Tokyo Ghoul | História
A história retoma exatamente do ponto onde nos deixou. Esta parte do anime apresenta-se como uma sequela, todavia, dá mais a sensação de ser um segundo cour, do que realmente uma segunda temporada da obra.
Tokyo Ghoul | Um massacre narrativo
Se a primeira temporada e o primeiro episódio desta sequela entraram com o pé direito, a temporada que a sucede não é nada mais nada menos que um tropeçar de pés consecutivo, enquanto vemos a obra a cair por um caminho irreversível, dirigindo-se assim diretamente para um poço sem fundo. Começa como um bonito floco de neve que se vai aglomerando a outros majestosos flocos, sofrendo uma natural metamorfose para uma avalanche assassina de fiéis seguidores.
A história tem um início bastante bom, na medida em que prossegue diretamente os acontecimentos do final da primeira temporada. Este liga-se sem desvios àquele que se decalcava como um dos pontos negativos mais relevantes da primeira temporada e que se refletiu, concretamente, na imensidão de questões por resolver. Exemplo disso, foi o final em aberto, que revelou por sua vez o quanto a obra ainda tinha para nos dar. Por norma, uma sequela nasce com o intuito de fechar as pontas soltas, de limar as arestas mais rugosas, de concluir o universo construído e desenvolvido na sua antecessora. Em contrapartida, tudo que Root A tinha como requisito, não só para ser uma continuação bem executada mas também para satisfazer o público, não o fez. Aliás, conseguiu ainda a brilhante proeza de concretizar exatamente o contrário.
A má estruturação do enredo originou uma história sem rumo, na qual mostra pretensão em descortinar tudo, mas no fim não nos é revelado nada. Existem episódios sem conteúdo, como se tivessem nas mãos todo o tempo do mundo para “tentar” desenvolver personagens através de criação de conflitos desnecessários. E ao mesmo tempo existem episódios com conteúdo a mais, como se não tivessem tempo algum para “tentarem” desenvolver a narrativa. Em vez de um ritmo gradual no que diz respeito à exposição narrativa, para que possam controlar o próprio universo narrativo, de modo a nos transmitir a informação necessária para o entendimento do conteúdo, somos presenteados com infelizes manobras de escrita pobre.
Ao longo de todos os episódios, passam-nos a sensação de que agarram uma quantidade enorme de informação, e foram obrigados a comprimir essa mesma informação, afunilando-a em 12 episódios. Mas para quê? O sucesso monetário e a popularidade estavam garantidos, tanto pelo material fonte como pela primeira temporada. Não era preferível algo mais alongado ou dividido por mais temporadas, do que criar um desastre destes? Algo que não consegue transmitir nada além de frustração e desilusão? Basicamente, a produção desta sequela revelou-se algo completamente desnecessário, sendo que optaria por ficar no limbo pouco gratificante do final da primeira temporada, do que ter que assistir à desesperante sequela.
Tokyo Ghoul | Terá a obra um objetivo?
A existência de opiniões divergentes relativamente a esta continuação são um fato. Todavia, porque será que existem? Não será límpida o quão má a composição desta obra se encontra?
Penso que as opiniões divergem duplamente, excluindo as excepções. Ou seja, numa primeira instância o público é divido entre aqueles que leram o material fonte e os que o desconhecem por completo. E dentro de cada um destes agrupamentos volta a dar-se mais uma divisão: os que adoraram e os que odiaram. Não obstante, como tal é possível? Bem, dentro dos que conhecem a manga, uns odiaram simplesmente porque a adaptação não é fidedigna. Ainda assim, uma outra parte decidiu aproveitar para ver novo conteúdo, em que tudo que fosse entregue seria bónus, tendo ainda oportunidade de ver algumas das sequências que realmente existiram na manga.
Por outro lado, aqueles que apenas têm conhecimento narrativo da primeira temporada, também se divergem em amor e ódio. O ódio é compreensível, já o amor não o consigo explicar uma vez que destroçou por completo tudo de bom que existia na obra.
Tokyo Ghoul | Conceitos despersonalizados
Episódio após episódio, foram inseridos mais personagens, mais eventos, mais de tudo, culminando consequentemente na inevitável expansão do universo narrativo. Todas estas asneiras de escrita perpetuaram ainda mais arestas bicudas, mais pontas soltas, mais questões sem resposta. Isto não se designa apenas por má gestão narrativa, mas sim por escrita desprovida de qualquer tipo de qualidade e discernimento. Com isto, as personagens perderam a boa substância que possuíam.
