Tonari no Kaibutsu-kun | Análise

No que diz respeito a comédias românticas, as últimas temporadas de anime encontram-se preenchidas por um vazio narrativo enorme. Em 2012, na temporada de outono, eis então que surge “Tonari no Kaibutsu-kun”, uma gigantesca lufada de ar fresco cheia de criatividade e originalidade.

 

Tonari no Kaibutsu-kun | A História

A narrativa foca-se na relação de Shizuku Mizutani com Haru Yoshida. Shizuku não possui qualquer tipo de interesses para além dos estudos, que são a sua garantia de um bom futuro. Haru, ainda que muito inteligente, não tem qualquer interesse pelos estudos. Em contrapartida, este procura qualquer forma de saciar a sua imensa curiosidade por tudo que o rodeia.

Tudo começa quando a responsável pela turma pede a Shizuku para entregar os trabalhos escolares a Haru. Por norma, a comunidade escolar teme-o pela sua atitude agressiva, porém, a personalidade forte de Shizuku faz com que esta atitude não a atinja, e resolve ir entregar os trabalhos ao rapaz. Quando Shizuku entrega os trabalhos a Haru, este reage de forma muito amigável, cujo comportamento leva ao início de uma amizade entre os dois seres humanos com mais problemas sociais à face da Terra. Em consequência dos problemas pessoais e de personalidade, Haru tinha desistido de frequentar a escola. Shizuku pede-lhe que volte a estudar e este acaba por aceitar. No entanto, a sua persistente inabilidade de lidar com convencionalismos sociais leva-o a acontecimentos muito bizarros e cómicos.

 

 

Tonari no Kaibutsu-kun | Ambiente e Enredo

Os produtores, Brain’s Base, responsáveis pela criação desta Anime, já são conhecidos pelo seu longo reportório no que diz respeito à produção de arte e animação de uma forma original. Mais uma vez, conseguiram com sucesso criar um ambiente maravilhoso. Através de cenários recheados de cores leves, músicas relaxantes, suaves e bem-humoradas, este estúdio entrega-nos de uma forma sublime todas as emoções geradas pelas situações.

O estilo do traço de desenho das personagens é adequado, e destaco a forma como criaram as expressões em situações de comédia, que fornecem à narrativa um forte suporte para que tudo funcione da melhor forma, para que tudo seja passado com um aspeto inteligente mas compreensivo a qualquer espetador, criando assim uma enorme ligação empática entre as personagens e o público. Quanto ao enredo de “Tonari no Kaibutsu-kun”, penso que a premissa que nos é fornecida mostra-se mais do que suficiente e eficiente para nos agarrar à cadeira: um rapaz nada comum, cheio de problemas sociais, numa relação com uma rapariga que não se importa com mais nada a não ser as notas escolares?

O começo desta amizade leva a um desenrolar de acontecimentos hilariante entre os dois, e não só. Estranhamente, quando estão juntos, conseguem atrair as pessoas ao seu redor de uma forma muito positiva. Estas duas personagens juntas são de uma relevância enorme para o conteúdo narrativo e para o seu desenvolvimento. O enredo por si só, parece simples. Contudo, esta não é apenas uma comédia romântica, onde dois seres se apaixonam, têm problemas, resolvem-nos, fica tudo bem e vivem felizes pela eternidade fora.

Este título, consegue fazer-vos rir quando menos esperam, deixar uma lágrima no olho e até saudades dos momentos que assistiram. Mas mais importante do que isso, “Tonari no Kaibutsu-kun”, consegue de uma forma subtil questionar o público com uma rede enorme de questões no que diz respeito às relações entre os humanos.

Será que necessitamos de compartilhar o maior número de gostos em comum para que uma amizade funcione? Será que as nossas personalidades precisam de ser semelhantes para que uma relação amorosa obtenha sucesso? Serão os estudos/emprego o ponto mais importante da nossa vida? Estas, entre muitas outras que deixarei ao vosso critério e observação!

