Sabem? Sabem? Ouviram as “boas novas”? (Do you know? Do you know? Have you heard the news?)
Geek é agora mainstream.
Ostracização Otaku num Mundo cada vez mais Geek:
Vários dos mais bem sucedidos filmes no mundo e os shows mais populares na televisão, são adaptações de comics e livros Sci-Fi. Múltiplas sitcoms, dramas, e “reality shows” sem guião, contam com personagens com interesses “geek” que não são gozadas ou ignoradas por isso. Bares estão a “germinar”, por toda a nação, com ambientes, recheados, com aquilo que anteriormente seria considerado de interesses infantis: gaming– jogos de tabuleiro, cartas, videojogos, e pinball- cartoons, comics, e por aí adiante.
Vários dos jornais com maior circulação no país (USA) apresentam, agora, secções dedicadas à cobertura de comics e os mais recentes desenvolvimentos no mundo dos super-heróis. Websites devotos a “todas as coisas da cultura geek” proliferam, assim como retalhistas especializados.
Existe apenas um senão: “anime” e “manga” não entram para as contas, assim como as pessoas que gostam deles, a menos que gostem também de outra coisa, que JÁ FAÇA PARTE desta cultura geek. Nesta harmonia convergente de geekdom moderna, “anime e manga” é o “rap e country” da expressão: “Eu gosto de toda a música, exceto rap e country”.
O vosso típico auto-proclamado geek estará, certamente, a par dos recentes desenvolvimentos nos comics da Marvel/DC/Image, cartoons como Steven Universe, séries Britânicas como Doctor Who, séries Americanas como Game of Thrones, e videojogos como World of Warcraft. Mas chegando ao ponto de falar sobre os mais recentes desenvolvimentos em anime e manga, poucos estão, sequer, cientes daquilo que foi recentemente transmitido no Adult Swim. Nunca houve a inclusão de anime numa “Loot Crate” e, até à data, o único manga presente nessa encomenda, foi um volume de Attack on Titan incluído como parte de um bundle de Titanfall.
Entrem numa loja de comics numa quarta-feira, e perguntem para ver a secção dos “lançamentos manga da semana”. As chances são elevadas que não terão um resultado frutífero. Contudo as vendas de manga estão a aumentar e, em 2014, o ÚNICO tipo de media em formato físico que viu aumento de vendas foi anime.
One Piece detém o Guinness World Record para cópias impressas. À data de escrita deste artigo, o seu mais recente volume Japonês, volume 78, vendeu cerca de 1.7 milhões de cópias logo na primeira semana de lançamento, quebrando o recorde 2015 de vendas na primeira semana, que pertencia ao Volume 77. Em julho, a Kodansha anunciou que 2.5 milhões de cópias de Attack on Titan estavam impressas em Inglês. Isto sem sequer contar todas as pessoas que lêem digitalmente!
Porém, tais impressionantes feitos, não são meritórios sequer de uma menção por parte da media mainstream ou geek, os mesmo locais que postam grandes cabeçalhos glorificando as vendas de The Walking Dead e Saga, que vendem uma fração dos números apresentados. Quando o New York Times começou a tomar nota dos bestsellers de livros gráficos no final da passada década, a pedido das editoras Americanas, foi dada uma categoria separada a “manga”… caso contrário, manga iria dominar o Top 10. Tcha’nan! Uma razão “oficial” para declarar que manga não conta para a cobertura media dos “comics”. Esta cobertura media é importante, e anime/manga não recebe, verdadeiramente, nenhuma, além de lugares que têm “anime” ou “otaku” no seu nome.
O domínio das nossas fontes de informação está a consolidar-se, assim como o domínio de propriedade intelectual. Muitas vezes, as mesmas entidades detêm tanto o que vemos e lemos, assim como os locais que nos falam sobre essas coisas e, com exceção para os títulos do Studio Ghibli, anime e manga não são tipicamente lançados na América através de mega-conglomerados, como a Disney ou Viacom. Essas entidades estão mais inclinadas a promover o que possuem acima do que não possuem, e assim notícias sobre anime e manga são passadas para segundo plano atrás do que quer que seja a gaffe desta semana, protagonizada por um empregado da Marvel ou DC.
O número de fãs anime e manga nos Estados Unidos é maior do que nunca, contudo dificilmente se ouve falar disso. A jóia suprema da coroa “geekdom” é a San Diego Comic-Con. Nos meses que a antecedem, existem inúmeras histórias sobre o quão rapidamente esgota e atinge a sua capacidade de 130,000-150,000 visitantes. As 56,000 pessoas presentes na GenCon, é significante o suficiente para merecer artigos sobre o sucesso em expansão de gaming em jogos de tabuleiro. Quando a MineCon, uma convenção em Londres dedicada a Minecraft, recebeu 10,000 visitantes em 2015, o resultado foi cobertura global através de media nos ramos da tecnologia, gaming e negócios.
