Weekly Shonen Jump: Enquanto lutavam pela publicação semanal, o processo tornava-se algo realmente complicado. Como foi criar os sucessivos one-shots?
Masashi Kishimoto: Após vencer o prémio HOP STEP, criei uma pequena história chamada Michikusa. Contudo, disseram-me logo que a história era demasiado pessoal, e que me tinha que focar mais em entreter o leitor. Isto foi para mim uma grande revelação. Disseram-me então que tinha que tentar criar mais cenas ao estilo das presentes em Karakuri. Também falamos sobre ler a fundo Slam Dunk, para estudar a melhor forma de construção narrativa.
Kosuke Yahagi: Depois disto, Naruto foi então criado como one-shot, e tanto as personagens como as reações dos leitores foram extremamente positivas. No entanto, no one-shot, o Naruto não tinha a nove caudas selada dentro dele, ele era a própria criatura. Por causa deste único elemento, era muito complicado criar uma publicação contínua a partir única e exclusivamente desta premissa. Então, decidimos olhar de novo para todos os trabalhos já criados, e escolhemos desenvolver Karakuri pela última vez.
MK: Acabamos por melhorar Karakuri e, exatamente nessa altura, foi-me oferecida a oportunidade de criação de um one-shot para a Weekly Shonen Jump.
KY: Basicamente, conseguimos entrar na revista sem sequer termos ganho a competição. Isto significa que tinham expetativas altas pelo nosso trabalho. De qualquer das formas, nós não tínhamos tempo suficiente para nos preparar-mos da forma correta.
MK: Eu só tive aproximadamente duas semanas para trabalhar, assim que decidimos a história. Eu tive que criar os storyboards num dia!
Shonen Jump entrevista Masashi Kishimoto e Kosuke Yahagi
WSJ: Como foi a reação?
KY: Muito mau. Nem conseguimos um bom lugar nas votações.
MK: Foi uma chamada de atenção bem dura. Até este momento estivemos sempre a ter reuniões num escritório privado. Todavia, depois do one-shot ter estreado, começamos a reunir-nos no local onde os restantes estreantes estavam a ter as reuniões. Lembro-me de pensar: “bem, eles sabem mesmo como colocar cada pessoa no seu lugar”.
KY: Depois já tivemos muito mais tempo para trabalhar sobre os pontos mais importantes do one-shot de Naruto, e saí-mo-nos muito bem nas votações. O que correu mal na anterior, com Karakuri, foi mesmo a falta de tempo que nos foi fornecida.
MK: Agora percebo a diferença e o porquê de Naruto ter funcionado e Karakuri não.
WSJ: E o que foi?
MK: É a personagem principal. O sorriso do Naruto é honesto, enquanto a personagem principal de Karakuri não transmite confiança. Depois disso, cheguei a criar uma manga de basebol, mas não foi a lado nenhum. Pensei que o meu trabalho com as revistas shonen tinha chegado ao fim, então trabalhei na obra Mario.
KY: Durante este período, ele não me trazia quase storyboards nenhuns, mas ainda assim eu conseguia perceber que ele estava mesmo a progredir. Depois de não me dar notícias sobre nada, telefonei-lhe e ele disse-me que estava enclausurado a trabalhar na obra Mario. E foi quando ele me pediu para lhe dar indicações de uma revista seinen.
MK: E foi aqui que ele me disse que podia transformar esta obra numa base shonen, e assim não tinha que abandonar a revista.
KY: A manga sobre basebol era sem dúvida com teor seinen, mas com Mario o seinen foi ainda mais longe. Foi aqui que lhe pedi para tentar shonen pela última vez, mas claro, se ele recusa-se eu nada poderia fazer.
MK: Depois deste pedido eu criei uma manga chamada: Magic Mushroom. Mas, de forma repentina, recebi uma chamada para deixar de construir one-shots, e para preparar uma série para ser publicada de forma assídua. Fiquei bastante estupefato.
KY: Mario era muito bom, e eu sabia que ele tinha a habilidade necessária para a concretizar. Porém, acabamos por decidir refazer a obra de Naruto, assim como o universo da mesma, e submetê-la para aprovação. Os três primeiros capítulos foram colocados em storyboard, e o primeiro capítulo estava mesmo muito bom.
MK: Lembro-me de me dizeres que estava perfeito.
KY: Contudo, quando submetemos Naruto para ser publicado, estava em competição direta contra mais duas obras com a temática “Ninjas”. E uma delas era de um artista com um excelente repertório. Estávamos mesmo preocupados. No entanto, conseguimos ganhar o lugar. Depois disso, tivemos seis meses para preparar a nossa rampa de lançamento. O primeiro capítulo estava óptimo como estava, então decidimos melhorar tudo a partir daí.
Shonen Jump entrevista Masashi Kishimoto e Kosuke Yahagi
WSJ: Normalmente são cerca de dois meses até começar a preparação, certo?
MK: Foi isso que me deu o tempo suficiente para me mudar para Tóquio. Tive mesmo muita sorte pelo tempo que me foi dado.
KY: O atual capítulo dois era o capítulo quatro. De forma a nos focarmos um pouco mais na personagem principal, moldamos um pouco a estrutura ao contrário.
MK: O capítulo dois foi o mais complicado. Penso que na altura o reeditei umas duas ou três vezes.
KY: Nós queríamos que os primeiros dois capítulos se focassem exclusivamente na personagem principal. Com a introdução de Konohamaru, tivemos a oportunidade de mostrar as personagens a serem “asneirentas”, e claro, mostrar um pouco do quão badass o Naruto podia ser. Queríamos também desenvolver bem o universo que estávamos a criar, sempre com um bom fundamento estabelecido.
Shonen Jump entrevista Masashi Kishimoto e Kosuke Yahagi
WSJ: O Sasuke e a Sakura, fazem a sua primeira aparição no capítulo 3.
MK: Yahagi-san disse para me focar na personagem principal nos dois primeiros capítulos. E depois para usar o terceiro capítulo para introduzir o rival, a heroína, e claro, para criar um triângulo amoroso com estes. Eu não sou muito bom com personagens femininos, então eu nem estava a planear algo assim desde o início. Mas, a partir do momento que consegui estabelecer este triângulo, os capítulos que se seguiram foram muito mais fáceis de desenvolver. Fiquei mesmo surpreendido, pelo quão bom aquele conselho foi. E é exatamente por isto que ouço quase sempre o que o Yahagi-san me diz. Porém, também tivemos as nossas discussões. Uma vez estivemos a discutir durante 6 horas para que eu segui-se o conselho. Ele consegue ser bastante persuasivo, portanto às vezes não tenho escolha.
Damos assim por terminada a segunda parte da entrevista. Segue-se ainda uma terceira parte que será publicada entretanto. Mantenham-se atentos!