Quase quatro anos depois de ter aqui apresentado as minhas primeiras impressões referentes a Aldnoah Zero 2, nunca me passou pela cabeça vir a dizer sobre esta produção aquilo que se segue nesta análise.
No entanto, o longo intervalo entre um artigo e outro nada tem a ver com o que vai ser relatado a seguir. Apenas uma questão de falta de tempo da minha parte que se foi prolongando indefinidamente. Só há algumas semanas atrás consegui voltar a pegar no anime para agora finalizar este trabalho.
Aldnoah Zero 2 – Da órbita à queda livre
Como tinha referido numa primeira abordagem a esta sequela, não faria sentido haver continuação sem os protagonistas da primeira temporada. Todavia, se soubesse o que sei hoje, preferia ter dito que uma continuação foi a pior escolha dos responsáveis por Aldnoah Zero. SPOILERS já de seguida!
Já que falei na continuidade das principais personagens, talvez comece por falar nelas (Inaho Kaizuka, Slaine Troyard, Asseylum Vers Allusia). Tendo em conta o acompanhamento que aqui foi feito desde o início da franquia, considero dispensável uma sinopse para Aldnoah Zero 2.
Aldnoah Zero 2 – Inaho Kaizuka
Inaho Kaizuka mantém-se tão inteligente e decisivo na guerra entre o planeta Terra e o Império Vers quanto antes. Se até agora este aspeto era bastante positivo, agora deixou de o ser. Porquê? Porque já se perdeu o efeito novidade dos primeiros episódios em que esta personagem brilhava ao comando do seu modesto kataphrakt.
Em Aldnoah Zero 2, uma aparição de Inaho significa que ele chegou para resolver qualquer que seja a situação, pelo que os desfechos são altamente previsíveis. Se muito disto se devia a mérito deste rapaz, o olho tecnológico que usa nesta sequela só vem reduzir ainda mais a probabilidade de um acontecimento surpresa.
Aldnoah Zero 2 – Slaine Troyard
De escravo a quase Rei do Império Vers. Esta foi a personagem que mais mudou na transição entre séries, quer a nível de estatuto, quer de personalidade. E é precisamente aqui que está o ridículo da situação.
Slaine apresenta uma postura totalmente diferente da exibida na primeira metade da obra. A produção tentou transformá-lo num pseudo-vilão, assim sem mais nem menos, e daí não tirou qualquer resultado. Slaine, ora apresenta um discurso sensato e coerente com a personalidade que lhe conhecíamos, ora apresenta uma atitude idiota e uma arrogância irreconhecível.
Como não se trata de uma questão de disfarce e os dois traços de personalidade não combinam, qual o resultado? A personagem ficou perdida, algures no espaço.
Aldnoah Zero 2 – Asseylum Vers Allusia
A princesa de Vers esteve metade da trama em repouso para no final vir dar uma conclusão à obra que seria a única expectável. Não há muito a dizer sobre a sua postura, que sempre foi coerente. No entanto, se sobreviveu, teria que ser aproveitada para os 12 capítulos finais. Em causa está uma franquia muito curta (24 episódios).
Agora, o que fizeram com Asseylum fo basicamente colocá-la em “banho-maria”, arranjar uma substituta (Lemrina) – que neste caso não “caiu do céu”, como se costuma dizer, pois já se encontrava no espaço – para ser usada durante uns episódios até poderem novamente usar a princesa que pisou a Terra para concluírem a série.
Aldnoah Zero 2 – Um enredo muito limitado
Quando as personagens estão mal orientadas, ou a história que as envolve tem a capacidade de puxar por elas e conseguir esconder parte dessas lacunas, ou então o que já era mau fica ainda pior. Pois bem, no caso de Aldnoah Zero 2, nada ajudou a nada.
Com as personagens comprometidas, o enredo revelou-se igualmente fraco. Os episódios limitaram-se a lutas entre kataphrakts e orbital knights, à fácil e veloz ascensão de Slaine dentro do Império Vers, e a um Inaho que já reagia mais em função do seu olho tecnológico do que outra coisa. Um olho que até passou a falar por ele, sem nunca ter comunicado com o próprio.
A princesa Asseylum, como já referi em cima, foi desde logo colocada de lado.
Os combates tenderam muito para o mesmo, isto é, com desfechos sempre previsíveis mediante os envolvidos.
Com dois impérios distintos em cena, se do lado do planeta Terra o espectador sabe, naturalmente, como as coisas se processam, no que diz respeito ao Império Vers já não se pode dizer o mesmo. Este tema podia e devia ter sido muito melhor explorado, assim como a posição dos orbital knights após a ascensão relâmpago de Slaine Troyard. A aceitação do terrestre e admiração pelo mesmo dentro do Império foi demasiado fácil, mesmo depois de se ter tornado no “protegido” do Count Saazbaum. A conspiração tinha que ter outro tipo de força!
