Like a Dragon: Ishin!

A franquia Yakuza, recentemente renomeada para Like a Dragon, cujo sucesso no Ocidente por muitos anos foi desacreditado pela Sega, a sua publicadora, é agora um grande êxito por todo o mundo, em parte devido ao lançamento de Yakuza 0 fora do Japão em 2017 para a PlayStation 4 – o jogo é considerado por muitos fãs o melhor da franquia.

Fruto do sucesso desta entrada e do consequente pico de popularidade que trouxe à franquia, a Sega começou a investir na localização e remasterização de vários jogos mais antigos, assim como no porte destes para novas plataformas. Assim, nos últimos anos a franquia tem estado recheada de conteúdo e de cada vez maior acessibilidade para novos fãs, que agora praticamente podem explorar toda a saga de Kiryu Kazuma em quase todas as plataformas.

Entre muitos dos spin-offs que a franquia oferece, existe um que há muitos anos era pedido pelos fãs, que de tal modo ansiavam que o jogo fosse trazido para o ocidente que o jogavam com tradutores de ecrã a partir de contas japonesas. Isso mudou quando a Ryu Ga Gotoku Studios anunciou, numa showcase no final de 2022 que este iria finalmente lançar sob a forma de um remake que o traria para o Unreal Engine após um trabalho árduo por parte da equipa de tradução, com data de lançamento para 17 de fevereiro de 2023.

Agora que já tivemos uns meses com as mãos no jogo, vamos mergulhar nesta aventura passada no período da Restauração Meiji, protagonizada pelos atores já tão bem conhecidos na franquia e perceber, na pele de Sakamoto Ryoma, o porquê deste ser um dos melhores spin-offs que Yakuza tem para oferecer – Like a Dragon: Ishin!

Like a Dragon: Ishin! – Análise ao Jogo

Jogabilidade

Algo que é de esperar vindo de um jogo desta franquia é a variedade de estilos de combate presentes no nosso protagonista. Deste modo, Ryoma pode contar com os típicos 4 estilos de combate: Swordsman, Wild Dancer, Brawler e Gunman. Estes estilos destacam-se dos que podemos encontrar nos jogos principais da franquia, recorrendo essencialmente a armas como katanas e pistolas para estabelecer uma coordenação entre ocidental e oriental, apesar da permanência do brawler.

A inclusão de estes estilos traz bastante variedade às formas como o jogador pode interagir com o combate: a partir do Wild Dancer, é possível usar simultaneamente a espada e a arma para um controlo de grandes grupos; enquanto o Gunman e o Swordsman são mais direcionados a usar cada uma destas armas individualmente. O Brawler recorre apenas à força bruta, como é típico dos jogos principais da franquia.

Por mais que a ideia destes estilos de combate no papel seja bastante interessante e ambiciosa, dado que se arrisca a tentar abordagens que nunca tinham sido vistos na franquia, na execução acabou por não ser nada do outro mundo.

Semelhante do que se pode ver noutros jogos da desenvolvedora com esta prática dos diferentes géneros de combate, estes são bastante desequilibrados não só na sua qualidade geral e polimento como mesmo no que toca à eficácia contra os inimigos, pelo que o mais certo é que o jogador acabe por ignorar alguns deles por completo.

Apesar de já estar habituado a esta falta de balanceamento nos jogos da franquia, este foi de longe um dos jogos onde achei isso mais notável devido à presença de equipamento como espadas e as recém-adicionadas cartas de poderes que, uma vez que estejam nas mãos do jogador, tornam a dificuldade uma completa piada mesmo jogando no modo mais difícil, conseguindo obliterar inimigos em questões de segundos.

Isto fica especialmente evidente na disparidade entre o Gunman, que consegue aniquilar qualquer inimigo ao pressionar o mesmo botão várias vezes por uns segundos uma vez que se consiga a arma certa. Já o Brawler, devido à falta de equipamento e à pouquíssima escala de dano que se ganha ao subir de nível, é basicamente inútil pelo jogo inteiro.

