- Título: Belle (Ryuu to Sobakasu no Hime)
- Adaptação: Original
- Estúdio: Chizu
- Género / Demografia: Drama, Fantasia
Belle e a Empatia da Música – Análise
Olá a todos! Como estão? Prontos para uma análise super especial?
Se estiveram de olho nas redes sociais do ptAnime, sabem que tive a grande honra de ir à antestreia do filme “Belle” no lindíssimo cinema São Jorge, graças ao amável convite da Raquel e dos organizadores do Festival de Animação MONSTRA, que decorre entre os dias 16 e 27 de Março em diversas salas de cinema por toda a cidade de Lisboa.
Para além disso, o MONSTRA conta com inúmeras atividades, workshops, oficinas e apresentações que não podes, nem deves perder! Aproveita para veres o melhor da animação nacional e internacional através de uma experiência única! Já agora, falando em boas experiências, passemos agora para a minha opinião do mais recente filme do diretor Mamoru Hosoda!
A obra de Mamoru Hosoda
Contudo, antes de passar ao filme “Belle” propriamente dito, gostava de falar um pouco sobre o trabalho de Hosoda-sensei. Assim sendo, acho que seria impossível não referir aqui dois dos seus filmes que mais guardo no coração: Wolf Children (Ookami Kodomo no Ame to Yuki) e The Boy and the Beast (Bakemono no Ko). Existe algo de mágico e misterioso na fluidez da animação e subtileza dos temas que Hosoda nos apresenta.
Não existe propriamente uma centralidade temática em muitos dos filmes de Hosoda, mas sim um compêndio de vidas que se relacionam e desenvolvem. Aliás, a mensagem que Hosoda quer transmitir é, muitas vezes, a mensagem que nós consideramos ser a mais relevante. É altamente subjetivo, mas isso só significa que os seus filmes nos falam pessoalmente, e tocam-nos de maneira diferentes através de diversas temáticas.
Assim sendo, Belle não é exceção. Apesar das suas temáticas claras, existem nuances que cada um pode ler de maneira diferente. Para mim, esta é a verdadeira riqueza dos filmes de Mamoru Hosoda.
Um pequeno grande resumo
Agora passando ao filme “Belle” propriamente dito, começo com um pequeno resumo explicativo da história!
A história aborda a vida de Suzu, uma rapariga que canta melhor que a Beyoncé mas é muito insegura. Contudo, existe nesta realidade uma aplicação chamada “U”. Esta aplicação é basicamente o que o senhor do Facebook quer fazer, ou talvez seja melhor. Em “U” cada pessoas tem um “AS”, ou seja, um avatar que é construído a partir da leitura dos dados biométricos de cada um. Diga-se de passagem que nesta aplicação, a tímida Suzu (aka a típica rapariga nada popular) é a cantora mais famosa do mundo, número um no Spotify, uma verdadeira diva, vocês já entenderam.
Assim, no universo de “U”, Suzu é a beldade Belle e apenas a sua devota amiga, hacker profissional e manager Hiroka conhece a sua outra identidade. Porém, como toda a gente sabe, a vida online tem muito que se lhe diga, e a vida real de Suzu não é um mar de rosas. A mãe dela morreu num acidente trágico ao tentar salvar uma criança durante uma cheia, e ela sente-se terrivelmente vazia, sem vontade de comer ou de interagir com os outros, com exceção de Hiroka e da sua crush de infância, Shinobu.
Contudo, o filme não resultaria que Suzu ficasse para sempre encerrada neste mundo fictício de escape em que todos nós também vivemos. Para a narrativa se mover é necessário um “sair” desta zona de conforto da nossa personagem principal, que acaba por jogar muito bem com todos os temas explorados ao longo do filme, e dos quais eu quero falar!
O metaverse dos teus sonhos
Numa primeira análise, “Belle” pode parecer um bunch de subtemas todos compilados e ordenados de forma bonita, mas assim que conectamos as pontas, tudo se liga e faz sentido. Não é um exercício imediato e fácil: o filme exige uma pós-reflexão que eu aprecio. Pelo menos, quer dizer que ficou na nossa mente e vale apena matutar sobre o assunto.
Contudo, é impossível negar que o tema gritante do filme é a dualidade vida real / vida online. Afinal de contas, Belle é a máscara social “idealizada e perfeita” que Suzu utiliza para interagir online. É uma imagem altamente filtrada e controlada de Suzu, que apenas mostra o “positivo”, excluindo tudo o que poderá ser considerado “não agradável” para os outros. Por mais bonita e encantadora que Belle seja, ela é apenas uma parcela mínima da Suzu. E os seus concertos deslumbrantes em cima de baleias voadoras, com vestidos que custam provavelmente os olhos da cara, são apenas uma fachada bonita que Suzu e Hiroka criaram.
