Tengen Toppa Gurren Lagann é um anime original lançado em 2007, realizado por Hiroyuki Imaishi e produzido pelo estúdio Gainax, responsável pelos clássicos FLCL e Neon Genesis Evangelion.
Tengen Toppa Gurren Lagann – Análise
Mas afinal, do que se trata Gurren Lagann?
Eu poderia falar da grande homenagem à era dos mechas que o anime representa, uma vez que cada “arco” compõe uma homenagem a grandes obras de diferentes épocas, sendo Gurren Lagann uma espécie de “culminar” das mesmas. Poderia também falar dos temas de combate à opressão e potencial da humanidade, que são trabalhados tanto graças à estrutura narrativa como às metáforas feitas pelos robôs.
Mas hoje não estou aqui para falar apenas destes temas que TTGL aborda (evolução da humanidade, celebração do género mecha, combate à opressão). Afinal de contas, Gurren Lagann trata-se de um “coming of age“, uma história sobre crescimento. Esta obra é sobre a trajetória de menino a homem de um rapazinho chamado Simon.
Simon é o protagonista desta série e, a meu ver, passa por quatro etapas de desenvolvimento distintas, todas marcadas por personagens diferentes (bem como pelos title cards com várias fontes):
- Kamina,
- Nia,
- Roshiu,
- o próprio Simon.
Kamina é o empurrão inicial de que Simon precisa para escapar ao seu cotidiano. Ora, esta é uma personagem que funciona extremamente bem pelo facto de que as suas palavras não marcam apenas o protagonista: marcam também os espectadores.
Kamina
O Kamina é, a meu ver, uma das personagens mais geniais já escritas. São utilizadas diversas técnicas de construção de carisma interessantes para qualquer um se afeiçoar a ele. Como por exemplo, logo no início, quando ele se revolta contra a maior figura de autoridade que se encontra no local onde ele próprio e Simon vivem. Essa figura está claramente errada em querer mantê-los presos num buraco, logo, ver o Kamina a revoltar-se não só é gratificante como gera uma empatia e respeito imensos pela personagem.
Após um certo evento, a personagem do Simon muda drasticamente. E então, Nia surge para o auxiliar na nova etapa do seu crescimento. Ele ganha um apoio para uma altura extremamente difícil da sua vida, e aprende a seguir em frente.
De seguida temos Roshiu, que possui uma visão da vida e mentalidade bem diferentes das de Kamina e Simon. Isto ajuda Simon a compreender pontos de vista novos, a entender que nem tudo na vida é só branco ou só preto.
Ok, mas afinal, porquê robôs estupidamente grandes?
Além dos robôs representarem todos os três temas dos quais falei no início, eles também são uma representação do ponto principal de que estou a falar aqui: novamente, o crescimento do Simon. Afinal, porque é que quanto mais a obra avança, maiores e mais poderosos os mechas são?
É muito simples: Simon afasta-se cada vez mais de “menino” e mais se aproxima de “homem”. E encontra-se aqui um outro detalhe interessante: porque é que no início o mecha é pilotado tanto por Simon como por Kamina? Primeiro, e o mais claro, eles precisam um do outro. Posteriormente, dentro do robô, o Simon encontra-se na cabeça, enquanto que o Kamina se encontra no peito. Por outras palavras, o Simon é o cérebro e o Kamina o coração.
A ideia de usar os mechas para representar estes temas é interessante, além de que os seus designs extremamente estilosos e cheios de caráter. Mas mais importante que isso, abre um leque de possibilidades bastante grande para trabalhar o drama das personagens, posto que se alguém comete um erro, não é somente esse alguém que fica em risco.
Claro, Gurren Lagann não foi o primeiro a fazer isto, trata-se de uma inspiração em obras como Getter Robo. Porém, além de ser bem escrito, tem a sua própria identidade. Aliás, já que referi isso tantas vezes, vou passar a esse tópico.
A identidade de Tengen Toppa Gurren Lagann
Em primeiro lugar, temos o estilo da narrativa. Grande parte da história e do drama das personagens desenvolve-se através de lutas de robôs gigantes. Ora, estas lutas possuem algum tipo de regra ou limitação?
Não. E isso é ótimo. A narrativa do anime, ao escolher não se focar neste tipo de detalhes, opta por trabalhar em especial aquilo que mais importa. Volto a destacar, os temas e as personagens.
Podem estar a perguntar-se, «Mas então, como é que entretém?» Nesse sentido, Gurren Lagann trata-se de um rule of cool. Ou seja, nada precisa de ter muita lógica, desde que funcione. Desde que os acontecimentos mantenham a atenção do espectador ocupada, tudo é válido. E estamos perante uma obra capaz de a captar com mestria.
Apesar da primeira parte do anime ter algumas lutas que não vão agradar todos, depois disso, a obra possui batalhas consistentemente divertidas e interessantes. Seja por serem visualmente deslumbrantes, por terem conceitos engraçados ou até mesmo uma estratégia ou outra: a diversão é garantida.
Quanto à realização… É simplesmente inacreditável
Os ângulos dinâmicos, os cortes inteligentes (como a cena do Kamina a desembainhar a espada, sim, aquela mesmo), até mesmo o modo como o traço altera no clímax de cada luta. Nota-se esforço e carinho pela obra em cada toque.
A produção também não fica atrás. Com uma animação absursamente consistente, um estilo dinâmico dependendo daquilo que o episódio precisar, uma sonoplastia impecável e músicas memoráveis, tudo está em sintonia para tornar a experiência o mais gritante possível.
Gurren Lagann quer deixar a sua marca, e percebe-se. Na verdade, não só se percebe… Como conseguiu. Não é só um anime, é uma das obras mais impactantes que conheço. Recomendo a todos, pois há algo aqui para qualquer espectador ser satisfeito.
Tengen Toppa Gurren Lagann – Análise
Juízo Final
Gurren Lagann trata-se de uma das obras mais impactantes que conheço, seja a nível cultural, temático, narrativo ou visual. Representa o culminar de uma grande tendência que marcou uma geração inteira de anime, o mecha. Tudo aquilo que criou foi utilizado por obras futuras, devido ao quão eficaz e icónico o anime se provou.
Aliás, isto conecta-se com o potencial de evolução da humanidade sobre o qual a obra tanto gosta de relembrar. As suas personagens são equiparáveis a poucas e a sua escala não é nada menos que grandiosa.
Um incrível rule of cool e um clássico atemporal. Apesar do ecchi indesejado no segmento inicial, penso que esse fator tem pouco peso quando olhamos para a série como um todo e por isso a minha nota final é 9.9/10.
Análises
Tengen Toppa Gurren Lagann
Gurren Lagann trata-se de uma das obras mais impactantes que conheço, seja a nível cultural, temático, narrativo ou visual. Representa o culminar de uma grande tendência que marcou uma geração inteira de anime, o mecha.
Os Pros
- Impacto e relevância culturais
- Visualmente estimulante
- Realização fantástica
- Narrativa com uma escala surreal
- Personagens bem caraterizadas e desenvolvidas
- Crescimento do protagonista envolvente e genuíno
Os Contras
- Ecchi do segmento inicial