DRAMAtical Murder – Análise

Frequentemente somos confrontados com obras baseadas em famosos jogos, sobretudo romances, a era dos Visual Novel começa a afirmar-se. Depois de obras como Diabolik Lovers ou Kamigami no Asobi, surge uma obra polémica baseada numa popular franquia de jogos yaoi: DRAMAtical Murder, produzida pelos estúdios NAZ (responsável pela franquia Hamatora). Com uma legião de fãs ansiosos para ver no pequeno ecrã as apaixonantes personagens e a narrativa complexa e surpreendente do jogo, conseguirão reproduzir as expetativas nesta adaptação?

História

Numa era futurista, na ilha de Midorijima, um jogo popular parece estar na origem de estranhos acontecimentos, que comprometem a pacata vida dos subúrbios. Privatizada pela Empresa Toue, os habitantes de Midorijima são obrigados a viver num distrito na periferia da cidade (Platinum Jail). Aoba Seragaki é um dos habitantes do impetuoso distrito. Uma guerra entre gangues rivais e um misterioso jogo virtual que suga as pessoas para dentro de si, juntamente com os seus animais de estimação eletrónicos, são alguns dos mistérios e problemáticas que surgem no caminho de Aoba. Incapaz de fugir, vê-se confrontado a deixar a sua posição como “neutro” e lutar para sobreviver.

 

 

Enredo

A originalidade e qualidade da premissa que se vem construindo ao longo da animação são indiscutíveis. Baseada num Visual Novel Yaoi, com um tema e profundidade de um nível pouco habitual dentro do género, coleta os requisitos necessários para o êxito no mundo da animação no pequeno ecrã.

Rhyme, como é assim chamado, trata-se de um jogo digital, onde os jogadores entram num mundo paralelo em que lutam entre si através dos seus Allmate (seres artificiais equipados com inteligência artificial). A influência do jogo e as diretrizes a ele relacionadas, começam a agitar a dinâmica pacífica entre os diversos gangues, que lutam pelo território exterior à Platinum Jail. O que seria o objetivo primordial do enredo é rapidamente colocado num segundo plano.

Primeiras impressões vs Continuidade 

Avaliando a obra como um todo podemos considerá-la como mediana, o que não foge de todo, à primeira impressão para qual a animação nos remete. Num primeiro contato com a produção, somos confrontados com os vários elementos que irão constituir uma narrativa que se demonstrará pobre e pouco coerente. A construção da obra não consegue acompanhar quer a premissa, quer a quantidade enormíssima de protagonistas. O resultado é evidente: uma produção pobre onde nada é desenvolvido de forma satisfatória e todos os acontecimentos surgem sem fundamento ou justificação aparente.

 

 

As críticas não se fizeram tardar. O terceiro episódio tornou-se particularmente famoso entre os internautas e fãs da franquia. Ridiculamente mau em termos visuais, fez desencadear uma série de mudanças na produção, fazendo com que as rédeas em torno da obra mudassem de direção e começassem a construir algo com mais coerência. A partir de certo ponto podemos assistir, pelo menos, a um seguimento mais lógico, onde Aoba explora cada um dos seus pretendentes através do Scrap, e o enredo começa realmente a ser desenvolvido com alguma consistência.

 

 

As mudanças foram suficientes?

Num curto espaço de tempo somos bombardeados com uma quantidade absurda de informação. Personagens, enredo, em cerca de 5 episódios recebemos todas as informações e história que deveria ter sido explorada desde o início da obra. A confusão e pontas soltas foram algumas das consequências providas pelas falhas recorrentes neste aspeto da obra.

 

 

Quanto às personagens, a ligação é reduzida a nula. Ficamos maravilhados com o design fantástico das mesmas, no entanto a fugacidade das situações e cenas à volta dos protagonistas, não permite a criação de empatia ou sequer compreensão.

