Prólogo:
Para não incorrer nas minhas longas introduções quero apenas deixar uma pequena achega sobre esta rubrica. Vida a Preto e Branco será o meu repositório de pensamentos sobre manga! Poderão ser recomendações de obras, análises a algum arc, confronto, personagens ou relações entre elas.
Seja o que for, se pertencer ao universo manga, é através desta rubrica que vou expressar os meus pensamentos.
Espero que gostem!
Em mais uma das minhas pancadas, em vez de me juntar à caravana e começar a minha jornada por Dr. STONE através do anime, decidi finalmente seguir a forte recomendação de ler o manga, o qual seria a obra certa para eu ler, segundo me disseram com veemência.
A ti, Raquel, tiro o chapéu!
À data de escrita, estou no início do capítulo #63 do manga e, sentindo-me revigorado pelo artigo da Usagi Wright, decidi escrever este “desabafo” sobre ideias que têm viajado pela minha mona desde que comecei a ler a obra de Inagaki Riichiro e Boichi.
Vida a Preto e Branco – Dr. Stone e o Renascer da Ciência
Curriculum Vitae
Contextualizando o meu encaixe “na mouche” nesta obra, um pouco como Senkuu, desde sempre tive curiosidade com a descoberta e durante muitos anos a minha paixão foi a ideia de ser arqueólogo. Contudo, à entrada para a adolescência e com a introdução de temas um pouco mais estimulantes em química, física e biologia, a sede de descobrir e saber dividiu-se para os compostos, moléculas, processos biológicos, mecanismos e espaço.
Olhando para trás, posso não ter tomado a melhor decisão, mas a verdade é que, acreditando na “pureza” da ciência e na sua capacidade de solucionar problemas e resolver “as maleitas” deste mundo, embarquei num curso superior nesse contexto.
Verdade seja dita, 5 anos de Licenciatura + Mestrado chegaram para eu perceber que o mundo da ciência não era o que eu pensava e a minha ingenuidade e ambição de construir algo por esta via esmoreceu bastante, face às diretivas que regem este meio.
A arte sempre ajudou a construir uma ideia romântica do que é ser cientista, do que é abraçar esse vasto “universo” para salvar o nosso. Sem dúvida que foi isso que levou muita gente a enveredar por esse meio e levou vários dessa gente a terem sucesso e a conseguirem ultrapassar incríveis barreiras na ciência.
Adoro sci-fi, adoro a imaginação do que a ciência pode ser ou pode vir a ser, mas nada até hoje me fez recordar tão vivamente a alegria e o êxtase de criar, descobrir e investigar como Dr. STONE.
Aqui há Ciência!
A história e o incidente que a despoleta nem são importantes para esta questão, o que importa é o que resulta desse incidente – um completo reset do nosso planeta, sem a presença do ser humano (pelo menos não do humano moderno).
Esta é a tela perfeita para colocar um cientista e logo um no sentido mais puro da palavra, Senkuu. Ele mune-se da lógica e raciocínio e aplica todo o seu conhecimento científico, num mundo que “nunca viu” ciência.
É literalmente “o reinventar da roda”.
Claro que há concessões que têm que ser feitas, começando pelo facto de Senkuu ter um conhecimento enciclopédico de todas as descobertas científicas, suas aplicações, como obter certos compostos, como arranjar alternativas a certos compostos modernos, etc. Outra, prende-se com o facto de não ser referido, pelo menos até à data, as consequências da extração ou elaboração de certos compostos.
Existem também alguns saltos de lógica em termos da possibilidade de serem realizadas certas experiências, ou de como pessoas “primitivas” acabam por abraçar a ciência com relativa facilidade.
Contudo, o fundamento científico está todo lá. Senkuu é a personificação da ciência no seu estado mais elementar: resolução de problemas, melhoramento da qualidade de vida e evolução. É fantástico, experiência após experiência, ver como Senkuu aplica o método científico, aumentando assim o leque de opções no caminho para a sua “reconstrução do mundo moderno”. E a viagem não é de todo fácil e várias vezes são ilustrados os processos complexos e morosos para atingir o objetivo X, assim como a inescapável “tentativa e erro”, que é o “grão a grão…” da ciência.
Outro exemplo de algo que gostei, foi a obra chamar a atenção para os sub-produtos da ciência. A isto, claro, refiro-me aos produtos que se conseguem por “acidente”, ou como consequência, do processo para atingir um objetivo/produto final. Exemplo disso na vida real, são todas as coisas que acabaram por fazer parte do nosso dia a dia, que advêm da tecnologia para exploração espacial.
Basicamente, Dr. STONE faz-me lembrar uma versão de Age Of Empires e jogos do género, mas com personagens interessantes, muitas nuances e detalhes, detalhes everywhere.
Tal como “Hataraku Saibou“, parece-me que Dr. STONE tem também um cariz educativo para além de todo o aliciante entretenimento que fornece. Quanto mais não seja pelo despertar da curiosidade dos jovens leitores para a ciência.
As “Muitas Faces” de Boichi:
Comecemos logo pelos ambientes de fundo e os page spreads. São fantásticos. No geral são bons, mas de vez em quando, Boichi puxa dos galões e entrega-nos um painel que é simplesmente arrebatador.
Em termos de design de personagens e flow de painel para painel, gosto de ambos, embora me tenha custado a habituar a forma como o mestre desenha os olhos, sobretudo os das mulheres em geral e os da Yuzuriha em particular. Ainda não vi como ficaram no anime, mas no manga parecem os de uma boneca O.O
Mantendo-me nas personagens, gosto das suas caraterísticas distintivas, pois sente-se que o design de cada uma foi minimamente ponderado.
Ainda assim, a cereja no topo do bolo, que a par do que referi acima (pelo menos para mim), parece ser a “ultimate technique” de Boichi, são as reaction faces. Vocês sabem bem quais são!
Embora, e infelizmente, o meu catálogo manga não seja tão extenso quanto eu gostaria, penso que estas expressões são distintas do que geralmente se vê pelo Japão. Contudo, são muito familiares aos fãs de animação ocidental, sobretudo se na vossa infância assistiram a cartoons como “Courage the Cowardly Dog” e “Ren & Stimpy”. Foi uma surpresa agradável, que primeiro estranhei e depois assimilei com alegria. É uma fusão de estilos que permite à obra sobressair também a nível artístico.
Pensamentos Finais:
Queria dizer muito mais, mergulhar nas profundezas da obra e esmiuçar as suas maravilhas, mas como tenciono que isto seja um artigo impulsionador com o propósito de recomendar o manga, quero deixá-lo spoiler free.
No entanto, com o avançar do anime, há a possibilidade de revisitar a minha apreciação por Dr. STONE. Tal pode consistir em comparações entre manga e anime, análises à significância ou simbologia das personagens, ou ainda no discorrer sobre a definição de prioridades por parte de Senkuu para levar este mundo despido até à modernidade.
Estariam interessados em algo assim?
Para concluir: não apenas por ter revigorado a minha curiosidade e ilusão pela ciência, como também pelo “caminho” e personagens, a obra de Inagaki e Boichi tornou-se um dos meus “livros” de cabeceira e eu recomendo vivamente que dêem uma vista de olhos. Se manga não for para vocês (o que é uma pena diga-se) podem acompanhar a adaptação anime que está atualmente em transmissão.
E não se esqueçam, nas palavras do eterno “Marky Mark”:
Take an interest in science!
Nota: Se não entenderam a referência, ‘shame on you, shame on all of you’!
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