O início bastante promissor de Tenrou Sirius the Jaeger não passou disso mesmo. Após a transmissão do primeiro episódio, a produção não foi capaz de aprofundar o enredo e explorar as personagens principais de maneira a colocar esta série num patamar elevado de qualidade.
Antes de ir aos detalhes, uma vez que o episódio de estreia, juntamente com a descrição de Tenrou Sirius the Jaeger disponibilizada na altura, levaram-me a construir uma sinopse um pouco desviada do contexto global desta produção, passo a fazer uma descrição melhor contextualizada desta obra no seu todo.
Tenrou Sirius the Jaeger – Sinopse
Arc of Sirius. O artefacto mítico que Vampiros, Humanos e Sirius procuram desesperadamente. Como o nome sugere, esteve objeto está associado a este último grupo, mas desconhece-se o que tem de tão especial.
Os Humanos, sendo os únicos no meio desta “guerra” que não possuem poderes sobrenaturais, veem-se envolvidos nesta corrida, divididos em dois grupos: os Jaegers (a conhecer mais à frente); e os governos de vários países (com foco especial no Japão) que, depois de tomarem conhecimento da existência do Arc of Sirius, vão querer apoderar-se dele.
Quem irá ganhar esta corrida? Com que objetivo?
Um enredo sem profundidade
Um dos dois grandes problemas que identifiquei em Tenrou Sirius the Jaeger.
Como já dei a entender, o grande confronto da trama envolve Vampiros e Sirius, sendo que este segundo se trata de um clã com cararaterísticas muito especiais e quase em extinção.
Por seu lado, os Humanos não têm tanta atenção assim e, sobretudo, impacto nos acontecimentos mais importantes. Os próprios Jaegers, treinados para caçar vampiros, e com os holofotes virados para si no primeiro capítulo, vão perdendo o interesse com o avançar da trama.
Ora, se juntar todas estas raças, a verdade é que só o povo de Sirius é que tem algum acompanhamento mais sério em relação ao seu passado. Isto por fruto dos maiores protagonistas (Yuliy e Mikhail) serem originários de lá.
Para lá disso, ao longo dos 12 episódios não existe um aprofundamento sobre a história dos Vampiros e o problema que enfrentam atualmente, nem grandes relatos sobre a fundação dos Jaegers e as origens dos seus elementos mais conhecidos. Pode surgir uma ou outra cena, mas sempre situações muito fugazes. O único com direito a algum background é Willard.
Sem grandes explicações para lá das ideias fixas dos principais protagonistas e antagonistas da história, não existe uma ligação forte entre os vários acontecimentos. Na verdade, muitos deles parecem mais aventuras isoladas e histórias alternativas que, subtilmente, vão substituindo a consistência que deveria ser data à procura pelo Arc of Sirius.
Personagens sem evolução
O segundo grave problema desta série. Pessoalmente, não fiquei marcado por qualquer personagem. A acontecer, só poderia ser com Yuliy, Mikhail, Yevgraf ou Willard, visto que as restantes estão preenchidas por um grande vazio. Em relação às que mencionei, tenho a dizer o seguinte.
Yuliy é uma figura central sem interesse. As suas falas e atitudes são altamente limitadas, clichés, e sem ponta de originalidade. Já Mikhail perde a piada a partir do momento em que se percebe que vai sempre ajudar o irmão. O agora vampiro diz isto e aquilo, mas as suas intervenções são evidentes, ou pelo menos o desfecho das mesmas.
Yevgraf é o principal vilão. Um estatuto que tem porque a produção nos disse que era assim. Do lado de cá, só se percebe que ele tem poder e que consegue controlar os outros, mas não se sabe mais nada sobre ele ou o que verdadeiramente o colocou nesta condição. Com tal vazio, nunca seria possível tornar-se um daqueles vilões que conquista a plateia.
Como já referi, Willard até é das personagens com mais explicações em relação ao seu passado e aos seus comportamentos. No entanto, e olhando também à posição que ocupa no seio dos Jaegers e na relação com Yuliy, falta-lhe algo. Um pouco mais de vivacidade e de dinâmica, quiçá. O professor tem alguns discursos interessantes, é certo. Porém, também apresenta algumas falas em tons quase monocórdicos e sem expressão. Esperava-se mais desta personagem em algumas cenas, tendo em conta a sua posição e o seu potencial para a trama.
