No Japão, as vendas dos volumes físicos de manga tiveram uma quebra de 12%, no último ano. Enquanto uns apontam os sites de manga piratas como o principal motivo, outros viram-se para outros pontos chave relacionados com as vendas de manga.
Uma das pessoas que faz parte deste segundo grupo é Takashi Yoshida, criador do manga “Yareta kamo Iinkai” (“The Almost Got Laid Committee). O site japonês, The Huffington Post, debateu este tema com o mangaka, via e-mail, e as suas reações foram as seguintes.
Acima de tudo, Yoshida acredita que as editoras dos mangas e os sites piratas entraram num ciclo infinito de comportamentos repetitivos. Tudo devido à falta de uma resposta proactiva por parte das próprias editoras. Segundo palavras do mesmo:
Antes de se tentar acabar com as versões piratas, outras medidas devem ser tomadas.
Mas Takashi Yoshida vai ainda mais longe.
Penso que as editoras não devem destruir as versões piratas. Devem sim, enquanto empresas de negócios, competir com elas e levar a melhor. Tomar ações legais e encerrar os sites de manga piratas é insignificante e contra producente.
As pessoas têm uma atração natural pela conveniência. Por este motivo, o mangaka acredita que atacar legalmente os distribuidores ilegais, que oferecem e facilitam o acesso livre ao manga, não tem qualquer efeito.
Enquanto reproduzir e distribuir materiais escritos (sem permissão!) é considerado ilegal no Japão, ler manga online normalmente não é visto como algo ilícito.
Os sites de pirataria são ilegais, mas penso que as reações das editoras e dos membros ligados a esta indústria conseguem ser ainda piores do que isso.
Yoshida deseja que os membros da indústria do manga avaliem se não estão a vender por questões de pirataria ou se existem outros fatores que estão a contribuir para isso. Este destaca que versões piratas de manga existem desde há vários anos. E que embora tenha sido colocado um ponto final em parte dessa distribuição ilegal, as vendas físicas de manga continuam a decrescer. Desde 2005.
Do ponto de vista do criador de “Yareta kamo Iinkai”, existem muitos problemas relacionados com a maneira como as editoras produzem e vendem manga. A seu ver, a indústria tem falhado na resposta às grandes preocupações dos consumidores. Entre as quais: preço; disponibilidade dos mangas; insistência em métodos de venda que não acompanham a sociedade do presente.
Yoshida defende que as editoras precisam de encontrar novos métodos para voltarem a estabelecer uma ponte entre elas, os editores, e os consumidores de manga.
Takashi Yoshida – Um caso à parte
Takashi Yoshida é um criador de manga deveras original. Isto no sentido em que ele próprio controla todos os direitos do seu manga, “Yareta kamo Iinkai”. Ainda que seja a Futabasha a publicar os volumes compilados do seu manga, é Yoshida quem gere a distribuição digital, adaptações animadas, entre outros usos secundários do seu trabalho. Nota para a série live-action inspirada neste seu trabalho, que estreou na plataforma de streaming, AbemaTV, no passado mês de janeiro.
Ao Huffington Post nipónico, Takashi referiu ainda que as pessoas que utilizam os sites piratas são os verdadeiros fãs de manga, e não a população japonesa em geral (a dita mainstream). Desta forma, o mangaka pensa que os ataques das editoras aos sites de manga piratas acabam por ser ataques diretos (embora inadvertidos) aos seus próprios consumidores.
Na mesma linha de pensamento, ostracizar os fãs de manga devotos, ao mesmo tempo que se falha em atrair os menos interessados em manga que fazem parte do público em geral, pode levar a indústria do manga a uma quebra definitiva.
Yoshida aponta a solução para o problema
Enquanto solução, Yoshida acredita que a resposta pode vir dos sites que permitem aos fãs lerem manga online de forma legal e por um preço fixo. No entanto, defende que os preços deste serviço devem ser mais acessíveis, e afirma que a variedade de títulos atualmente disponível é muito limitada.
Mas o mangaka vai mais ao pormenor. Um outro ponto que destaca é o plástico que envolve os volumes de manga e impede as pessoas de os lerem nos pontos de venda licenciados. Yoshida acredita que esta pequena mudança pode levar as pessoas de volta aos retalhistas autorizados. O criador fala ainda nas editoras serem mais seletivas nos trabalhos que escolhem publicar, com vista a reduzirem o número de publicações.
Apesar de vir a público dar todas estas sugestões, Takashi Yoshida tem muitas dúvidas que as editoras optem em segui-las.
Não existe nada de novo naquilo que estou a dizer. Várias pessoas já o disseram no passado. Apesar disso, nunca mudou.
Durante a entrevista, o mangaka confessou ainda não se sentir no direito de comentar este tema da indústria do Manga. Afinal de contas, ele próprio não faz parte de uma empresa distribuidora de manga. Ou seja, mais um motivo para as editoras desconsiderarem o seu parecer sobre este tema.
Fonte: Anime News Network
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