Há sub-géneros que sou apaixonada e depois há moods que me fazem falta. Quando digo moods refiro-me a obras com a extraordinária capacidade de colocar o espectador num mood em particular não importa o que estava antes a sentir. Uma espécie de droga transmitida no pequeno (ou grande ecrã) que nos anestesia as dores, muda a forma de ver o mundo e a percepção atual da realidade é suavisada como se de um bálsamo se tratasse. A vaselina do anime.
Existem algumas obras desse tipo – que muitas vezes pertencem de facto para o subgénero iyashikei – que preenchem o meu top pessoal de anime, tal como Fune wo Amu e Natsume Book of Friends e que recomendo vivamente.
Hoje vou recomendar (e falar de) uma série anime em particular de que não esperava nada, e que ofereceu tudo o que desejava e não sabia que precisava: Tonari no Youkai-san.
Tonari no Youkai-san A Hidden Gem De Slice of Life
Imaginem um mundo onde humanos e Youkais, deuses e outros seres místicos do folclore japonês (e não só) co-habitam. Um mundo onde é normal o cruzamento de espécies, não há barreiras de amizade, amor e respeito entre todas as espécies. Onde magia, sobrenatural e tecnologia se co-relacionam. Esse é o mundo (e o tema) de Tonari no Youkai-san.
Os nossos protagonistas são:
- Jirou, um Tengu guardião das montanhas;
- Buchio, um gato de 20 anos de idade em que, nas portas da morte, transforma-se num nekomata;
- Mutsumi (Muu-chan), uma criança humana;
Neste slice of life acompanhamos o dia a dia destes 3 protagonistas, bem como de outros habitantes da aldeia onde residem. Não existe um vilão, não existem batalhas épicas, na realidade nem sequer um “objetivo a cumprir”. Em Tonari no Youkai-san apenas saboreamos o dia a dia de seres com esperanças de vida diferentes, com passados complexos e problemáticas mais ou menos relacionaveis.
Como grande parte do elenco são crianças, acaba por ter muito a vibe de Barakamon com um misto de feeling ghibliano em que nada se passa realmente mas no fundo somos envolvidos pelo ambiente caloroso e por personagens amistosas.
Se gostas de Natsume Book of Friends e Flying Witch vais gostar de Tonari no Youkai-san
Sabem quando terminam um anime/manga que gostaram muito e ficam com a sensação de vazio? Como se não tivessem mais nada para ler que vos fizesse sentir o mesmo?
Pois bem, senti isso com Natsume Book of Friends (para ser sincera aí a partir da 5ª temporada quando o mood vira já comecei a sensação de abstinência) e com Flying Witch. Dois títulos muito específicos, um mais popular que o outro, mas que têm muito em comum.
Ambos desenrolam-se num mundo onde youkais e seres do folclore japonês existem. Para qualquer fã da mitologia japonesa, tal é razão mais que suficiente para os adicionar à lista de obras a consumir. Mas há mais. Se, tal como eu, fores fã de slice of life onde acompanhamos o dia a dia das pessoas de forma lenta e sossegada. Então estas duas obras são para ti e Tonari no Youkai-san também.
Encontrar o combo de slice of life + iyashikei + folclore japonês é difícil, para não dizer um acontecimento único a cada nova década. Primeiro por ser muito específico, depois por não agradar a uma grande maioria da população e ainda por ser difícil conseguirem uma boa adaptação (com um bom estúdio, equipa técnica e, sobretudo, orçamento).
Os exemplos que deizei acima possuem boas animações e adaptações, contudo há outros tantos cuja animação e/ou direção não foram muito felizes (Elegant Yokai Apartment Life e Fukigen na Mononokean, por exemplo) e até existia potencial no material fonte para pelo menos serem algo acima da média.
Não é perfeito mas recomendo o anime Tonari no Youkai-san
Felizmente, Tonari no Youkai-san possui o meu tão amado combo slice of life + iyashikei + folclore japonês e ainda uma excelente direção! Contudo, quanto mais assisto ao anime mais fico triste com a animação. É boa o suficiente para não provocar estranheza mas fica muito aquem de Flying Witch e Natsume Book of Friends.
Tratando-se de um universo mágico, com um ambiente repleto de misticismo seria de esperar uma abordagem estilo Mushishi (já não digo Totoro porque bem, isso é nível God e coitadinhos dos animadores). Em vez disso temos uma animação básica, cumpre o objetivo e é salva pela direção.
No momento em que me encontro a escrever o artigo a série ainda se encontra a sair na temporada de primavera de 2024. Não dava nada por ela, apenas estava curiosa pelo poster. Foi a surpresa da temporada para mim. Bartender, outra série que me apaixonou, já esperava ser todo aquele bálsamo para a alma que é. Só não contava era ter um outro, na mesma temporada, com uma abordagem tão diferente. Um sobre o mundo real e outro sobre o imaginário.
Se, tal como eu, procuram um anime de conforto após um dia de trabalho, esta poderá ser a vossa série. Basta o primeiro episódio para saberem se é o vosso estilo ou não. Se o for, preparem-se para episódios de pura doçura e de histórias mágicas.