Acabei de assistir ao primeiro episódio de Wistoria: Wand and Sword (Tsue to Tsurugi no Wistoria) e tenho que confessar que nem tinha ideia da sua existência, o que fez com que o sentimento bom com que fiquei soubesse ainda melhor.
Na última década, temporada após temporada, temos vindo a ser inundados com inúmeros anime isekai de fantasia – ou fantasia pura – e só muito ocasionalmente, reais preciosidades se destacam no meio da palha. Como exemplo nomeio Tensei Shitara Slime Datta Ken, Mushoku Tensei, KonoSuba ou Shangri-La Frontier.
No tema mais específico da magia como ponto central, sinto que às vezes o pecado é ainda maior. Aliás foi essa escassez de qualidade que me levou em adolescente a tentar encontrar refúgio em Fairy Tail. Contudo, só encontrei a minha “casa mágica” de anime/manga quando assisti a Black Clover. O circulo fechou-se, comicamente, quando a paródia potteriana que é MASHLE me caiu nas mãos.
Com estes dois belos exemplares no que toca a magia e somando maravilhas da fantasia que mencionei acima achei que tinha a barriga cheia no que toca a estes tópicos e que, portanto, não teria que esperar que novamente algo especial saísse do lodo.
Pois bem, andava eu em scroll infinito e reparo numa imagem totalmente aleatória que compilava protagonistas “cuja falta de talento em algo fazia deles incríveis noutros aspectos”. Na imagem constavam o Mash, o meu querido Asta e… o Will Serfort, o protagonista de Wistoria.
Levado pela curiosidade decidi dar uma chance ao primeiro episódio, desconhecendo totalmente a sua produção e obra mãe. O que se segue é uma pequena reflexão sobre o que vi e como Wistoria pode tornar-se na surpresa da temporada.
Será Wistoria a Surpresa Mágica da Temporada de Verão?
UmaSinopse bem Familiar?
Num mundo onde reina a magia, Will Serfort não consegue conjurar qualquer feitiço. Apesar de ser trabalhador, os colegas de turma de Will menosprezam-no também por isso. No entanto, ele tem uma força secreta: a sua espada. Conseguirá Will desafiar as expectativas com o músculo sobre a magia e a lâmina sobre a varinha? Descobre nesta aventura épica de espadas e feitiçaria!
Dir-me-ão vocês que a sinopse parece parca e genérica. Bem, e é! Mas, citando e parafraseando o grande crítico de cinema, Roger Ebert:
O significativo não é o que o filme trata, mas como o trata.
(It’s not what a movie is about, it’s how it is about it.)
Roger Ebert
A citação encerra uma profundidade não alcançada pelo curto número de palavras.
Quem está familiarizado, por exemplo, com a obra de Joseph Campbell, O Herói de Mil Faces, estará mais apto a perceber onde quero chegar. Resumidamente, Campbell descreve no livro a “Jornada do Herói” um circulo de eventos que estão na base da grande maioria das histórias com tal premissa. PS: podem trocar herói por protagonista, dependendo da narrativa.
Quer isto dizer que mesmo quando achamos uma história altamente revolucionária, no esqueleto estão alicerces bem conhecidos, mas que hábeis narradores e criativos sabem como manipular e adaptar para contar uma história familiar de uma maneira altamente refrescante.
Eu creio que Wistoria pode encaixar neste parâmetro. Temos um protagonista menosprezado num mundo onde a magia é lei; academia de magia que ele quer escalar até ao topo porque fez uma promessa a alguém importante; obstáculos abundam e ele terá que os ultrapassar. Tudo isto não é novo quando visto assim. A novidade vem da personalidade do nosso “guia” e restante elenco e da forma como a produção nos apresenta este mundo e as suas personagens.
Ainda só vi um episódio e tudo pode ruir com facilidade, mas vi sinais de uma boa execução até ao final. Vamos lá ver…
UmProtagonista Adorável
Nesta secção nem preciso de me alongar muito porque acho que é facilmente perceptível após assistir ao primeiro episódio. O Will é um doce de moço. A robustez e habilidade para manusear a espada e controlar o ambiente de combate não costumam associar-se a um rapaz tão earnest, adorável e divertido.
