Para os mais desatentos, a 30 de maio 2024 estreou nos cinemas nacionais um dos melhores filmes anime a que assisti nos últimos anos, THE FIRST SLAM DUNK. Hipérbole? Não. Perspectiva enviesada? Cem porcento.
O facto de ser um acérrimo fã de SLAM DUNK ia sempre levar-me a assistir o filme, ainda para mais com tanto envolvimento do Inoue-sensei, mas nunca alguma vez pensei que estrearia nos cinemas em Portugal, ainda para mais, quase ano e meio depois da sua estreia no Japão (22 de dezembro 2023).
Por isso, não esperem uma análise, ou melhor, uma opinião objetiva – até porque tal coisa nem existe -, mas mesmo que eu seja um adorador da obra, isso não descarta automaticamente o quanto adorei este filme e como foi produzido. Aliás, espero que este artigo sirva para pelo menos convencer um de vós a ir ao cinema, ou a confirmar as expectativas de fãs como eu.
Aproveitem, não durará muito mais tempo nas salas de cinema com certeza.
THE FIRST SLAM DUNK é Incrível!

🏀Plotlines A e Bs🏀
Fãs de SLAM DUNK permitam-me uma curta explicação geral para que o pessoal não familiarizado possa acompanhar e entender os pontos em que o filme diverge do manga central.
Essencialmente, o nosso protagonista é o amadoríssimo “génio” Hanamichi Sakuragi, um pseudo-rufia delinquente sempre pronto para arranjar sarilhos e partir para a violência sempre que possível. Apesar do seu visage arrojado de cabelo laranja avermelhado e postura de durão, o Sakuragi é o típico estudante de liceu que quer encontrar o amor, tendo sido rejeitado um recorde de 50 vezes! Contudo, diante dele aparece a doce Haruko Akagi, que vê via a capacidade atlética de Sakuragi o potencial para este ser um grande jogador de basquetebol e introduz o “cabeça quente” à equipa de Shohoku High, onde o seu irmão é capitão.
Na prática, desde esse ponto em diante, a equipa de Shohoku torna-se a protagonista da nossa história, embora a âncora seja a progressão do Sakuragi como jogador e como pessoa, e o seu belo uso como comic relief. Ainda assim, cada personagem tem o seu merecido destaque na obra mesmo que o nosso POV seja através do Sakuragi.
O filme diverge na medida em que aponta o holofote principal para o base dos Shohoku, Ryota Miyagi e dedica-lhe a sua plotline A. Temos acesso ao seu passado tortuoso de complicado e como esteve sempre ligado ao basquetebol de alguma forma. Tudo isto brilhantemente rendilhado em paralelo com o jogo no presente contra os “IMPARÁVEIS” campeões, Sannoh Kogyo.
Esta é a maior diferença e, mesmo que o Miyagi no centro traga uma boa frescura à narrativa, nenhuma outra personagem é descorada ao longo das duas horas de filme. Cada membro dos Shohoku tem o seu obstáculo no jogo que lhe vai dar tempo de antena e um olhar sobre o seu trajeto até àquele momento – plotlines B. Para os fãs, vai ser um recordar lindo do que já conhecemos, e para os estreantes será uma forma de contextualizar um pouco estas personagens, que inclui alguns membros dos Sannoh Kogyo.
🏀Os MVPs do Filme🏀
Eu adoro todos os integrantes do alinhamento principal dos Shohoku, e ainda incluo a manager e o treinador, que é um doce de homem. Ainda assim, a ter que dar o prémio de MVP teria que ser para três personagens: o Miyagi, o Hanamichi e o Mitsui. Não que tenha muito a dizer sobre cada um que não esteja bem ilustrado no filme, mas queria chamar a atenção para eles, porque sem dúvida vão alimentar a vossa experiência ao assistir o filme.
O Mitsui tem um passado tramado do ponto de vista desportivo. Adora basquetebol desde puto, mas uma lesão no joelho afastou-o do court durante um tempo que parecia eterno, levando-o a “fugir” e a virar para um vida de delinquência e problemas até que volta a reencontrar o Miyagi. No filme vemos um pouco desse passado através de flashbacks, mas acima de tudo vemos a sua resiliência enquanto jogador e como o shooter dos Shohoku. Tem uma performance que tem partes iguais de talento, trabalho e tenacidade. Espetacular – e nem vou falar do que ele faz quase no final!