Porém, quando mais de 90,500 otaku vieram à Anime Expo, meros dias antes da SDCC e na mesma região, tal não foi notável o suficiente para ser mencionado. O pouco reconhecimento, de convenções anime, que atinge o exterior da “bolha” está limitado a, “Hey, topa-me estas fotos de raparigas em trajes reveladores!” De facto, “cosplay” é agora considerado separado da comunidade de fãs que originaram o termo. A mensagem é clara: fãs anime não contam.
Se contássemos, então seria de pensar que certamente surgiríamos mais vezes em conversas. Um dos discursos chave na geek media concerne assuntos de representação, como o desejo para mais mulheres e minorias em papéis de significância, tanto em histórias como no lado criativo. Semana após semana, geek websites postam histórias similares sobre este assunto e, em julho de 2015, o New York Times tinha “Mulheres Por Toda a Comic-Con” como cabeçalho de página C1. Sim, foi uma notícia chocante: mulheres também vão a convenções!
Contudo, apesar de reconhecimentos espontâneos sobre Sailor Moon e “fadas Manga” a fazer cosplay, ninguém parece prestar muita atenção ao facto de fãs anime e manga se terem apercebido disto “há séculos”. Mais de 60% de visitantes em convenções anime são mulheres – a maioria! – e várias séries bestsellers anime e manga são feitas por senhoras, ou apresentam senhoras como protagonistas, ou são largamente apreciadas por senhoras. Muitas vezes, são todos os elementos anunciados. Não será isso meritório de reconhecimento? Aparentemente não.
Talvez sejamos parcialmente responsáveis por isto. O comum “otaku Americano” – provavelmente não tu que estás a ler – está apenas fortemente interessado por aproximadamente dois anos, tipicamente durante a adolescência ou 20s, e tipicamente durante esse tempo a sua intensa devoção leva-os, muitas vezes, a distinguir desafiadamente que aquilo que os interessa é diferente das “outras coisas”. “NÃO é um cartoon, é anime!” é uma afirmação que pode ser dita tanto por alguém que adora cartoons e comics Japoneses, como por alguém que os repudia.
Eventualmente, a maioria segue para outra coisa – tipicamente para algo que “conta” no reino da “mainstream geek” – de tal forma, que o seu interesse em anime/manga desse ponto em diante torna-se, na melhor das hipóteses, secundário, e negativo, na pior das hipóteses; muitos olham para a sua “fase anime” como uma vergonha adolescente e compensam na direção contrária, daí em diante. Isto é parte da razão pela qual, apesar de não existir falta de anime e manga para crianças, adolescentes e audiências mais velhas, disponíveis em Inglês, poucos vão além da categoria que os levou a ficar interessados em primeiro lugar; não ficam tempo suficiente e, assim que vão embora, hesitam em regressar.
Não tenho uma solução fácil. Apenas sei que merecemos um lugar à mesa. Eles sabem que estamos aqui; somos demasiados e somos demasiado visíveis. Vão ao Artis Alley de qualquer convenção anime ou verifiquem as comunidades anime online, e verão muitos fãs anime a expressar a sua devoção, não apenas a anime, mas também a outros interesses. Interesses que “contam”, até. Mas se forem a uma convenção de “media” geral, verão que existe pouca relação de reciprocidade, se é que existe: “anime” é relegado ao seu canto, fora da vista e fora da mente. Todos os sites geek media dizem que não cobrem anime e manga, porque tal cobertura não recebe tráfico suficiente para justificar que se faça mais. Mas claro que a razão pela qual não recebem tráfico suficiente é porque não fazem um cobertura no mesmo nível das restantes temáticas. Uma perfeita situação de “estar entre a espada e a parede” criada por eles mesmos (A perfect Catch-22). Se calhar tens a solução? Escreve-nos um email e conta-nos a tua ideia!
Sabem? Sabem? Sabem mesmo? (Do you know? Do you know? Do you really know?)
Autor: Daryl Surat – engenheiro, podcaster, e contribuidor Otaku USA magazine levado à loucura devido a sobrecarga da pop culture e isolamento.
E, para quem não sabe ou para alegrar/validar os que entenderam a referência no artigo do Daryl, segue-se a origem de Do you know? Do you know? Have you heard the news?:
Fonte: Otaku USA Magazine (Originalmente publicado a 14 de fevereiro, 2016)