Weekly Shonen Jump: Kishimoto Sensei e Kosuke Yahagi, o criador de Naruto e o atual editor-chefe da Jump SQ, respetivamente, juntaram-se hoje para falar um pouco sobre a jornada da obra, desde que começou a sua publicação até ao fenómeno mundial em que se tornou.
WSJ: Para começar, como se conheceram?
Masashi Kishimoto: A minha primeira submissão, Karakuri, ganhou uma menção honrosa para o prémio HOP STEP, e a parte editorial da Jump chamou-me para me contar sobre este feito. Naquela época, foi-me destacado um editor: Yahagi-san. Ele apresentou-se e começou logo por me fazer algumas questões.
WSJ: Que tipo de questões?
MK: Ele perguntou-me se eu estava preparado para ser um criador de manga. Obviamente que respondi que sim, mas pensei logo “isto é que é mesmo o lado profissional e sério”. Por causa disto e de muitas outras coisas, eu sempre mantive uma relação de confiança para com ele, logo desde o início.
WSJ: Qual foi a sua primeira impressão sobre Yahagi?
MK: Eu pensei que todos os editores da JUMP deviam ser seres perfeitos que sabiam tudo sobre manga.
Kosuke Yahagi: Wow, estavas mesmo errado então! (risos)
WSJ: Naquela época, tinhas aproximadamente 25 anos e era o teu segundo ou terceiro ano na Jump, correto?
KY: Correto.
MK: Yahagi-san era uns três anos mais velho que eu.
KY: Eu era intimidador? (risos)
MK: Para qualquer novato neste ramo, um editor é tipo o guardião das portas do inferno. Acabas sempre a pensar coisas do género: “Se ele não gostar de mim, o resto da minha vida está completamente arruinada!“.
KY: Bem, isso não é assim tão mau. (risos)
MK: Quando te reunes com outros criadores de manga ouves sempre coisas do género: “Não deves aceitar tudo o que o teu editor diz, certo?” as quais acabo por responder: “Isso é verdade”, ao que os outros respondem: “Mas tu fazes sempre o que ele te diz para fazeres!”. É verdade …. (risos).
Shonen Jump entrevista Masashi Kishimoto e Kosuke Yahagi
WSJ: De que formas sentiu que o Kishimoto tinha este talento?
KY: Comparando com todos os artistas daquela época, a arte dele já era forte. Tinha estilo. Mas era também muito sombria. As personagens dele tinham sempre umas linhas por baixo dos olhos. E na altura lembro-me de pensar “Porque é que ele faz isto assim, que desperdício”, mas depois compreendi que era uma lufada de ar fresco.
MK: Exatamente. Foi algo que me disseste que tinha que corrigir.
WSJ: Quantos artistas estavam sobre a sua alçada na altura?
KY: Eu tinha contacto com mais de 200 artistas, mas só estava a avaliar páginas de cerca de metade deles.
WSJ: Cem? Portanto, no meio de tanta gente, que número era o Kishimoto Sensei?
KY: Se eu tivesse que escolher um top dez, ele estaria com certeza nessa lista, mas também não era uma escolha óbvia quando comparado aos restantes participantes. Além disso, ele não vivia perto, o que tornava complicado para ele trazer novos trabalhos de forma assídua.
MK: Fiz-lhe a mesma pergunta na altura. Lembro-me de ficar maravilhado pela quantidade de obras que ele tinha que ver.
KY: Quando estamos constantemente a pensar em Manga, ela também começa a aparecer nos nossos sonhos. E eu via com frequência a obra do Kishimoto nos meus sonhos. Acabei por ficar mesmo esperançoso que este sonho se tornasse realidade.
WSJ: Enquanto lutam pela serialização, o processo torna-se algo realmente complicado. Como foi criar os sucessivos one-shots?
MK: Após vencer um prémio HOP STEP, criei uma pequena história chamada Michikusa. Contudo, disseram-me logo que a história era demasiado pessoal e que me tinha que focar mais em entreter o leitor. Isto foi para mim uma grande revelação. Disseram-me então que tinha que criar mais cenas ao estilo das melhores existentes em Karakuri. Falou-se ainda em analisar Slam Dunk para estudar e melhorar a forma da construção narrativa.
KY: Depois disto, Naruto foi então criado como one-shot, e tanto as personagens como as reações dos leitores foram extremamente positivas. No entanto, no one-shot, o Naruto não tinha a Nove Caudas selada dentro dele, ele era a própria criatura. Por esta razão foi difícil tornar a obra numa publicação contínua. Então decidimos olhar de novo para todos os trabalhos já criados e tentar desenvolver Karakuri uma vez mais.
Shonen Jump entrevista Masashi Kishimoto e Kosuke Yahagi
Damos assim por terminada a primeira parte da entrevista. Seguem-se ainda duas partes que serão publicadas entretanto. Mantenham-se atentos!