução passava por diminuir a quantidade de anime produzido e aumentar os orçamentos de cada anime. A isto ele respondeu:
Este tipo de pensamento não faz sentido nenhum. Se um estúdio estiver a produzir um anime de um cour, com um orçamento alto, isso não significa que o anime vai vender. Duplicar o orçamento não duplica o lucro. Eu acho que ninguém se vai lembrar de fazer algo tão arriscado.
Em 2015 as séries tinham uma média de 1 milhão de euros de orçamento. Pensar que se vai obter lucro deste orçamento apenas com vendas de cds é um modelo de negócio sem saída. Mas é assim que funcionam praticamente todos os títulos que são transmitidos no horário noturno. Atualmente existem pouquíssimos animes com lucro considerável.
Mencionaram também que o realizadores recebem porções de lucro [royalties], mas isso não é verdade. Pelo menos eu nunca recebi. Acredito que realizadores com um determinado estatuto tenham contratos onde recebem royalties. Mas, por norma, não importa o quanto um anime venda o diretor não vai receber nada desse lucro.
Muita gente acredita que Osamu Tezuka, criador de manga e de anime, também conhecido como “O Deus do Manga”, é culpado do estado atual da indústria. Ele foi o produtor e criador do primeiro anime televisivo: Astro Boy, que foi criado com um orçamento bem pequeno. Tezuka depois lucrou a partir de merchandising e a partir do dinheiro que ele investiu do próprio bolso na produção.
Porém, Takamatsu rotulou esta explicação como uma lenda urbana.
Tem tanto de verdade como de mentira. Astro Boy foi vendido a uma rede televisiva a baixo preço. Contudo, Tezuka acreditava que os outros estúdios não iriam produzir anime por aquele preço. Então, um dos pais e fundadores do anime como o conhecemos hoje, manteve o monopólio e pagou aos animadores do próprio bolso.
Takamatsu depois colocou uma imagem clássica do recrutamento da Mushi Productions, na mesma altura que Astro Boy foi produzido. Tendo em conta a economia existente em 1963, Takamatsu acredita que a Mushi Productions tratava muito bem os seus empregados. Apontou ainda que, em 1973, a Mushi Productions fechou as portas por falência, e alguns dos empregados formaram a Sunrise. Estes em vez de se centrarem num só criador, como acontecia com a Mushi Productions e com o Tezuka, decidiram centrar-se em grupos de produtores.
Eu acho que esta estrutura de produção está a atingir o seu limite. As falências irão mudar a forma como tudo é estruturado. Acho que isto poderá acontecer nos próximos 5-10 anos.
虫プロはアニメーターを社員として雇ってたし、待遇も良かったという。 pic.twitter.com/t3E9B6bamu
— 高松信司 (@takama2_shinji) 11 de junho de 2017
Fonte: Anime News Network