Voltamos para mais uma análise! E desta vez o mais recente desafio do 25 BANPO Book Club foi “Quero Morrer mas também quero comer Tteokbokki” de Baek Sehee, editado em português pela Editora Guerra & Paz.
É um livro autobiográfico sobre uma pessoa que sofre de distimia – uma depressão de baixo nível, mas persistente. E esta será apresentada ao leitor por via de uma narrativa de coleção das gravações de 12 sessões desta com o seu psiquiatra.

O livro abre-nos as portas para dentro da mente de uma pessoa que sofre de depressão prolongada e, para quem não sofre desta doença, o livro espelha-nos as dificuldades do que é viver ou aprender a viver com a doença. E para quem sofre dela, o livro cria desde as primeiras páginas uma ligação e empatia muito fortes, como podem ler nos depoimentos abaixo.
A própria narrativa ilustra na perfeição o que é ser uma pessoa nos seus 20/30 anos e de todas as pressões que nós próprios nos impomos, nas pressões que nos são impostas e como é cansativo e uma batalha imensa tentar alcançar os sonhos e pressões que nós próprios criamos, mas também aquelas que nos foram dadas ou até mesmo impostas.
São abordados ao longo das sessões o auto-centrismo, a baixa autoestima, os vários tipos de relações de codependência, o trabalho, a ansiedade e as alterações extremas de humor. Para todos estes temas, o psiquiatra conduz sempre a sessão de modo a apresentar alguns exercícios e ideias a serem implementadas na rotina da autora. Um dos temas que achei muito interessante foi a questão de vivermos a “preto e branco”, e como a incapacidade de nos colocarmos de fora de uma situação pode mudar o cenário e o pré-julgamento que fizemos de uma situação ou até mesmo de uma pessoa. É importante ver como ao longo do processo de terapia, Baek aprendeu a evitar a montanha-russa emocional que acompanha a distimia, e a evitar julgar-se constantemente a si própria e aos outros. Embora o ato de viver tenha sempre altos e baixos, é importante mantê-los em contexto e procurar um equilíbrio adequado. A autora reconhece que pode nunca estar totalmente livre da sua distimia, mas acaba por conseguir geri-la, viver com ela e compreendê-la como parte do seu ser.
Creio, no entanto, que ficaram algumas questões importantes por trabalhar. Como por exemplo, a grande dependência do álcool, que embora perceba que seja algo cultural, o facto de se beber muito para lidar com as frustrações do seu dia-a-dia, faz com que Baek tenha uma grande dependência desta droga. E diante disto, o conselho da psiquiatra foi apenas “deixar de sair com pessoas que gostem de beber”, e o assunto não foi mais desenvolvido além disto.
Acredito que na Coreia do Sul, este livro seja ainda mais importante pois as questões de saúde mental continuam a ser muito estigmatizadas, “Pergunto-me sobre aqueles que, como eu, parecem estar bem por fora, mas estão a apodrecer por dentro“, escreveu Baek, “onde a podridão é este estado vago de não estar bem e não estar devastado ao mesmo tempo“.
Por isso, para muitos, este livro pode ser aborrecido por não se identificarem com as questões abordadas, mas para outros é um lugar seguro de identificação, partilha e reflexão, por transmitir do início ao fim um sentimento que nos é “close to home”. É sem dúvida uma leitura importante para todos aqueles que ainda estigmatizam aqueles que vivem com depressão ou com qualquer outra doença mental, mas também porque pode ser aquele último empurrão para te incentivar a iniciar uma terapia, e caminhar em direção à desconstrução de tudo que nos afeta no dia a dia.
É mais um livro com o selo de aprovação do 25 BANPO!
Junta-te a nós para o próximo desafio. O livro escolhido foi “Lágrimas no Mercado” de Michelle Zauner, a vocalista e guitarrista da banda indie pop Japanese Breakfast, que foi editado recentemente em português pela editora Aurora. Já começámos a leitura no passado dia 18/06, mas vens sempre a tempo aderir ao nosso grupo no Goodreads, e de acompanhar os updates semanais ao fim de semana no nosso Instagram!
NOTA: As imagens que aparecem ao longo desta análise são reflexões partilhadas no book club.
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Análises
É um livro autobiográfico sobre uma pessoa que sofre de distimia - uma depressão de baixo nível, mas persistente. E esta será apresentada ao leitor por via de uma narrativa de coleção das gravações de 12 sessões desta com o seu psiquiatra.
Os Pros
- Acompanhamento de sessões terapêuticas
- Temas que criam empatia e que qualquer um consegue se identificar
- Reflexões e ensinamentos importantes
Os Contras
- Não identificação de todos os temas abordados
- Pode provocar gatilho/trigger