Toda a controvérsia envolta nesta série só aumenta a popularidade da franquia a níveis bastante transcendentes. Ainda assim, para que lado cai a primeira sequela do tão aclamado/odiado Sword Art Online?
Sword Art Online II | A História
A narrativa começa com um encontro de Kirito com Asuna. Estes vagueiam por diálogos extremamente interessantes, que nos posicionam temporalmente, que nos avivam a memória de aspetos importantes do passado e até falam sobre o futuro de cada um, nomeadamente objetivos pessoais após o término do secundário.
Antes destes bons momentos com Asuna, Kirito encontrou-se com Seijirou. Após a morte que acontecera em Gun Gale Online, descobriram que o jogador não só morreu no jogo mas também morrera na vida real. Ora, uma vez que a primeira versão de full dive (nervgear), deixou de ser comercializada impedindo que o jogador não fosse fisicamente prejudicado com acontecimentos do jogo, seria impossível alguém morrer por algo que acontece dentro do mesmo. A tecnologia atual (AmuSphere), foi produzida com o principal objetivo de não atingir o corpo real do jogador seja em que circunstância for! Seijirou pede então que Kirito o ajude a descobrir a verdade.
Sword Art Online II | Um tabuleiro cheio de peças sem ligação
Todos os amores e ódios incondicionais perante este título, transitaram de temporada para temporada, tendo sido intensificados.
Eu nem amo nem odeio a obra, não existe qualquer razão para a colocar num altar, da mesma forma que não existe qualquer razão para a queimar, porque de facto, ela não merece nem uma coisa, nem a outra. Se existe algo em que Sword Art Online II brilha, é com certeza na sua inconsistência qualitativa entre sagas. Ora temos algo mediano, ora temos algo que nem deveria ter sido escrito, ora temos algo relativamente acima da média. E tudo isto reflete-se de forma clara e negativa, nas várias divisões desta segunda temporada. A linha narrativa encontra-se então divida em: Phantom Bullet, Excaliber, Mother’s Rosario e alguns momentos/episódios originais – ou seja, não constam no material fonte.
Apesar de Phantom Bullet não ter sido o arc mais forte, foi o mais consistente. A premissa do mesmo é uma temática reinventada da primeira parte da primeira temporada, mas o jogo em si é diferente. Muitos dos conceitos são interessantes, envolvendo muita da diversidade tecnológica utilizada nos verdadeiros “First Person Shooters” (FPS). Está preenchido de excelentes momentos de ação, mostra-nos a vulnerabilidade psicológica de Kirito, e as consequências de ter vivido o terror em Sword Art Online.
Por outro lado, a reinvenção do tema não foi inovadora o suficiente para subsistir sozinha. O escritor tentou aliar o stresse pós-traumático de Kirito aos problemas sociais de Sinon, dando origem a uma falhada densidade dramática através do bullying e quase-violações. Tentar pegar nestes temas tão usados é um risco, de maneira que ou é criado de forma cativante e original, ou não vão funcionar de forma alguma. Servem apenas para criarem um falso sentimento de intensidade momentânea, de drama ilusório, que no fim sabe a vazio.
Depois segue-se Excalibur, que basicamente serve para o Kirito obter a “super poderosa rara mítica espada”: Excalibur. De história não tem nada, desenvolvimento de personagens é também acompanhado por um zero bem redondo, tendo apenas dois pontos positivos: algumas lutas interessantes (que acabam rapidamente por cair na repetição) e alguma informação sobre o funcionamento do mundo de ALO.
Por fim e como conclusão agradável, segue-se um dos arcs mais esperados pelos leitores da obra original: Mother’s Rosario. Este acaba por ter a premissa mais interessante e original dos três: utilização da realidade virtual na medicina, neste caso em específico em alguém que não pode utilizar o corpo no mundo real. Isto leva-nos a refletir até no estado atual em que nos encontramos, visto que o mundo virtual é cada vez mais uma realidade.
É claro que foi essencialmente criado com intuito de ser utilizado nos jogos, mas esta história faz-nos lembrar a imensa panóplia de utilidades que esta tecnologia nos poderá eventualmente fornecer, e a forma como esta pode ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas que carregam doenças fisicamente limitadoras. É também neste arc que a personagem Asuna sofre um imenso desenvolvimento mostrando um pouco do passado da mesma, a relação dela com a mãe, bem como também o impacto e consequências que os eventos de Sword Art Online tiveram na vida dela e nas pessoas que a rodeiam.
Sword Art Online II | Ainda existe esperança?
Se tentar espremer o pouco sumo que nos foi dado, diria que sobra um copo relativamente cheio de informações, que no caso de serem bem desenvolvidas, poderão vir a ser úteis na criação de uma sequela mais forte. Kirito e Asuna tiveram tempo para uma maior caracterização, tanto a nível individual como a nível de conjunto – Kirito com Phantom Bullet e a Asuna com Mother’s Rosario.
