Alerta: filme para maiores de 18
Tenho que confessar que, em termos psicológicos, Belladonna of Sadness (em japonês “Kanashimi no Beradonna“) foi um filme intenso e bastante pesado. Apenas pelo trailer, já conseguimos perceber algumas partes bem perturbadoras, por isso se quiserem ver o filme aconselho a descartarem a antevisão. Mesmo assim, ainda houve bastantes surpresas durante o filme.
Vamos analisar esta obra-prima? Acompanhem-me 🙂
Belladonna of Sadness – Análise do Filme

Belladonna of Sadness – Origem
Este filme foi lançado no ano de 1973, através do estúdio Mushi Production. Foi o terceiro e último filme da triologia Animerama, sendo os dois lançamentos anteriores “A Thousand and One Nights” (1969) e “Cleopatra” (1970).
O estúdio Mushi Production foi o pioneiro a introduzir animação na televisão japonesa e ficou mais conhecido através dos anime “Astro Boy“, “Goku no Daiboken”, “Kimba the White Lion”, “Princess Knight”, “Dororo” e “Ashita no Joe”. Por sua vez, o diretor e co-escritor foi Eiichi Yamamoto, também ele diretor de “Astro Boy” e “Kimba the White Lion”. Apesar de ter ganho apenas uns prémios em Avoriaz e Berlim, este filme é considerado, por muitos críticos do cinema de animação, uma obra-prima.
Belladonna of Sadness – Enredo
Jean e Jeanne viviam um belo amor. Quando decidem casar, o Rei exige receber o dote. Sem dinheiro e sem posses, o casal não tinha nada para oferecer. Porém, a Rainha entende que há algo precioso na casta Jeanne e é então que se dá um crime hediondo, que muda a vida do casal para sempre.
A pobre Jeanne, humilhada e sem rumo, acaba por apelar às trevas e o seu chamamento é atendido por um Demónio. Após este pacto, assistimos a uma série de acontecimentos – uns bons e outros maus – à medida que o tempo vai passando, até sermos presentados com um final extremamente tocante. É uma história que nos fala de liberdade, violência, opressão, sexualidade, pecado e amor. Tudo o que acontece neste filme, do princípio ao fim, é, deveras, emocionante.
Belladonna of Sadness – Características
- Animação: este filme é caracterizado por uma animação minimalista, muitas vezes sem movimento das imagens. Os desenhos parecem quadros pintados a aquarelas e, na maioria do tempo, a animação é desleixada. Outras vezes, temos imagens belíssimas, que deixam qualquer um boquiaberto. Um aspeto que me impressionou imenso foram as expressões faciais, algo que conseguiram captar de forma espetacular.
- Banda sonora: maioritariamente escrita e composta por Masahiko Sato, a banda sonora deste filme está, simplesmente, perfeita. Algumas músicas contam partes da própria história, como a música de abertura (na bonita voz de Mayumi Tachibana). A banda sonora transmite sentimentos de tristeza, agonia e raiva, ao mesmo tempo que consegue ser espetacularmente airosa e encantadora.
Belladonna of Sadness – Juízo Final
Na minha opinião, Belladonna of Sadness é um filme bastante perturbador, com imagens que captam violência e sofrimento de uma forma brutal.
Conseguimos perceber, através da época em que ocorre a ação (tempo de reis e rainhas), que a liberdade de uma mulher era vista como algo demoníaco. Adorei a forma como representaram o inferno, já que vai muito de encontro àquilo que eu mesma acho que faria sentido. No filme, o inferno é apelativo aos humanos, ao contrário daquilo que é habitual. Vemos milagres de cura, abundância, luxúria e prazer (em suma, tudo o que era – e em alguns casos ainda é – considerado obra do demónio).
Nos últimos minutos do filme, todas as mulheres daquele povo são representadas pela face de Jeanne, algo que combina, na perfeição, com a imagem pós-créditos finais: o famoso quadro “Liberty Leading The People“, do pintor Eugène Delacroix. A personagem Jeanne foi, inquestionavelmente, a imagem de muitas mulheres daquela época. Mulheres puras e bondosas, que viram as suas vidas sugadas pela opressão e humilhação, sendo impedidas de serem livres.
Belladonna of Sadness é um filme brutal, que merecia ter mais visibilidade.
Análises
Belladonna of Sadness
Um filme poderoso, a vários níveis.
Os Pros
- Enredo
- Banda Sonora
- Animação
- Excelente capacidade para transmissão da brutalidade
Os Contras
- Qualidade do som