Ambientes de fundo cativantes
O ponto mais alto de Tenrou Sirius the Jaeger. Um aspeto que se destacou logo de início e que desde aí manteve a consistência. A história passa-se no ano de 1930 e os ambientes foram meticulosamente adaptados a essa época. As cidades, as casas, os transportes, o vestuário, tudo!
A primeira metade da história passa-se maioritariamente no Japão. No entanto, depois muda-se para a ilha russa de Sakhalin, onde a natureza toma o lugar dos espaços citadinos. Em ambos os casos, a acompanhar a caraterização ambiental de grande nível, existe um jogo de cores capaz de tornar qualquer cena mais apelativa ao espectador do que seria normal.
Arte e animação sem censura
Para lá das paisagens, o desenho das personagens de Tenrou Sirius the Jaeger apresenta dois registos diferentes: um primeiro muito tradicional, que preenche a maioria do elenco; e um segundo registo, especialmente dedicado aos vampiros, deveras peculiar, que dá às criaturas um aspeto mais animado e menos aterrorizador do que seria de esperar. Note-se que estou a falar quer dos vampiros na sua forma “canibal”, quer daqueles que assumem uma postura mais humana, como acontece com Yevgraf.
Apesar dos estilos adotados no desenho, não é por isso que as cenas de ação são alvo de censura. Pelo contrário! O estúdio P.A. Works não revelou quaisquer problemas em apresentar cenas com desmembramentos do corpo, presença de sangue, ou em conceber ataques violentos capazes de derreterem por completo o adversário à vista do espectador. Muitas vezes elogiado pelos seus excelentes trabalhos na área, ainda não foi desta que este estúdio vacilou neste campo.
Banda Sonora de bom nível
Não coloco a parte musical de Tenrou Sirius the Jaeger ao nível da arte e da animação. Contudo, a dita cuja também foi capaz de atingir um bom patamar. Esta é daquelas bandas sonoras que, de forma muito subtil, complementa os acontecimentos do momento. Não se dá muito por ela, embora ela esteja lá. No entanto, se for retirada, o espetador vai notar a sua ausência.
Relativamente ao opening, tenho que realçar mais uma vez a arte e a animação presentes. Não é uma abertura muito exuberante, mas o seu design ligeiramente abstracto está em perfeita sintonia com a animação aplicada aos vários elementos escondidos nas sombras. A música da banda Kishida Kyoudan & The Akeboshi Rockets, de seu nome “Sirius” é o ponto menos bom, embora satisfatório.
O ending foca-se em Yuliy e Mikhail. Neste caso, a música (“Hoshie“, de sajou no hana) já me parece de maior valor que o vídeo. Este último apresenta qualidade na parte técnica, mas não vejo grande capacidade nas imagens apresentadas em cativar a atenção do espetador.
Tenrou Sirius the Jaeger – Juízo Final
O bom início de Tenrou Sirius the Jaeger, produção inicialmente conhecida por “Project Sirius” e que agora se apresenta apenas como “Sirius”, não teve seguimento.
Se nos aspetos técnicos a obra esteve sempre em bom plano, tal não chega para preencher as lacunas deixadas pelo enredo e personagens de fraca qualidade. Em muitas produções, a concepção dos mesmos por si só já não é boa. Todavia, aqui havia boa matéria prima para ser trabalhada.
Certo é que o espírito de aventura inerente à demanda do Arc of Sirius “não saiu da caixa”, e as várias personagens com potencial, espalhadas pelas diversas raças envolvidas na série, revelaram-se sem profundidade e sem qualquer tipo de dinâmica original.
Em suma, este é mais um projeto cujos poucos momentos altamente apelativos não chegam para Tenrou Sirius the Jaeger suscitar saudade no espetador. Quem decidir ver não vai passar propriamente um mau bocado, mas também não vai sentir convictamente que o tempo despendido em seu torno foi bem justificado.
Tenrou Sirius the Jaeger – Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=f3YyTa06AJA&t=32s
Análises
Tenrou Sirius the Jaeger
Uma série sobre vampiros e artefactos míticos cujos bons indicadores iniciais não passaram disso mesmo. Tenrou Sirius the Jaeger tinha bases para apresentar uma produção muito melhor.
Os Pros
- Arte
- Animação
Os Contras
- Enredo sem profundidade
- Personagens sem evolução