“Rurouni Kenshin: Kyoto Inferno” fez todos os preparativos necessários para que “Rurouni Kenshin The Legend Ends” se torna-se num filme absolutamente memorável. Até porque este último da trilogia tinha em mãos os conteúdos mais épicos da obra original.
Com material de tanta qualidade logo no ponto de partida, será que os últimos acontecimentos deste conjunto de adaptações live-action corresponderam às expectativas criadas?
Mestre vs Discípulo: que aborrecimento!
A derradeira produção arranca com o reencontro entre Kenshin e o seu Mestre. Um meeting que visa ensinar a Kenshin a grande técnica do estilo Mitsurugi. Uma primeira parte que se tornou um tédio para o espectador, por várias razões.
Primeiro porque revela-se uma adaptação fraca daquilo que realmente se passou na obra original. De forma a evitar spoilers que me parecem desnecessários, sobre isto não me vou alongar mais.
Depois porque ocupa entre 40 a 50 minutos de um filme com cerca de 2 horas onde muitos outros acontecimentos importantes tinham também de ter boa projeção e pelos quais o público esperava ansiosamente.
Por último, de referir que esta primeira parte de “Rurouni Kenshin The Legend Ends” marca o início do fim de um processo adaptativo que até esta altura tinha sido tratado com muito cuidado. A partir daqui, os rumos e os objetivos da derradeira longa-metragem mudaram.
Shinomori Aoshi vs Kenshin Himura: a ação no seu melhor!
Após largos minutos de tédio e aborrecimento, o filme trouxe para o ecrã uma cena causadora de sensações completamente opostas: o duelo entre Kenshin e Aoshi. É, sem dúvida alguma, uma das melhores partes de Rurouni Kenshin The Legend Ends. Aliás, como vai ser comprovado ao longo desta análise, a parte da ação é realmente o ponto forte da produção. Algo que já era de esperar.
De lembrar que Aoshi, juntamente com Okina, protagonizou um dos melhores momentos do segundo filme. Com menos intervenções do que o desejado, tendo em conta a sua importância, Aoshi voltou à ribalta para travar um duelo muito bom com o protagonista da história. Os movimentos, os diálogos, os gestos técnicos e a banda sonora (que acordou nesta altura!) tornaram este embate memorável.
Execução de Kenshin: a mudança de rumo inesperada?!
Sinceramente, há medidas tomadas que são bastante difíceis de compreender. A que se segue é, com certeza, uma delas. Esquecendo o primeiro filme da trilogia, que serviu mais como um projeto de teste e de apresentação do básico da obra, Rurouni Kenshin Tokyo Inferno seguiu quase na totalidade o curso da história original. Uma medida da qual fazem parte os 40 minutos iniciais de “Rurouni Kenshin The Legend Ends”. Apesar de aborrecidos, eles não deixam de ser importantes para a história.
Posto isso, eis que Keishi Ohtomo e os responsáveis pelo guião deste último filme optam por alterar os acontecimentos. Numa primeira fase, com encontros entre Shishio e o governo local. Mais tarde, com a condenação de Himura à morte. Esta cena acabou por fazer a ponte entre alguns acontecimentos importantes, que o espectador precisava de tomar conhecimento, e o assalto final contra a armada de Shishio.
Atenção! Este conjunto de minutos originais não foram maus de todo. Contudo, incapazes de superar aquele que teria sigo mais um seguimento adaptativo do anime. Particularmente quando as exigências deste “momento” não eram assim tão elevadas. Pessoalmente, vi esta mudança de estratégia, situada num ponto crucial da transmissão, como uma má opção.
Juppongatana: a maior (des)ilusão
Na obra original, este grupo teve uma importante e agradável intervenção na história. Em Rurouni Kenshin Kyoto Inferno, quando se deu a apresentação do grupo, passou a ideia que os seus elementos iriam ser focados no desenrolar de Rurouni Kenshin The Legends Ends. E muito bem, pois nunca se esperou outra coisa.