Um outro ponto de crítica diz respeito à fraca ligação existente entre personagens. As poucas cenas que poderiam ter fortalecido essas ligações foram incapazes de o fazer. Especial destaque para as personagens ligadas ao Deucalion. Tanto tempo juntas, com as vidas constantemente em risco, mas nem assim despertou entre elas a conexão que seria de esperar em tais momentos. Em suma, tudo muito fugaz e repentino, quando devia ter existido um trabalho desenvolvido desde o início da primeira série. 12 episódios é curto, mas com 24 já dá para fazer algo mais desenvolvido.
Aldnoah Zero 2 – Um desfecho imprevisível
Com um enredo completamente à deriva e sem ser capaz de se focar num tema específico para apresentar algo convicto por um momento que fosse, o desfecho foi se tornando cada vez mais enigmático.
Mas note-se! Neste caso, dizer isto não é um ponto positivo. O final foi imprevisível, no sentido em que a série se tornou tão vaga e indefinida que o espectador chega a um ponto e já nem sabe o que pensar. Ou melhor, já nem quer pensar, quer é que o anime acabe rapidamente. Para combater esta ideia e tornar tudo ainda pior, a produção decidiu incluir um ending diferente no penúltimo episódio da trama que deixou parte do desfecho de Aldnoah Zero 2 à vista.
A referência a X-Men
Grandes SPOILERS neste tópico!
O último episódio apresenta uma cena que quem conhece a franquia X-Men facilmente a vai associar a cenas vistas nos filmes inspirados nesta obra da Marvel. Nomeadamente, um jogo de xadrez entre duas personagens tal e qual a do Professor Charles Xavier e Erik Lehnsherr (Magneto).
Se Aldnoah Zero 2 fosse capaz de agradar ao espectador durante a sua transmissão, talvez este epílogo tivesse servido para embelezar a produção. Neste caso, acaba por não ter qualquer efeito sobre o “julgamento final” do espectador.
Aldnoah Zero 2 – Arte, Animação e Banda Sonora
Os pontos que salvam a produção do total descalabro. No que toca à arte e à animação, os responsáveis pelo anime mantiveram a linha de trabalho utilizada na primeira série e foi o que fizeram melhor.
É por isto que vale Aldnoah Zero 2! Pelo grafismo de grande qualidade e animação CGI utilizada nos embates entre mechas. Não que eu seja perito a analisar esta parte mais técnica. No entanto, do pouco que percebo, não identifiquei nada de muito negativo. Mais importante do que isso, agradou-me o que vi durante a transmissão. Os duelos entre mechas ocupa grande parte do tempo do anime, pelo que não estamos a falar de um número reduzido de cenas.
Relativamente à banda sonora, mantém-se agradável, enquanto o opening é mais um de grande qualidade (“&Z” de SawanoHiroyuki ft. [nZk]:mizuki), e os endings utilizados também não deixam ninguém ficar mal.
Aldnoah Zero 2 – Juízo Final
Muitas são as franquias que recebem sequelas que só acabam por desiludir os seus fãs. Todavia, existe o “desiludir” mais direcionado para o consentimento e o “desiludir” mais virado para a revolta. Aldnoah Zero 2 é um dos casos da segunda vertente.
Após uma estreia de grande nível, é de facto intrigante como uma produção pode “mudar da água para o vinho” em tão curto espaço de tempo. Sei também que a minha experiência em animes mudou, até porque a visualização de obras alargou. Hoje, algumas obras que avaliei no passado talvez não tivessem a mesma pontuação. Umas para melhor, outras para pior.
Apesar disso, Aldnoah Zero (1) teria sido sempre bem pontuada por mim. Com influência nisso, os primeiros episódios desta sequela nunca me iriam deixar de pé atrás. No entanto, o que dois episódios conseguem esconder é capaz de saltar à vista em doze penosos capítulos para o espectador.
Resumindo, quando se criam expectativas altas, quando não se consegue dar continuidade ao efeito novidade que tanto agarrou o espectador na primeira série e quando se descaracteriza as personagens principais sem explicação aparente, o resultado esperado só pode ser a queda-livre do topo da escadaria. E quando assim é, qualquer ponto positivo que possa existir é completamente abafado por tudo o de mau que a série apresenta.
Esta análise, constantemente a apontar o dedo aos responsáveis por Aldnoah Zero 2, é a imagem disso mesmo.
Aldnoah Zero 2 – Trailer
Análises
Aldnoah Zero 2
Uma sequela que nunca devia ter existido! Um caso gritante de como a atribuição de uma conclusão de qualidade a uma obra devia prevalecer sobre a tentação da continuidade por parte dos seus responsáveis.
Os Pros
- A arte
- A animação
- A banda sonora
Os Contras
- Enredo completamente à deriva
- Personagens inconsistentes e sem profundidade
- O efeito novidade da primeira série nunca poderia ser aposta na sua sequela