O mais próximo que me vem à cabeça é talvez o Asta, e se calhar até mesmo por isso engracei logo com ele. Depois, tem uma sede de aprender cativante que me faz lembrar o Ei-chan de Baby Steps; uma simpatia que, citando uma amiga e entendida, é uma autêntica green flag; e uma sinceridade de atacar a vida e o seu objetivo que é impossível não atrair pessoas à sua volta.
Sobre o restante elenco ainda não há muito a dizer, mas as sementes da sua relação com a Elfie parecem mesmo mimosas e ela parece igualmente um doce de pessoa.
Ainda assim, além do Will quero destacar o Professor Workner, um daddy que claramente foi dos poucos do corpo estudantil e docente a entender o real potencial do Will apesar da sua incapacidade em usar magia – algo que o impede de conseguir créditos de 1/3 das coisas a avaliar: spellwork. Ocupará certamente o papel de “sensei” e, a julgar pelo primeiro episódio, ocupará muito bem.
UmaProdução Imperdível
Nos primeiros dois minutos do episódio fiquei imediatamente rendido com a apresentação visual do anime. Não apenas com o estilo de animação, mas com “as mãos” do realizador. Ou seja, mais do que belo, a equipa de produção do anime parece estar em plena sintonia na forma como tirar partido do mundo, da história da obra e das capacidades de todos os seus elementos de equipa.
O standard de estilo de animação subiu imenso nos últimos 15 anos, muito disso às custas da sobrecarga dos animadores – relativamente a isto, estarei atento às notícias sobre a produção do anime para saber se estamos perante uma KyoAni, uma P.A. Works ou um Studio Bind, ou se estamos perante uma A-1 Pictures, MAPPA e afins.
Portanto, a “animação bela” já não é tanto uma novidade, mas sim o que se faz com ela. E o que a equipa de produção e estúdios envolvidos fizeram com ela foi incrível. O dinamismo no controlo da câmara nas cenas mais cinemáticas e de ação, o posicionamento da mesma para enquadrar as personagens e os locais da melhor forma, o controlo da luz, a delicadeza do design das áreas e das personagens; fiquei rendido.
No final do episódio fui imediatamente pesquisar mais informações. Fiquei logo surpreendido com três coisas: o grande número de entidades no comité de produção – desde a TBS, Lantis, Kodansha, Crunchyroll-, o facto de dois estúdios estarem listados com a realização – estúdio Actas e Bandai Namco Pictures – e o realizador Tatsuya Yoshihara.
Yoshihara-sensei tem um vastíssimo currículo no mundo anime, tendo trabalhado em todos os sectores de animação e realização e em todo o tipo de produção, mas o que deixou imediatamente relaxado de que Wistoria parece estar nas melhores mãos, foi constatar que ele é não só o realizador principal do anime, como trata da organização/esquematização da série, como escreveu o guião do primeiro episódio e tratou da sua realização. Somando a isto, e talvez mais significativo para mim, foi ver o seu extenso e brilhante trabalho no anime de Black Clover, enquanto realizador principal, realizador de episódios, storyboarder, diretor de animação, animador de in-betweens e de key-frames.
Portanto, “junta-se a fome à vontade de comer” não?
Concluindo e Baralhando
Acho que dá para entender que Wistoria apresenta todos os sinais de um anime a não perder, sobretudo se forem fãs do género. Fui realmente apanhado de surpresa e agora vou estar ansiosamente à espera de cada episódio.
Mesmo que tudo falhe – e espero e creio que não – no mínimo dos mínimos temos o primeiro episódio, como de OVA se tratasse, como uma curta de anime milagrosa.
Por isso, não percas mais tempo em coisas mid tira 22 minutos do teu tempo livre para assistir a esta, para já, pequena maravilha chamada Wistoria: Wand and Sword.