Uchouten Kazoku foi a minha escolha para última análise de 2014. Desenvolvida pela P.A. Works e transmitida durante o verão de 2013, esta obra apresentou-se com um enredo verdadeiramente excêntrico, fazendo jus ao seu título que pode ser traduzido para: “Uma Família Excêntrica”. Vamos então ficar a saber um pouco mais sobre esta produção que mistura o drama e a comédia em pleno ambiente de fantasia.
Uchouten Kazoku | A História
Quioto é uma cidade ocupada por três tipos diferentes de residentes: os humanos, os tengu e os tanuki. Com o passar dos tempos, estas diferentes criaturas adaptaram-se e aprenderam a viver com o mínimo de respeito e paz possível a fim de garantirem estabilidade à região.
O protagonista, Yasaburou Shimogamo, pertence a uma das famílias tanuki mais conceituadas de todos os tempos. Uchouten Kazoku acompanha assim as aventuras de Yasaburou que, à semelhança de todos os da sua espécie, tem também a capacidade de se transformar em qualquer outro ser ou objeto. Este está habituado ao contacto com as criaturas de espécies diferentes, até porque cuida de um velho tengu (Akadama) e relaciona-se com uma humana altamente respeitada por todos (Benten). Yasaburo é alguém sem tempo para aborrecimentos, que à medida que vai contabilizando peripécias do dia-a-dia vai também descobrindo novas verdades sobre a morte do seu pai, Souichirou.

Uchouten Kazoku | O Enredo
Uma vez que o protagonista (Yasaburou) é um tanuki, não seria de esperar outra coisa que não um enredo a funcionar em torno da perspetiva desta espécie. No entanto, esta centralização nos tanuki não é de uma dimensão tão elevada quanto se poderia esperar, algo que contribui desde logo para a valorização da série. De facto, todos os pensamentos partilhados por Yasaburou em cada um dos episódios são com base na co-relação entre as três raças e não numa só. São estes desabafos, conselhos e reflexões que nos deixam a pensar, pois são argumentos construídos com cabeça, tronco e membros. Sem querer perder o fio à meada, ainda no que toca à abordagem das diferentes espécies, o maior paralelismo existente é o tanuki-ser humano que, como facilmente se percebe, é o de maior interesse para nós. Só mesmo os tengu é que têm uma menor abordagem do que o merecido, talvez por serem poucos os capítulos e por estarem fracamente representados no elenco principal. O velho Akadama, de nome Nyoigatake Yakushibo é o único digno de referência. Há uma breve menção a esta espécie e à sua existência num dos capítulos porém, para uma criatura interessante que consegue viajar pelo céu como os pássaros e tudo, era de esperar um foco maior.
O anime é curto, as personagens importantes são poucas e as peripécias são muitas. Consequências? Temos um enredo de ligações muito fortes, o que resulta numa rápida integração do espectador com a produção e assegura o conhecimento a fundo da história de vida de cada um dos protagonistas e antagonistas. Estamos a falar de duas famílias tanuki, de um velho tengu e de Benten, aquela que representa os humanos na sua forma mais imprevisível, enigmática e em parte apaixonante. Estes são pontos mais que positivos para quem quer entreter verdadeiramente o público e só tem uma dúzia de episódios para o fazer.
Para terminar, volto a falar das reflexões que o jovem Yasaburou faz, normalmente no final de cada episódio, sobre a vida e as partidas que ela nos prega. Em causa está um ambiente repleto de fantasia, numa cidade onde conseguem habitar três espécies diferentes e manterem o equilíbrio entre si. Parece tudo tão diferente da realidade… Todavia, as semelhanças com o nosso mundo são bastante óbvias e os desabafos deste tanuki são mais sensatos e perspicazes do que nunca. “The Eccentric Family”, nome em inglês da produção, vale muito por isto, ou seja, por chegarmos ao final de cada dia/capítulo e aprendermos alguma coisa com a vida.
Uchouten Kazoku | O Ambiente
Se há secção onde Uchouten Kazoku atinge o patamar de excelência é aqui. Sinto uma extrema dificuldade em apontar o dedo ao que quer que seja. As cores são o principal destaque. Há uma enorme variedade e todos os tons utilizados são amigáveis, isto é, não são aplicados tons berrantes nem nas personagens, nem nas paisagens, nem em lado nenhum. Os sentimentos de alegria, tristeza e de estado neutro que se pretendem transmitir estão sempre lá quando pretendidos.
As animações são bastante leves e fluídas, bem mais interessantes que aquelas que a P.A. Works apresentou em Glasslip, no verão passado. Os tengu e a flutuação de Benten pelos céus são o melhor exemplo de todos. Que leveza, que facilidade de interação e movimento. Incrível!
A arte do desenho também está bem diferente de tudo o que estamos habituados a ver. Não a quero comparar com outras séries e dizer que é melhor ou pior. Digo apenas que é diferente, diferente de uma maneira bastante agradável, o que contribui para chamar o público a ver esta produção.
O opening contrasta na totalidade com o ending. Enquanto o primeiro é extremamente vivo, tanto pelo vídeo como pela “Uchouten Jinsei”, música dos milktub, o segundo tem um ritmo muito lento na mudança de imagens e na música reproduzida. Sou mesmo capaz de afirmar que um representa o stress e o perigo constante que assolam Yasaburou nas suas aventuras e das quais este vive dependente, e o outro os tempos de paz, tristeza e reflexão nos momentos pós-drama que se abatem sobre a família Shimogamo.
Uchouten Kazoku | Juízo Final
Li alguns artigos sobre esta obra e fiquei um pouco surpreso com as excelentes cotações que recebeu. Quero dizer, a produção tem qualidade, mas não encontro nela, particularmente na parte da história uma cativação tão profunda quanto isso para me deslumbrar, por mais que os temas abordados e as peripécias exibidas possam ser originais e atrativas. A “Uma Família Excêntrica” falta algo que permita cativar o espectador a fundo, aquele brilho que as obras imortais têm. A história é boa, mas podia ser ainda melhor e o tempo de transmissão também deixa a desejar: três meses de transmissão é curto para qualquer produção. Já o desenho e a animação encarregaram-se de sobrevalorizar a série com o excelente trabalho desenvolvido. Uma “abébia” insuficiente para a chegada ao topo.
Podia alongar mais um pouco esta análise visto que a família em causa é mesmo excêntrica e algumas das personagens que dela fazem parte nem cheguei a mencionar. É uma tarefa que deixo ao encargo de quem quiser dar uma oportunidade a este anime que vale a pena ver. Podem não sentir saudades dele quando terminarem, mas é certo que vão ficar no mínimo satisfeitos por o terem adicionado ao vosso currículo de visualizações.
Análises
Uchouten Kazoku
Apesar de lhe ser reconhecido grande valor, a Uchouten Kazoku falta algo para cativar o espectador a fundo. Não tem aquele brilho que as obras imortais têm.
Os Pros
- Produção Visual
- Banda Sonora
- Enredo
- Personagens
Os Contras
- Não tem aquele brilho que as obras imortais têm.