Foi-nos fornecido muito desenvolvimento no que diz respeito à forma como funciona a tecnologia daquele universo, a forma como poderá evoluir e até onde a pretendem levar. E, com isto, abre espaço para reflexão sobre a evolução tecnológica e o seu impacto naquele universo. Em contrapartida, se me questionarem se acredito na possibilidade de uma futura boa gestão narrativa, ao ponto de usarem toda esta informação de forma estrategicamente positiva, a minha resposta é um não. Ainda assim, era algo que se bem concretizado poderia levar a obra para o além do mediano.
Sword Art Online II | Ambiente
Atualmente, a A-1 Pictures já nos deu provas suficientes da sua coesão, das suas forças e fraquezas, pelo que teria que se esforçar um pouco para nos desiludir no que diz respeito aos seus aspetos técnicos. Conseguiram com grande destreza e qualidade, distinguir os dois tipos de realidades virtuais e, claro, as diferenças destas com o mundo real. Ou seja, os artistas envolvidos na composição cénica, relativamente à criação dos ambientes, tiveram que pensar muito bem em como distinguir de forma forte os diversos mundos que a segunda temporada nos apresenta.
GGO está criado com uma palete de cores mais escuras e acinzentadas, o que nos faz imergir num mundo metalizado, recriando melhor o cyberpunk e o estilo FPS. Com ALO, as cores tornam-se mais vivas, mais surreais e alegres. O visual tem os contrastes contrários do mundo anterior, aumentando-lhe assim o brilho. E por fim, o mundo real tenta retratar a própria realidade.
A coreografia de batalhas é também um dos pontos mais altos de toda a obra. Na temporada antecessora vimos a forma como conseguiram adaptar um sistema de combate baseado essencialmente em embates com espadas. A dúvida estava na transição de espadas para armas de média-longa distância, que gera um tipo de movimento e interação completamente distintos. A incerteza dissipou-se rapidamente nos primeiros episódios, as batalhas não perderam nenhuma da intensidade que nos transmitira, mantendo assim toda a ferocidade, frenetismo e estratégia do género de FPS’s.
A banda sonora continua de nível considerável, ajuda-nos a sentir o épico colossal de uma batalha, ou a enaltecer e perpetuar uma boa dose de lágrimas mais precisamente no arc de Mother’s Rosario.
Sword Art Online II | Juízo Final
A narrativa encontra-se cheia de falhas, clichés, eventos forçados, acontecimentos repentinos e deslocados, com muito harem desprovido de qualquer lógica. As personagens são na sua maioria vazias, pouco desenvolvidas e muitas delas caiem no ridículo do esquecimento, servindo apenas de suporte para algumas cenas de ação e, claro, para alimentar o harem da personagem principal e o fanservice para o público. É triste ver um enredo com tanto potencial nos mais variados pontos, ser desenvolvido por todos os caminhos pelo qual não deveria. Ainda assim, pelo meio de tantos episódios e arcs descontínuos, é possível encontrar assuntos contemporâneos relacionados com a internet, jogos e realidade virtual, que são um bom alimento para reflexão.
O ambiente é o ponto forte da obra e sempre o foi. A questão é que a narrativa perde-se tanto que se esquece dos pontos fortes da obra. Todo o combate, ação e a respetiva adaptação dos jogos são os elementos mais fortes de Sword Art Online. É onde a aliança da narrativa e ambiente atingem o seu auge, é onde esta nos consegue arrancar arrepios e desligar os nossos cérebros. Porém, infelizmente a ação está cada vez mais diminuta, o que por consequência foi mais um dos aspetos negativos da obra.
É então um anime recomendável? Bem, para começar, de forma geral qualquer obra é recomendável, temos é que descobrir o público que a procura. Se estás a começar a ver Anime e tens um reportório de obras visualizadas relativamente curto, então começar por um anime que não tem uma história complexa e contém alguma ação, é aconselhável a visualização (completa, ou seja, das duas temporadas). Todavia, se procuras algo mais complexo, bem escrito, se te encontras na transição de obras para algo mais profundo, com uma densidade narrativa mais elevada, então é aconselhável que te mantenhas fora da franquia.
Existe ainda um terceiro lado capaz de beneficiar dos poucos aspetos positivos que esta franquia transmite, e esse são os elementos RPG e FPS dos jogos virtuais. Para todos os fãs deste género de jogo, é uma animação que vos irá satisfazer pelas sequências de batalha, pelas referências e pelos conteúdos bem adaptados. Mesmo que se cansem das personagens-tipo, dos diálogos fracos e da falta de caracterização, aconselho que procurem mergulhar nos ambientes e nas incríveis sequências de batalha.
Análises
Sword Art Online II
A narrativa encontra-se cheia de falhas, o ambiente é o ponto forte da obra.
Os Pros
- Cenários e recriação dos mundos
- Batalhas e cenas de maior ação
- Arc final
Os Contras
- Reciclagem da premissa da primeira temporada
- Falta de coesão entre arcs