The Place Promised in Our Early Days é a segunda longa-metragem (90 minutos) criada e dirigida por Makoto Shinkai, depois de Voices of a Distant Star. O filme foi lançado no inverno de 2004 e, ao contrário do seu predecessor, contou com uma grande produção que apoiou o trabalho de Makoto-sensei, o que se refletiu numa melhor animação e maior duração. Este exemplar serviu também de rampa de lançamento para outros sucessos do Mestre Shinkai como: 5 Centimeters Per Second, Children Who Chase Lost Voices e The Garden of Words.
The Place Promised in Our Early Days | A História
Numa linha temporal pós-guerra alternativa, após a ocupação da região de Hokkaido por parte da União (em referência à antiga União Soviética), é iniciada neste território nipónico a construção de uma misteriosa e colossal torre. Esta é claramente visível para lá da fronteira com o Sul, através do Estreito de Tsugaru onde se encontra a cidade de Aomori.
A história inicia-se em 1996, quando Fujisawa Hiroki e Shirakawa Takuya, dois jovens prodígios do 9º ano de Aomori, que sempre admiraram a colossal torre, se encontram a construir uma aeronave que os possa levar a desvendar o mistério que ela encerra. Aparece em cena Sawatari Sayuri, uma bonita rapariga e colega de escola dos dois amigos e pela qual ambos nutrem um sentimento especial.
Os três acabam por se tornar grandes amigos e isso leva Hiroki e Takuya a contarem a Sayuri os seus planos. Perante o olhar extasiado da jovem, os três fazem a promessa de realizarem juntos a viagem até à misteriosa torre de Hokkaido. Contudo, no fatídico verão de 1996, a viagem é abandonada quando Sayuri misteriosamente desaparece.
The Place Promised in Our Early Days | Enredo
Apesar de todas as boas indicações que darei relativas a esta obra de Makoto Shinkai, nem tudo é um mar de rosas. Existem algumas falhas e inconsistências e o enredo é uma prova disso mesmo.
Na verdade este filme tem dois enredos. O primeiro é o enredo que está relacionado com a vertente bélica e sci-fi do filme. O The Place que aparece no título, diz respeito à torre de Hokkaido e claramente o mistério que a envolve deveria ser um dos pontos fulcrais do argumento. Em parte é, mas a sua desmistificação acaba por se tornar confusa, sobretudo quando se tenta explicar o seu segredo com base em modelos de física teórica, como é o caso de The Many Worlds Theory.
Ao mesmo tempo, ao destino da torre está ligado o da guerra, que de facto nunca acabou e que se deve à presença de um foco de resistência que tenta unificar o Japão. Tudo isto torna-se um pouco complicado e difícil de seguir. Adoramos enredos complexos que depois têm ramificações brutais, mas é preciso fornecer clareza e entendimento, algo que aqui passa um bocado ao lado.
Apesar desta aparente falha, pode dizer-se que, este argumento mais místico serve para dar força ao segundo enredo a que me referi. O enredo que de fato seguimos neste filme é, sem dúvida, o drama e as emoções que as relações entre os protagonistas provocam.
Tal como fez anos depois em 5 Centimeters Per Second, Makoto Shinkai reveste os momentos de maior emoção como romance, dor, perda e alegriaem ambientes mais futuristas e misteriosos, de modo a fugir aos clichés que normalmente acompanham filmes com enredos deste género.
The Place Promised in Our Early Days | Ambiente
Tratando-se de um filme do grande sensei do hiper-realismo dos cenários e da obcecação com o detalhe, falar do ambiente é o aspeto pelo qual qualquer redator mais anseia. Em The Place Promised in Our Early Days, Makoto Shinkai volta a revelar a sua peculiar e incrível mestria na animação de cenários deslumbrantes, tanto naturais como sintéticos.
A sua atenção ao detalhe é tão perfeita em belas paisagens com vista para o mar, como nas viagens de comboio (p.e.). O ângulo com que a cena é filmada, o pormenor de certos objetos, como a ventoinha ou o suporte para as malas, e o jogo de luzes com o movimento da colossal máquina, fazem de um mero meio de transporte algo tão idílico como uma floresta cheia de neve.
