- Título: Blue Period
- Adaptação: Manga
- Produtora: Seven Arcs
- Temporada: Outono 2021
- Género / Demografia: Seinen, Drama, Slice of Life
Blue Period Episódio 1 – Opinião
Depois de ter tido o grande prazer de analizar o anime da temporada de primavera, To Your Eternity, chega mais uma pérola na qual tinha o olho já há algum tempo. Principalmente pela quantidade de prémios que o manga com o mesmo nome ganhou. Depois de ler alguns capítulos fiquei completamente rendida, e o anime não é exceção.
Blue Period é uma obra sobre os dilemas da criatividade, mas não só. Referenciando o famoso “Período Azul” do artista Pablo Picasso, caracterizado por pinturas em tons de azul, num registo triste (que se opõe ao “Período Rosa” do mesmo artista) Blue Period mergulha em questões desconcertantes e incomuns sobre o homem e a arte.
Contudo, o público-alvo desta obra não são somente pessoas familiares com o mundo artístico. Blue Period representa a arte como parte do ser humano, como algo vital na nossa interação com o mundo, e o quão difícil pode ser declarar em alto e bom som, o nosso amor e paixão incondicional por algo tão instável mas essencial como a arte.
Máscaras sociais
Sem dúvida, Blue Period toca na ferida relativamente a muitos temas, através dos struggles do nosso protagonista, Yatora. Assim, com uma sensibilidade apurada incomum, Yatora vive num constante dilema entre a pessoa que realmente é e a máscara social que construiu para os outros gostarem dele. Mas, será a sensibilidade profunda compatível com as interações sociais entre jovens, normalmente superficiais?
Yatora acha que não. A sua sensibilidade reprimida resulta no sentimento de que está a viver uma vida que não é sua. A pessoa que construiu para interagir com os outros é uma versão falsa e distante daquilo que verdadeiramente é. E estando distante daquilo que verdadeiramente sente, Yatora não se consegue conectar verdadeiramente com os outros. Afinal, o quão difícil é ir contra a corrente e afirmar o que verdadeiramente gostamos? Se os nossos colegas dizem que odeiam estudar, teremos a coragem de dizer que gostamos? É sempre difícil afirmar a nossa diferença, pela pena de não sermos aceites pelos outros, mas felizmente Yatora sucedeu na sua missão de afirmar e revelar a sua sensibilidade azul.
Os maus caminhos da arte
Felizmente, para bem de Yatora, a sua professora de artes está bem empenhada em desbloquear esta sua sensibilidade “não popular” oprimida, incentivando o nosso protagonista e expressar os seus verdadeiros sentimentos através do desenho. Porém, Yatora oferece resistência, e com argumentos muito válidos. Aliás, porquê estudar arte se uma pessoa pode acabar debaixo da ponte? Não é mais responsável estudar e ter um trabalho “sério”?
Yatora tenta desesperadamente convencer-se que a arte é ir pelos maus caminhos da vida, mas o bichinho do desenho já ficou entranhado nele, e os membros do clube de arte são pessoas com as quais ele consegue-se relacionar bem, já que se expressam igualmente através de uma linguagem sem palavras. Na verdade, os membros do clube de arte emitem todos uma energia bem caótica, mas isto apenas torna as coisas mais interessantes!
Se tivesse que apontar a energia caótica que mais aprecio neste clube, diria a incovencional professora de artes de Yatora. Quando era refere que “fazermos o que gostamos verdadeiramente apenas como hobbie é uma prespetiva demasiado adulta”, pois quem não vive apaixonado com o seu trabalho está condenado à infelicidade. Não sei quanto a vocês, mas esta frase tocou-me bem na ferida 🙂
Talento ou não, eis a questão
A última questão filosófica que introduzo (para não fritar mais os miolos) é um dilema muito interessante que sempre me interessou: a questão do talento. Até que ponto a qualidade do trabalho de uma pessoa advém do seu talento? Chamar uma pessoa de talentosa é um insulto ao seu esforço e dedicação constantes? Yatora é um bom aluno, mas estuda muito para obter boas notas. Terão os alunos que não estudam e que, mesmo assim, conseguem bons resultados mais valor do que ele?
Na verdade, nunca este balanço entre dedicação e inspiração foi fácil. Especialmente quando nos deparamos com pessoas que aparentam ter uma espécie de “dom natural” para algo. De certo modo, a frustração de pensar que o nosso esforço poderá nunca equivaler a este “talento natural” de alguém é um struggle mais que relatable to Yatora.
Blue Period – Animação on point
Termino a análise com uma breve apreciação da animação. Estava com grandes espetativas relativamente aos aspetos artísticos como quadros e pinturas, já que estes podem ser mais difíceis de animar. Podemos dizer que tinha algum receio porque o manga está maravilhoso nesse e em todos os “departamentos” da história. Mas, felizmente o meu medo era injustificado, porque achei a animação muito boa.
É visível a dedicação e árduo trabalho dos animadores nas cenas de desenho e pintura de Yatora, ou até no quadro lindíssimo da rapariguinha do clube de artes que pisca o olho à malta, tipo Mona Lisa. Apesar do anime ser mais parado exatamente pelas características da sua temática, a animação deu-lhe um movimento e vida que superou as minhas expetativas.
Blue Period Episódio 1 – Opinião
Conclusão
Blue Period é um anime muito diferente do que eu já vi. O interesse e alcance das suas temáticas é um dos seus aspetos mais fortes, para além da complexidade das personagens e dos seus conflitos. Apesar de ser produzido por um estúdio menos aclamado, acho que a produção de Blue Period tem um grande potencial. Só espero que não tentem adaptar muitos capítulos num episódio, mas isso já são as típicas queixinhas de manga reader, não é?
Para além disso, todos os que apreciem arte, e especialmente aqueles que a praticam, quer como trabalho, quer como hobbie, irão identificar-se profundamente com esta série, de forma até dolorosa, atrevo-me a dizer. Blue Period mete mesmo o dedo na ferida, e a forma como nos desinquieta e nos tira da nossa zona de conforto e alienação é mais uma evidência da sua qualidade.
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Análises
Blue Period
Blue Period, um anime sobre arte mas também sobre a forma como interagimos e vemos o mundo promete ser um dos melhores animes da temporada de outono. Será que o anime vai viver para as grandes expetativas ao qual está sujeito?
Os Pros
- Questões sociais muito interessantes
- Representativo do mundo artístico
- Personagens com carisma
- Animação de qualidade
Os Contras
- O facto de tocar muitas vezes na minha ferida de artista em part time
- Adaptação de muito capítulos do manga num só episódio