Todavia, não foi isso que se passou. Os membros da Juppongatana surgiram em algumas cenas, mas sempre mais com um papel de figurantes do que com outra função. Só Anji Yuukyuuzan e o inevitável Soujirou Seta tiveram relevância. Uonuma Usui ainda se tentou destacar, mas a sua aparição foi tão rápida que quase não deu para perceber quem ele era.
A reta final desta trilogia inicia-se no momento seguinte à tentativa de execução de Kenshin. A partir daí o filme entra num estado de guerra que só termina com a própria conclusão da longa metragem. Com tanto tempo de batalha, e claro que Shishio e Himura tiveram a sua grande dose, não se compreende como este grupo de 10 guerreiros teve uma passagem tão despercebida. Custa a entender.
Rurouni Kenshin The Legend Ends – O confronto final
Já era previsível que o clímax do filme colocasse Shihio e Kenshin frente a frente. Já a presença de Saito e Aoshi era uma incógnita que, felizmente, se confirmou. No entanto, para surpresa de muitos, a este grupo ainda se juntou … Sanosuke?!! Mais do que uma surpresa, a presença desta personagem na cena mais importante do filme revelou-se, a meu ver, desapropriada por várias razões.
Primeiramente, porque esta personagem (Sanosuke Sagara) nunca mostrou ser relevante para as partes mais importantes do guião. Atentemos especialmente a Kyoto Inferno, onde até lhe foi atribuído um papel focado na comédia. Porém, de um momento para o outro, Sanosuke assume um papel de grande importância. Este vê-se envolvido na batalha final e com direito a um combate exclusivo contra um dos três juppongatanas que tiveram minutos de intervenção.
Em segundo lugar, porque Sagara só não teve mais atenção e protagonismo do que Kenshin na batalha final por mero acaso. Com alguma amargura, digo que Saitou e Aoshi não tiveram tantas intervenções quanto ele. Acredito até que esta personagem tirou do sério os maiores defensores do bem de tantas vezes que caiu e se levantou.
Independentemente desta escolha se ter revelado uma boa ou má opção de produção, faria mais sentido conceder este tempo de relevo a Aoshi e Saito. Aliás, tenho a ideia que o público em geral sempre os preferiu e que a riqueza desta última adaptação dependia muito do papel atribuído a ambos.
Em suma, e sem aqui avaliar o desempenho do ator neste assunto, eu cá considero a presença (com tanta importância) de Sanosuke no embate final como um ponto a menos para a produção. O único ponto a menos da derradeira cena. Sim, pois embora esteja aqui com esta grande crítica ao embate, a battle royal em questão conseguiu ser excecional. Aliás, de certa forma até ajudou a esquecer um pouco as lutas exibidas minutos antes. Delas esperavam-se mais situações com os grandes protagonistas e antagonistas de Rurouni Kenshin The Legend Ends em destaque.
Quer a nível de diálogos, quer a nível de movimentos e golpes, a batalha final entre Shishio, Kenshin e restantes intervenientes foi magnífica.
As técnicas principais das personagens não faltaram à chamada!
Não é de agora, mas dos filmes anteriores. Desde muito cedo que se tornou evidente a preocupação da produção em ter presentes os ataques mediáticos das personagens principais da obra. Golpes difíceis de executar e de adaptar, mas que certamente tiveram feedback positivo da parte do espectador.
Isto por uma de duas razões: ou porque estas técnicas foram realmente bem adaptadas; ou mesmo porque só as poses, o soletrar dos nomes, ou mesmo os movimentos, fizeram lembrar as criações anteriores de Rurouni Kenshin e despoletaram enormes arrepios na espinha. É nestas alturas que se percebe que algumas cenas da ficção nos marcam verdadeiramente.
Sobre o estilo Hiten Mitsurugi de Himura, gerou-se muito suspense em torno do famoso Amakakeru Ryu no Hirameki. Acontece que o golpe só foi soletrado e utilizado no final, deixando os desconhecidos da obra na ignorância. Surpreendentemente, nem durante os 40 minutos de treino com o seu Mestre a técnica é mencionada. Ainda assim, penso que a espera para a ver vale a pena.
A Gatotsu de Hajime Saitou já vem das longas-metragens anteriores. Apesar disso, e ainda que seja a mais simples de todas de executar, nunca cansa a vista. Só de ver Saito a preparar o golpe é garantia de que nem vamos pestanejar nos segundos seguintes.