Neste exemplar, vemos o seu apreço especial pelo pôr-do-sol, que lhe permite fazer um jogo de luzes fantástico, com o recurso a belas cores que contrastam com as sombras sempre impecavelmente colocadas.Consegue fazer o mesmo trabalho, seja em dias de calor abrasador com o sol na sua máxima altura, como em dias chuvosos, como de noite, mas são claramente as cenas ao final do dia que lhe permitem montar o ambiente terno e poético que tanto aprecia e onde as suas personagens expõem o seu coração.
Claro que comparado com o todo o ambiente envolvente, as personagens parecem algo deslocadas ou de design inferior quando as vemos pela primeira vez. Contudo, elas encontram-se tão deslocadas quanto nós mesmos, espetadores, se fossemos colocados em tais cenários arrebatadores. A animação das personagens pode não ser tão boa como deveria, mas elas não deixam de ser excelentes veículos de emoções que muitas vezes são potenciadas pelo local onde a ação ocorre.
É preciso também destacar a banda sonora (da autoria de Tenmon) e os efeitos sonoros deste filme. Makoto Shinkai é também o Diretor de Som, e tratou deste aspeto com tanto carinho e dedicação como do design. Os efeitos e a música entram nas cenas certas na altura certa, e o som é sempre bem escolhido tendo em conta o que está a ocorrer.
The Place Promised in Our Early Days | As Personagens
Como referi anteriormente, a história do filme depende de três protagonistas: Hiroki, Takuya e Sayuri. É da relação entre estes três amigos que depende o enredo de The Place Promised in Our Early Days. Mesmo assim, é possível ver, em certas alturas, que existem combinações desta relação com dinâmicas bem distintas.
A relação de Hiroki com Sayuri apresenta uma essência mais sentimental, carinhosa e de cumplicidade. Muito disto se deve à natureza mais sensível e terna de Hiroki. Apesar do sentimento especial que Takuya também nutre por Sayuri, a sua mentalidade mais lógica e personalidade reservada faz com que a sua interação com a jovem seja distinta daquela que ocorre com o amigo.
Como temos um tempo antes e depois do desaparecimento de Sayuri, temos também a transformação de uma relação de ternura entre os três protagonistas, para mudanças de personalidade e formas bem diferentes de lidar com a perda de alguém por parte dos dois rapazes.
Esta clivagem temporal impede também que seja visível um crescimento progressivo das personagens. Uma vez que é necessário mostrar o antes e o depois do fatídico verão. O ritmo a que a ação ocorre tem que ser necessariamente acelerado, de modo a incorporar as duas linhas temporais na duração do filme, sem que este fique demasiado extenso.
The Place Promised in Our Early Days | Juízo Final
Começo este juízo final com uma expressão que sumariza The Place Promised in Our Early Days. Este filme é, simultaneamente, uma viagem ao museu de arte enquanto ouvimos um concerto de música clássica. É, acima de tudo, uma experiência sensorial que nos maravilha do início ao fim. Nesta vertente é um exemplar fantástico de animação.
Este é apenas o segundo filme de Makoto Shinkai e, a meu ver, um marco na sua carreira por dois motivos. Primeiro porque ajudou a definir o seu estilo inconfundível de design hiper-realista, obcecado pelo detalhe e a criação de cenários deslumbrantes onde nos queremos perder. Segundo, porque trouxe à luz a dificuldade que teve em orquestrar um enredo que lhe permitisse incluir elementos futuristas para poderem “alimentar” os seus fantásticos ambientes e interações entre protagonistas, sem os clichés já gastos.
Evoluiu muito, neste aspeto, em 5 Centimeters per Second, mas aqui apresenta uma clara falha. Não me admiraria que esta afastasse do filme, o avido espetador de anime que aprecia um bom enredo com personagens complexas.
No entanto, se procurarem um filme agradável, com ambiente e banda sonora fantástica que nos enche os olhos, os ouvidos e acima de tudo o coração, então esta obra de Makoto Shinkai é um must.
Análises
The Place Promised in Our Early Days
Se procurarem um filme agradável, com ambiente e banda sonora fantástica que nos enche os olhos, os ouvidos e, acima de tudo o coração, então esta obra de Makoto Shinkai é um must.
Os Pros
- Banda sonora
- Cenários
- Composição de Cena
Os Contras
- Enredo confuso
- Personagens Pouco Marcantes