A pobre escrita geral teve obviamente consequências para todos os lados. Como se fosse uma metralhadora, disparando desenfreadamente atingindo todos os cantinhos do universo de Tokyo Ghoul. Enquanto que a primeira temporada nos mergulhou em conceitos extremamente interessantes, como o significado de Ser Humano, aquilo que nos separa das outras espécies, a consequência de coabitarmos com seres que se encontram acima de nós na cadeia alimentar, a segunda temporada esquece todos estes conceitos maravilhosos que foram abordando, todos eles entregues através de bonitos monólogos e introspeções da nossa personagem principal Kaneki, o nosso elo de ligação emocional com aquele mundo enquanto espetadores. Não obstante, o protagonista é a personagem que menos aparece, silenciando deste modo os seus pensamentos e um dos grandes elementos que nos conectava aquele mundo fantástico.
Tokyo Ghoul | Ambiente
Não é possível afirmar que Tokyo Ghoul Root A tem melhor ambiente que o seu precedente. Não tem. Consegue indubitavelmente pontos altos momentâneos, mas não passa disso. O visual é terrivelmente aproveitado devido à sua inconsistência persistente, tanto a nível de desenho como de animação. Sendo que temos momentos que nos fazem soltar gargalhadas espontâneas sobre a má qualidade que nos é apresentada, como temos determinados momentos que nos fazem babar sem nos apercebermos. Vou deixar que as imagens falem por mim:
Quando a qualidade técnica se encontra no seu pior, poderão encontrar sem muito esforço faces desproporcionais, animações lentas, com queda de frames e irrealistas até nos movimentos mais simples. Quando a qualidade técnica se encontra no seu melhor, não vão querer nem conseguir desviar o olhar durante uma milésima temporal. O desenho fica sólido, os cenários ganham cor própria que nos faz acreditar inconscientemente na veracidade dos mesmos. A animação atinge um outro patamar, proporcionando sequências de ação incríveis.
Apesar de todos estes aspetos nos retirarem a grande imersão que deveríamos ter neste universo, existe um elemento que muitas vezes nos segurou ao longo da obra, e que sem ele muitos eventos não teriam funcionado da mesma forma: a banda sonora! Esta, além de possuir composições incríveis, tem um sentido de oportunidade raro de se ver e de se ouvir. Entra nos momentos certos, com a faixa mais acertada possível, sincronizando muitas das vezes o tipo de melodia de cada música com a atmosfera emocional dos momentos narrativos.
Tokyo Ghoul | Juízo Final
Resumindo e concluindo, Tokyo Ghoul Root A foi uma das sequelas mais esperadas dos últimos tempos, e das que mais desiludiu. A pobre narrativa, em vez de carregar no sentido exponencial positivo a primeira temporada, atirou-a para a morte certa. O ambiente é um terror inconstante, deixando-nos ainda mais deprimidos, quando ocasionalmente nos mostram que podem e conseguem produzir frames dignos de serem encaixilhados como uma obra de arte.
Obviamente, tal como outras sequelas (por exemplo Sword Art Online II), consegue ainda ter público suficiente a consumir a temporada como se fosse algo de extraordinário, dando assim espaço monetário para a Pierrot criar mais uma massacre descontrolado, a uma obra que segura um potencial bem acima da média.
Ver esta temporada será, em síntese, ver porque sim. Não tem sumo, não conclui nada, nem nos mostra nada de novo. Não recomendo que percam o vosso tempo a ver esta suposta continuação, mesmo que tenham visto e gostado da primeira temporada. Se gostaram de Tokyo Ghoul original, comecem a ler a manga (desde o início) e façam o julgamento da obra no seu formato original, porque esse é realmente o único formato que vale a pena.
Análises
Tokyo Ghoul Root A
Ver esta temporada será, em síntese, ver porque sim.
Os Pros
- Ambiente e algumas personagens
- A Banda sonora é o ponto mais forte em todos os aspetos
Os Contras
- Falta de gestão e inconsistência em todos os departamentos
- Falta de rumo