Mas o melhor de tudo são os efeitos associados à espada de Shishio! O fogo que dela emana sempre que Shishio a movimenta mostra-se muito fiel ao anime. Espetacular!
O vestuário da época também não faltou!
À semelhança dos outros filmes desta trilogia, também nesta foi possível notar a preocupação dos responsáveis pelo vestuário dos atores. Isto é, em provocar a sensação de que estávamos mesmo inseridos no início da Era Meiji japonesa.
Sem margem para dúvidas, os adereços meticulosamente elaborados enriqueceram as várias cenas. Na verdade, o facto da indumentária utilizada pelos atores ser igual ou extremamente parecida ao das personagens anime (em formato e cores) ajudou o espectador na associação entre as duas adaptações.
Elenco de Rurouni Kenshin The Legend Ends
Naquilo que é a arte da representação propriamente dita, e aqui é sempre preciso ter em conta a variável do que é exigido a cada profissional, parece-me mais do que justo destacar as performances de três atores.
Começo por Takeru Satoh, no papel de Kenshin Himura. Um desempenho bem conseguido ao longo de toda a trilogia. Esta minha afirmação implica falar no misto de emoções despoletadas na personagem consoante os acontecimentos. Ou seja, na aura de paz e tranquilidade radiada nos momentos mais parados (algo típico do verdadeiro Kenshin Himura), assim como nos sons e reações peculiares que já no anime a personagem proferia quando se via envolvida numa situação cómica aflitiva.
Munetaka Aoki, no papel de Sanosuke Sagara. Como já referi, não gostei da importância que esta personagem ganhou no final da trama. Porém, o ator cumpriu com grande destinção o que lhe foi exigido. Certamente que conquistou muitos espectadores com as suas intervenções finais.
Atrás desta dupla não fica certamente Tatsuya Fujiwara. Ele que deu vida a Makoto Shishi, o maior vilão da franquia. Sem dúvida, uma excelente escolha. Uma representação perfeita da adaptação idealizada do anime para o live action em termos de voz da personagem, gestos e tons utilizados consoante as situações. Absolutamente magnífico!
Rurouni Kenshin The Legend Ends – Juízo Final
Ao longo desta longa análise posso ter deixado a dúvida se o filme vale a pena ou não. Não foi essa a minha intenção. O filme é recomendado a todos. Fãs da obra original, não fãs, e a pessoas que desconheçam totalmente (será possível?) esta criação fabulosa de Nobuhiro Watsuki que ganhou mais vida com este trabalho comandado por Keishi Ohtomo.
Enquanto adaptação, Rurouni Kenshin The Legend Ends não me encheu as medidas. Esperava algo mais, particularmente depois do que vi em Kyoto Inferno.
Já com o último parâmetro de lado, aí o filme fica automaticamente mais valorizado. Grandes diálogos, excelentes momentos de ação, e com referências e ambientes tradicionais japoneses bem evidentes. Tudo ao ritmo de uma agradável banda sonora que cresceu muito deste o primeiro trabalho desta trilogia.
Resumindo, que surjam mais projetos do género para obras semelhantes, pois estes sim, são live actions com muita qualidade.
Rurouni Kenshin The Legend Ends – Trailer
Análises
Rurouni Kenshin The Legend Ends
Uma produção que, inesperadamente, se desliga do processo adaptativo em determinada altura. Uma surpresa pouco agradável para os fãs, mas incapaz de anular o excelente trabalho que salta à vista numa perspetiva mais global. Desta forma, Rurouni Kenshin: The Legend Ends junta-se à lista reduzida de boas adaptações de obras anime/manga para o formato live-action.
Os Pros
- Grandes diálogos.
- Excelentes momentos de ação.
- Adaptação da indumentária.
- Banda sonora.
- A representação dos atores que dão vida a Kenshin, Sanosuke e Shishio.
Os Contras
- Alteração dos acontecimentos em relação à obra original.
- Primeira parte da adaptação demasiado prolongada.
- Juppongatana.
- Importância atribuída à personagem Sanosuke Sagara.