O Hanamichi foi ele o filme todo, mesmo sem o palco ser todo dele. Um hypeman constante e com o melhor timing de comédia. Ri-me a bandeiras despregadas com as suas caras, frases, insultos e comportamentos. Eu tinha saudades dele, claro que isso ajuda, mas vi os meus amigos e namorada, que não conhecem a franquia, a rir e a vibrar e isso, para mim, é mais que selo de confirmação suficiente. Tal como faz com os colegas de equipa, o “laranjinha” arrasta-te para o jogo, para o viveres como ele vive, e é impossível não cair no seu hype. Ele é um “génio” mesmo, embora não seja bem nos aspectos que ele pensa.
O Miyagi, como nosso protagonista e personagem POV neste filme, não quebrou nem por um momento. Com isto quero dizer que, a sua história, passada ou presente, nunca me retirou do filme, nunca foi aborrecida, e numa me soou forçada. É uma história de tragédia e crescimento, que tem o basquetebol como âncora, e se há algo que o filme soube fazer realmente bem foi unir a primeira cena do filme com a última. No presente, pode ter “apenas” acontecido um jogo, mas, em realidade, é o culminar de uma jornada dolorosa para a família Miyagi, que conclui com um merecido passo em frente, que deixa um sorriso no rosto de qualquer um. No jogo, nada a dizer né, o Miyagi é um point guard incrível e tem um muro “intransponível” à sua frente durante as duas partes. Vê-lo com o avançar da narrativa ir desbastando esse muro até ao minuto final, é um mimo.
🏀Que Produção Sublime!!🏀
O zum zum que ouvi pela internet por causa do estilo de animação – sim, estilo de animação e não qualidade de animação – deixou-me imediatamente desconfortável, pois, mesmo antes de assistir ao filme, percebi que era um bias do fãs de anime em geral para com certos estilos de animação menos “belos” como vêm por exemplo em One Punch-Man S1, Demon Slayer, ou Jujutsu Kaisen S1.
Este assunto levar-me-á sem dúvida a escrever um artigo um dia destes, ou falar por outros meios, mas quero desde já deixar claro: podem até desgostar de estilos de animação diferentes do vosso standard, mas quem se está a fechar numa caixa são vocês, e tudo bem para mim.
Sobre a animação de THE FIRST SLAMD DUNK, que parece uma mistura de CG 2.5D com rotóscopia, tenho a dizer que fiquei de queixo caído. A decisão de produzir o filme desta forma permitiu que o realizador e os animadores conseguissem transportar o incrível ambiente de SLAM DUNK para o que a mim pareceu um autêntico jogo de basquetebol, e eu vibrei como se estivesse na bancada.
O dinamismo da câmara, o movimento dos cabelos e das roupas, a fluidez do movimento a fazer as jogadas, só foi possível graças a terem abraçado este estilo. E, dado o pensamento geral sobre CG, poderia dizer-se que foram corajosos e correram um risco, mas depois de ver o filme, acho que nem o consigo imaginar de outra forma.
Eu sinto-me sortudo por uma franquia que tanto adoro ter um manga fenomenal, um primeiro anime com a animação dos anos 90 que tanto adoro e que exsuda aura por todo o lado, e agora uma “sequela” em forma de filme que captura essa aura no novo século, com a nova tecnologia, e a eleva para um patamar que a seguir, só se existisse mesmo na vida real os Shohoku!
Quero ainda sublinhar a importância que foi capturarem essa aura, e muito se deve ao estilo que eu digo parecer 2.5D, por conseguiram transpor brilhantemente as expressões faciais e maneirismos dos personagens para esta versão mais tridimensional. Incrível!
THE FIRST SLAM DUNK é Incrível – Veredito

Eu disse que a minha opinião é enviesada, mas mesmo assim tentei encontrar algo que não tivesse apreciado no filme e não encontro, por isso para mim é um 10! E, mesmo que tentasse por o meu lado de “fã arrepiado” de lado, nunca baixaria além de um 8.5 no mínimo dos mínimos.
Confortou-me ainda o facto de ter ido com pessoas tão queridas para mim, que não conheciam bem SLAM DUNK, e que riram, arrepiaram e vibraram como eu. Acho que isso quer dizer algo.
Não sei por quanto mais tempo o filme estará nos cinemas, mas antes que chegue Haikyuu!!, e mesmo que não conheçam SLAM DUNK, deem uma chance. Se por acaso não o apanharem mais no cinema, procurem-no, vale cada minuto de runtime.