Tudo isto não significa que o combate não consiga ser divertido. Apesar de todos os problemas, o jogo brilha na qualidade das animações, nos ataques especiais e nas lutas contra bosses. Além disso, as dungeons que se encontram na história são bastante divertidas e intuitivas de se explorar, e contam com uma banda sonora excelente para acompanhar.

Um Mapa Cheio de Vida

Tal como seria de esperar, Ishin! conta com um dos melhores traços de qualidade da franquia Yakuza: a capacidade de fazer um mapa extremamente vivo e cheio de coisas diferentes para fazer.

Na cidade de Tosa, o jogador pode contar com o regresso de atividades já há muito presentes na franquia, como karaoke, onde poderão ser cantados clássicas músicas da série como a Baka Mitai (adaptada ao estilo da época) entre outras novas canções; corrida de galinhas, para ganhar algum dinheiro benéfico para usar em armas ou outros objetos; e os típicos jogos de tabuleiro como Mahjong e Shogi, sendo estes disputados contra a inteligência artificial do jogo.

E no que se diz a atividades novas, também é possível contar com uma mão cheia de diversos minijogos divertidos para experimentar: uma série de jogos de ritmo criativos como cortar madeira ou dançar música tradicional japonesa; interagir com os habitantes da cidade para ganhar a sua confiança e aumentar a reputação na cidade ou até mesmo fazer amizades com pessoas aleatórias na rua, que recompensarão o Ryoma por, por exemplo, os ajudarem a fazer o seu trabalho; entre muitas outras atividades.

Para além deste conteúdo, é nos introduzido ainda um modo completamente novo: o Another Life, que convida o jogador a praticar trabalhos mais mundanos como ter e manter uma horta, animais de estimação e vender os produtos ou até mesmo cozinhar comida, o que acaba por ser uma grande ajuda e uma fonte de rendimento bastante recomendável no início do jogo.

Qualquer uma destas atividades são completamente opcionais, apesar de algumas serem introduzidas pelo modo história. Para quem está à procura de fazer Platina, pode esperar por ter pelo menos o triplo do tempo de jogo do que caso fosse apenas pela história, uma vez que os requisitos para cada um destes minijogos secundários variam entre simples e rápidos até extremamente elevados, requerendo, em alguns casos, horas de dedicação.

História

A história de Ishin! não só é o seu ponto mais forte, como é no seu geral uma das melhores histórias da franquia. Passada no que é uma das épocas mais interessantes do Japão, a Restauração Meiji, todos os atores já conhecidos da franquia fazem um ótimo trabalho na interpretação das figuras históricas desta época.

A tensão é construída de uma forma bastante cativante, e não demora muito tempo a pôr o jogador a par da situação: os habitantes da cidade de Kyo nos 1860s são vítima da opressão do sistema de classes, sendo a missão de Sakamoto Ryoma mudar o rumo da história e tornar o Japão um lugar melhor.

É uma história que trata os temas de honra, lealdade e traição com bastante carisma, e aproveita os papeis já bem estabelecidos dos atores que protagonizam esta história normalmente para dar vida a esta interpretação de uma das épocas mais importantes do país, sendo o único ponto fraco que tenho a apontar alguns problemas no ritmo da história, que por vezes sobrecarrega demasiada informação e acontecimentos que podiam facilmente ter sido contados de forma mais dispersa ao longo do jogo.

Para além disto, também é possível obter a dose de comédia habitual de Yakuza nas histórias secundárias espalhadas pelo mapa.

Veredito Final

O remake de Like a Dragon: Ishin! é mais uma entrada bastante sólida na já renomeada franquia. Ainda assim, existem problemas que podem ser encontrados em diferentes aspetos do jogo, e sinto falta de muitas das qualidades de vida que podiam ter sido implementadas uma vez que isto se trata de um relançamento (principalmente no caso do público japonês, que pouco usufruirá deste).

Diria que o jogo continua a ser uma mais-valia para os fãs da franquia, que finalmente têm a oportunidade de jogar este título que por muitos anos esteve limitado ao seu lançamento no Japão, agora com alguns aprimoramentos gráficos.