A Netflix tem estado a posicionar-se como o serviço de escolha para os entusiastas de animação. Além de ter disponível uma data de séries, tanto novas como velhas, em rotação, agora tem estado prestes a chegar ao ponto de completar uma trindade de grandes sucessos animados. No passado ano de 2016, demonstraram a sua dedicação à qualidade com Trollhunters e Voltron: Legendary Defender.
Um trata-se de uma série fantasiosa original do visionário Guillermo Del Toro. Esta série traz para a televisão o alto nível de qualidade de escrita e animação característico das obras superiores modernas da Dreamworks como a trilogia Kung Fu Panda e a (presente) duologia How To Train Your Dragon. O segundo, trata-se de uma revitalização da franquia Voltron da década de 80. Um reciclar do anime Beast King GoLion que, eventualmente, ganhou uma segunda vida no ocidente. Agora esta metamorfose chegou ao zénite com a série Netflix ao desfrutar dos talentos da equipa de produção por detrás de Avatar: The Last Airbender e Avatar: The Legend of Korra. Daí resultou uma série digna do amor de qualquer entusiasta, tanto de mecha como de anime. Além disso, é fresca e caracteristicamente contemporânea apesar da idade da franquia. De notar, esta série também foi produzida pela Dreamworks.

Agora, a Netflix aponta o seu olho para provar que mesmo uma adaptação de videojogo não está para além da mira do sucesso. Para isso, escolheram aceitar uma adaptação da franquia Castlevania da Konami. Como cabecilha, temos o rebelde Adi Shankar. Este é melhor conhecido como o produtor do filme Dredd. Também de notar que foi ele quem criou escândalo pela sua curta-metragem Power/Rangers que reimagina os jovens de Angel Grove num mundo sombrio e violento. A história conta com a caneta de Warren Ellis. Um escritor conhecido pelas suas contribuições revolucionárias na BD, ele é mais conhecido pela obra Transmetropolitan. Frederator Studios e Power House Productions são responsáveis pela produção.
Castlevania Proper
A série procura adaptar o jogo Castlevania III: Dracula´s Curse para a NES. No processo, recorre à estética popularizada pela Ayami Kojima e incorpora elementos narrativos de Symphony of the Night. O jogo em questão tem a sua importância para a série ao disponibilizar várias personagens num mesmo jogo. Quando antes apenas havia Simon Belmont, agora há Trevor Belmont e seus companheiros. Destes temos Sypha Belnades, uma feiticeira elemental, Adrian Tepes, melhor conhecido como o dhampir Alucard, e Grant Danasty, um ladrão capaz de trepar paredes. Cada uma destas apresenta formas diferentes de jogo de forma a apelar à necessidade de rejogabilidade. Confesso, porém, que esta variedade de opções não diminuiu em muito a dificuldade infernal. Também foi o jogo que introduziu a música Beggining. Isto tem a sua importância devido ao imponente estábulo musical que sempre destacou Castlevania.
Castlevania Netflix – Primeiras Impressões
A série presta uma homenagem inteligente à pouca história que havia no jogo original. Ao mesmo tempo, forjar algo de novo que entra em linha com a mitologia mais bem definida dos jogos pós-PS1. Daí que o gótico está puxado para o 11 tanto em cenário como em character designs. Embora não cheguem à assombrosa beleza gótica da arte de Ayami Kojima, também não recorrem ao design mais pulp que o pixel art dos antigos Castlevania sugerem. É algo de mais remanescente nos animes clássicos dos anos 80 e 90 por via de Avatar: The Last Airbender. Estes são as principais influências desta série, olhando para o exemplo de obras como Ninja Scroll e Vampire Hunter D.
Quanto à animação, não é exatamente sakuga de início ao fim, mas também não é um slideshow. A meu ver, é de boa qualidade mas prefere poupar de forma a aproveitar ao máximo as cenas que mais requerem os recursos de animação. Como foi amplamente publicitado, a série é imperdoavelmente violenta. Só o primeiro episódio decide estrear o body count com a morte de uma cidade. Isto é ainda reforçado com tudo de classicamente profano num médium visual com a excepção de nudez. É bom ver uma série tão inspirada pela linguagem visual dos filmes de terror do século passado a seguir o exemplo dos seus anciãos com distinção. Embora, tenha que admitir, que chegar até aquele nível de explícito Hammer Horror no futuro não seria mal visto. De resto, só tenho a dizer que a música é muito esquecível, algo de problemático para Castlevania.
Quanto à história, aqui chega ao maior dilema subjacente a esta série. Esta primeira temporada tem apenas 4 episódios, por isso nunca iria poder fazer muito. Quanto mais, serve como proof of concept e dar uma amostra para capturar uma possível audiência. Esta primeira temporada apenas consegue, embora de uma forma admirável, introduzir o cenário, o antagonista e o seu ímpeto, a premissa central e as personagens principais à ação. A única excepção a este tem sido a aparente exclusão de Grant Danasty. Supostamente, a série está a reestruturar um projeto anterior que consistia numa trilogia de filmes animados. A primeira temporada consiste no primeiro filme, enquanto que a confirmada segunda temporada consistirá nos restantes dois. Caso isto tenho sucesso, seria extraordinário poder ver adaptações dos restantes jogos. Notavelmente, uma adaptação da Demon Castle War seria o sonho de qualquer fã já que um jogo está fora de questão.
Como observação final a fazer, acho que a série merece o aclamar e estrondo que criou. De facto, trata-se de uma obra que respeita o source material e adapta exemplarmente o espírito deste. Um projeto pioneiro que demonstra, naturalmente, que o videojogo não é uma quimera inadaptável. Apenas mais um obstáculo que requer o toque Belmont. Espero ver no futuro uma expansão dos seus temas e mais desenvolvimento e caracterização das personagens, especificamente o próprio Drácula. Ele foi estabelecido de uma forma marcante no primeiro episódio e a relação com a sua mulher é algo de refrescante. Flashbacks que mostrem mais disto e a sua vida doméstica ajudará imenso para elevar o conflito central. E, já agora, uma melhoria na banda-sonora seria excelente e extremamente necessário. Nem que seja, possivelmente, um ED dos Dragon Force.