O processo de tradução é sempre um desafio para quem trabalha na área, seja qual for o segmento: livros, manuais, documentos, etc. Inclusive os mangás. Quem acompanha o mundo geek sabe que as traduções também são adaptações à realidade dos leitores de uma determinada língua. Nesse sentido, diversos mangás adaptam nomes, conceitos e até jargões para aproximar o leitor da obra.
No entanto, recentemente, um tradutor decidiu abandonar o trabalho de tradução de um mangá da Shonen Jump, a principal antologia semanal do género shōnen, publicada pela Shueisha.
A razão dada pelo tradutor foi que o mangá seria intraduzível.
Cipher Academy – O mangá impossível de traduzir

Kumar Sivasubramanian, tradutor do japonês para o inglês na Viz Media, foi o profissional que optou por desistir da tradução da Cipher Academy. No site Screen Rant, Sivasubramanian escreveu que “um novo mangá da Shonen Jump tornou-se impossível de traduzir“.
Cipher Academy tem uma narrativa mais orientada para o suspense: a história gira em torno de Iroha Irohazaka, uma estudante que frequenta aulas em uma escola que leva o mesmo nome do mangá. No colégio, os alunos precisam resolver quebra-cabeças e enigmas de forma competitiva. E, bem, para traduzir a obra, o tradutor também precisa resolver os enigmas linguísticos.
Numa cena em particular, baseada numa batalha com lipogramas, os participantes do enigma não podiam usar algumas combinações de sílabas e letras. Nele, Irohazaka e Tayu Yugata, seu oponente, tiveram que responder perguntas sobre alguns mangás, como “Dragon Ball Z”, “One Piece” e “Demon Slayer”, sem usar várias consoantes e combinações de vogais que eram proibidas para resolver o enigma.
Esta situação é vista como um desafio pelos tradutores, uma vez que o processo de tradução, seja tradução técnica, tradução de manga ou jogos, exige um excelente nível do idioma original. Isto porque é necessário ter extremo cuidado e atenção para garantir que a obra traduzida seja fluida e fiel à versão original.
Este desafio esbarra em questões linguísticas complexas, que podem acabar por alterar completamente o significado das mensagens passadas no idioma original. As sílabas japonesas descritas no mangá da Cipher Academy, para este caso específico, não correspondiam às sílabas que poderiam ser traduzidas para o inglês.
Mediante esta dificuldade, Sivasubramanian apenas imprimiu uma transliteração dos lipidogramas em japonês, ou seja, sem resolver o enigma em inglês, e acrescentou uma nota do editor: “Embora tenhamos traduzido aproximadamente cada resposta, estes lipogramas não funcionaram em inglês, devido a diferenças fonéticas em relação ao japonês.”
Após o episódio, o tradutor postou em seu Twitter que deixará o trabalho e será substituído por outro profissional.