Com isto não quero dizer que esta emersão na ficção e numa persona alternativa seja algo necessariamente mau. Fingir ser o que não somos é algo que está inscrito na própria humanidade. Mamoru Hosoda também está consciente deste aspeto, e nunca no filme o mundo de “U” é severamente criticado por isso. Na verdade, “U” é um mundo lindíssimo e muito bem arquitetado, com visuais e designs muito criativos, que ilustra as potencialidades e maravilhas da tecnologia humana, sem descartar o lado negativo dos hate comments, do gate keeping, e da tão famosa cancel culture (que somehow se torna num comic relief neste filme).
A Bela e o Dragão
Em primeiro lugar, vocês nem sabem o grande “OHH” que eu mandei quando vi a Belle a dançar com o Dragão num grande salão dourado. Eu achei aquilo muito familiar, até que se fez Eureka! na minha cabeça e entendi que era uma referência ao clássico da Disney “A Bela e o Monstro”. Apesar de ter sentido que o plot estava a ser um pouco reciclado, não desgostei desta reinterpretação incovencional.
E agora vocês perguntam: quem é o Dragão? O Dragão é a minha personagem favorita! No início ele não é um sujeito nada porreiro, especialmente porque entrou de rompante no conserto da Belle e estragou a festa, mas ele é, na minha humilde opinião, a peça chave que agrega todos os temas e significados que o filme pretende transmitir. É o Dragão quem causa este “sair” da zona de conforto de Suzu, e lança a narrativa para a frente de forma bastante inesperada e surpreendente. A partir daqui, a empatia humana, impecavelmente transmitida pelo fenómeno extraordinário da música, chega aos mais fechados dos corações e o resto é magia!
Orelhas e olhos felizes
Por fim, deixo aqui as minhas considerações sobre a história, animação e banda sonora mais em pormenor. Em termos de plot, sinto que o filme não é muito complexo, mas também não é algo demasiado genérico. Sim, tem os momentos cliché, mas quem não gosta do poder da cinematic poetry? Eu já fui para a sala de cinema a pensar que ia ver um espetáculo de animação e música. Saí de lá impressionada com a relevância da história, por isso, estou mais que satisfeita.
Contudo, é mesmo na animação e banda sonora que este filme arrasa e de que maneira. Em primeiro lugar, eu nunca vi um CGI produzido no Japão de tamanha qualidade. Eu ainda tentei encontrar lapsos na animação para dar rant mas não tive sorte, não encontrei absolutamente nada para criticar. O CGI é um dos melhores que eu já vi, ponto final. Mas como não apenas de CGI vive a animação, há que dizer que os designs e conceito do mundo “U” estão fenomenais (daqui a pouco fico sem adjetivos, a sério). A variedade de avatares é abismal, e dá para ver que cada uma dessas milhares de figuras foram cuidadosamente desenhadas, o que é de loucos. Eu fiquei de pouca aberta.
Em segundo lugar, temos o aspeto mais importante deste filme: a música. É a música que faz a magia acontecer e de que maneira. É impressionante como cada música é melhor que a anterior, até eu chegar ao ponto de ter ficado rendida. Não sei quem é a cantora que faz a voz de Belle, mas a senhora merece um prémio pela emoção de cada palavra que diz. Só para ouvir estas músicas, vale apena ver este filme, acreditem em mim!
Belle – Análise
Juízo Final
“Belle” é mais uma distinta obra do diretor Mamoru Hosoda. É melhor filme dele na minha opinião? Não, não é. Sinto que a mensagem do filme perde-se por vezes, no meio do aparato visual e musical, mas isso não significa que “Belle” valha menos por isso, nem pensar. “Belle” é realmente um espetáculo audiovisual surpreendente, e sucede em vincular, pelo menos, o coração da mensagem que pretende transmitir: o poder dos humanos sentirem empatia, até por pessoas que nunca viram nem conhecem. Essa vontade urgente de salvar o outro e de alcança-lo é arrepiante e comovente. É algo que nos torna melhores.
Assim sendo, “Belle” foca-se, em grande parte, numa realidade virtual apenas para fazer brilhar a humanidade dos seres humanos que nela habitam. Sem rejeitar nem criticar a necessidade humana de escape, tantas vezes tida como “má”, “Belle” encontra um balanço muito satisfatório entre a necessidade de nos escondermo-nos e a necessidade de nos expormos, apresentarmos as nossas fraquezas e talvez… talvez o nosso verdadeiro “eu”, fraco e hesitante seja o mais bonito. Quem sabe! Vamos descobrir?
Análises
Belle | A empatia da música
O mais recente filme de Mamoru Hosoda é um espetáculo audiovisual fenomenal. Explorando a capacidade empática humana através de um mundo virtual pautado pela música, Belle têm uma mensagem simples, mas poderosa que nos deixa mais esperançosos relativamente ao poder da humanidade para fazer o bem.
Os Pros
- Animação colorida e apelativa
- CGI fantástico
- Mensagem poderosa
- Temáticas interessantes
- Música maravilhosa
Os Contras
- História um pouco cliché
- Plot points reutilizados
- Aparato visual pode abafar a história