Em suma, a confusão e descoordenação desta adaptação dificultam a compreensão da obra como um todo. As cenas surgem sem qualquer fundamento lógico, e as caraterísticas e objetivos fundamentais da produção aparecem distorcidos e sem significado. Ficamos sem perceber ao certo o foco sobre o qual incide a narrativa, se no tão ambicionado “boys love” ou na componente de ação e drama que, à medida que nos aproximamos do final, afigura ser o ponto fulcral.

 

 

Ambiente

As adaptações de Visual Novel são famosas pelo seu ambiente e design fantásticos. As expetativas, claro está, recaem sobre este ponto, se a narrativa não é completa, podemos esperar do melhor que a animação atual em 2D pode oferecer, certo?

Errado. A desilusão atinge valores imensuráveis neste requisito. Quando esperávamos por um deslumbrante espetáculo de cores à mesma medida que os maravilhosos character design do jogo, somos confrontados com um descalabro da animação contemporânea. A pobreza de cores, movimentos e a falta de fluidez tornam quase que insuportável assistir à obra.

 

 

Habituados ao rigor, perfecionismo e qualidade de animação das produções atuais, não há justificação plausível para assistir a tamanha falta de qualidade. Sem qualquer tipo de polimento, gesticulação fluída e composição entre cenário e personagem, transmite para o expetador o desleixo e desconforto em assistir a algo mau, numa era onde já não é permito tamanhas falhas.

Há alguma qualidade no que diz respeito ao ambiente?

O ambiente futurista bem como contraste entre as duas regiões são demarcados com um rigor de excelência, o que vai de encontro à rebuscada premissa. Os elementos usados para embelezar a narrativa são imensos, desde o sofisticado design dos vários protagonistas até à apresentação do jogo nos dois formatos: o completamente digital e o na sua forma física, em congruência com o cenário envolvente. Podemos afirmar que a carência da produção em geral, sofre uma maravilhosa excepção: as batalhas de Rhyme. O design 2D é explorado ao seu máximo rigor, com gráficos sublimes e em perfeita sintonia com o decorrer do jogo. A animação apresenta-se assim fluída, dinâmica, repleta de cores garridas, com um contraste agradável e revigorante entre tons azuis, amarelos e encarnados.

 

 

O aspeto exuberante dos protagonistas e a sua caraterização seguem o design original do jogo yaoi. Popular pela originalidade e extravagância, nada temos a apontar quanto ao character design, sem dúvida uma verdadeira obra de arte criativa.

Felizmente, fruto das críticas dos primeiros episódios, os aspetos técnicos sofreram flagrantes melhorias, tornando cada vez mais suportável, e quiçá agradável, assistir à animação. No entanto, as melhorias não ofuscam a falta de qualidade e confusão sentidas no decorrer da obra.

 

 

Juizo Final

A série bishounen está claramente direcionada para um nicho muito específico. Apesar das tentativas de globalização da obra visual novel de boys-love, o resultado foi claramente aquém do que perspetivavam. Ao criarem algo intermédio, para agradar a gregos e troianos, obtiveram uma produção fraca, sem conteúdo, e que não agradava nem a gregos, nem a troianos. As melhorias técnicas e narrativas, à medida que se aproximavam do clímax final, foram significativas. Contudo, não foram as suficientes para cativar o público descrente e desiludido pela fraca adaptação de um dos maiores e mais famosos jogos visual novel yaoi.

Em suma, os fãs e amantes da franquia com certeza deverão assistir a toda a animação e quase-romance de DRAMAtical Murder. No entanto, deverão estar conscientes que as linhas narrativas são diferentes das do jogo (uma vez que Aoba não escolhe efetivamente nenhum dos candidatos). Não esquecendo ainda, que o yaoi e/ou fanservice associado é quase que inexistente. Para os não fãs, é apenas um anime que nada de novo tem para oferecer, e que apesar de se basear numa premissa misteriosa e envolvente, não a explora devidamente.

 

Trailer DRAMAtical Murder