Nisekoi | Análise

Nisekoi surgiu na temporada de inverno de 2014 como adaptação da manga de mesmo nome. A obra original já possuía uma certa fama, devido ao fato de ser uma obra relativamente acima da média (considerando o género), e porque é uma comédia romântica a ser publicada na Shonen Jump. Assim que a base de fãs descobriu que seria a Shaft a adaptar a obra para animação, as opiniões dividiram-se.

Considerando as obras anteriores desta produtora de anime e a forma como as adapta, entende-se facilmente o porquê da divisão de opinião entre o medo e a expectativa ansiosa.

 

 

Nisekoi | A História

Raku aos 6 anos realizou uma promessa com uma rapariga. Agora, passados 10 anos, não se lembra de como a rapariga era a nível físico, mas não esqueceu a promessa. Este usa um colar com uma fechadura, e sabe que a rapariga da promessa tem uma chave que conseguirá abrir o colar, no entanto, nunca mais a encontrou.

Aos 16 anos, Raku conhece Chitoge Kirisaki, no momento em que esta foi transferida para a turma dele. Como se já não bastasse o ódio mútuo que nutriam um pelo outro, são obrigados a fingir que se encontram numa relação, para evitar sangue entre as duas famílias, sendo que a família dela é constituída por gangsters e a família dele por yakuzas.

 

 

Nisekoi | Enredo

A premissa de Nisekoi é de longe algo completamente original, no entanto, não é a ideia em si que nos prende, mas sim o mistério que é criado à volta da mesma que nos absorve a atenção. Uma promessa, que um rapaz fez com uma rapariga. Supostamente deveria existir apenas uma rapariga para a promessa, mas existem três com a posse de uma chave que poderá abrir o aloquete de Raku. Isto até pode parecer um pouco banal, num primeiro olhar, mas posso garantir-vos que se estiverem a ver Nisekoi (a gostar ou não) vão querer ver até ao fim para poderem ver a resolução deste mistério.

 

 

Um dos problemas mais graves na narrativa de Nisekoi, é o quanto se desvia da linha principal da história. São criadas tantas situações típicas, cliché, mergulhadas em aborrecidos eventos harem, com aspetos explícitos provenientes do ecchi, que nos fazem esquecer várias vezes qual o objetivo principal desta história, o que infelizmente se torna algo muito negativo.

A natureza de Nisekoi é projetada com uma essência juvenil/adulta, mas com tanta coisa comum pelo meio, esta essência vai descendo progressivamente até se tornar algo mais infantil/juvenil.

 

 

Dito isto, o enredo em si e como um todo, está demasiado despedaçado. Ou seja, perde-se em si mesmo como se não soubesse aquilo que realmente quer ser, esquecendo-se do objetivo principal, deixa de parte aquilo que realmente o tornava uma obra interessante.

Por outro lado, e mesmo com problemas a nível narrativo, Nisekoi desenvolve com alguma destreza as personagens principais, deixando-nos a gostar de grande parte delas. São cativantes e distintas, o que acaba por dar vida e interesse à narrativa mesmo quando ela realmente não o é. Estas conseguem entregar-nos aquilo que de melhor a obra tem para oferecer, seja nos momentos hilariantes, no humor inteligente na medida certa, até ao drama e ao romance.

 

 

Nisekoi | Ambiente

A obra original a nível de visual, encontra-se bem acima da média considerando o género Shonen como termo de comparação. O design das personagens é interessante, com um traço de desenho fino e preciso. Estes e muitos outros pequenos pormenores foram transpostos com excelência para a animação. A Shaft é conhecida pela sua qualidade de topo, e também por adicionar sempre o seu toque “pessoal” à obra, seja ela uma adaptação ou não.

Ora, as mãos da Shaft mostraram os seus pontos positivos e os seus pontos negativos. Pelo lado mau, o “toque pessoal” da shaft veio catalisar os aspetos negativos do manga, na medida em que veio salientar progressivamente a sua transformação de uma obra juvenil/adulta, para uma obra infantil/juvenil. Todos os tons brilhantes, os elementos ofuscantes moe que intensificam os momentos narrativos de fraca qualidade, fizeram com que a obra vira-se uns 180º na direção errada.

 

 

Já o lado positivo vai conquistando terreno em outras áreas, e acaba por estabelecer um equilíbrio estranho à obra. As metáforas visuais típicas da Shaft inseridas numa curta quantidade de frames, a animação fluida, a boa coloração e o desenho consistente, as pequenas dramatizações das expressões coladas em pequenos close-ups, oferecem e acrescentam um toque especialmente qualitativo na adaptação do visual da obra.

 

 

A banda sonora é extremamente agradável, com pequenas faixas compostas por piano e guitarras clássicas, a sonoridade vai encaixando sempre de forma perfeita com a cena em questão.

O trabalho que os Seiyuu realizaram com as personagens principais é excepcional. Estas, na obra original, possuem um carisma forte e distinto. Contudo, a interpretação dada pelos atores foi tão boa que conseguiu moldar as personagens, em algo ainda mais único.

 

Nisekoi | Juízo Final

Momentos relaxantes, gargalhadas, uma lágrima ou outra e alguma frustração, são sentimentos e reações que vão obter com Nisekoi. O problema é que, as teias narrativas desviam os acontecimentos da linha principal, e só esta é capaz de vos transmitir o suficiente para atingir um nível considerado emocional.

Portanto, se procuram algo mais juvenil/adulto, com um nível narrativo mais coeso e fiel e até gostaram da premissa de Nisekoi, então aconselho que passem os olhos na obra original. No entanto, se estão aqui pelo harem, moe e ecchi, ou até só para ver uma obra sem profundidade narrativa mas com personagens carismáticas, então Nisekoi é sem dúvida aquilo que procuram.

 

Trailer Nisekoi