 

 

Tonari no Kaibutsu-kun | As Personagens

É impressionante o quanto conseguiram desenvolver as personagens de “Tonari no Kaibutsu-kun” num espaço tão curto. São boas, cada uma com a sua história, nenhuma das principais se torna descartável em nenhum ponto, bem pelo contrário, todas se vão juntando com o avançar temporal, todas vão mostrando que são seres únicos e é este um dos elementos principais que as torna tão especiais e tão ligadas umas às outras.

Haru Yoshida é nada mais nada menos que um delinquente, pelo menos é desta forma que ele nos é apresentado. Com o descortinar da história vamos percebendo que o modo agressivo de agir é apenas uma “máscara”. Quando “esta” cai, principalmente na presença de Shizuku, Haru torna-se num rapaz tímido, inocente, incapacitado no mundo social, incontrolável, inteligente e determinado. Sofre de uma pequena bipolaridade, sendo este pormenor uma boa forma de o descrever.

Shizuku Mizutani, o ser humano solitário que muda a vida de Haru. Doce, bonita, inteligente e anti-social. Tal como Haru, Shizuku possui um passado bem complicado, os pais nunca foram muito presentes e a única coisa que mostravam interesse e orgulho nela eram as boas notas que ela conseguia na escola. Estes momentos moldaram a personalidade dela, desde a sua infância até à sua juventude, tornando-a numa pessoa fria, conseguindo sobreviver sem ter que sorrir ou obter qualquer outra coisa proveniente da interacção com outros seres humanos. Isto até conhecer Haru, já que este consegue arrancar qualquer tipo de estabilidade pessoal, que ela pensava possuir.

 

 

Asako Natsume, indubitavelmente é a personagem que mais evoluiu. Começa como a rapariga de boa aparência mas desinteressante e vazia. Estuda na mesma classe que Haru e Shizuku. Como já referi, onde estes dois se encontram juntos transformam o ambiente que os rodeia. Natsume é uma rapariga com notas baixas, então pede ajuda a Shizuku para as melhorar. Esta recusa imediatamente, mas Haru intervém mostrando-se disponível para a ajudar. Como Haru não é, nem um pouco compreensível nem sensível, as explicações dele para Natsume não surtem muito efeito, o que leva Shizuku a ajudá-la. Este pequeno evento por si só não parece importante, mas sem ele a personagem não evoluiria tanto. Acaba por se mostrar uma personagem interessante e talvez a mais real do grupo, impondo sempre de forma filosófica algumas perguntas relacionadas com a vida.

Sohei Sasahara é o quarto e último elemento do quarteto principal. Pertence também à turma dos outros três. Divertido e com boa aparência, é o mais popular do grupo. Tem grandes capacidades desportivas e sociais. Contudo, de alguma forma não são estes elementos incomuns em relação aos restantes membros do grupo que o impedem de criar uma enorme amizade com eles.

 

 

Tonari no Kaibutsu-kun | Juízo Final

“Tonari no Kaibutsu-kun” é provavelmente o tipo de obra que aparece uma vez num ano. É uma pena que as comédias românticas estejam constantemente a ser arruinadas pelo conteúdo harém, ecchi e fan-service. Este título, produzido brilhantemente pela Brain’s Base, mostra-nos que a narrativa e as personagens são o mais importante no conteúdo de uma obra, excluindo todo e qualquer fan-service que poderia estar presente.

Tecnicamente, a realização está óptima, e a escolha de cores bem como o desenho, animação e banda sonora encontram-se fenomenais. Como um todo, esta animação é incontestavelmente um “must see“, que infelizmente foi muito subestimado. Para quem gostou e não se contentou com o final inconclusivo, pensa-se que futuramente será produzida uma segunda temporada ou uma outra forma de continuação. Não encontrei nenhum trailer bom, por isso deixo-vos com o agradável Opening da série!