Em 2013 a Studio Ghibli lançou os últimos dois filmes (The Wind Rises, Princess Kaguya) dos seus Co-Fundadores: Hayao Miyazaki e Isao Takahata. Todavia, o último filme planeado pela empresa só chegaria em 2014, de seu nome: When Marnie Was There (Omoide no Marnie).
Baseado no romance inglês de Joan G. Robinson, em antecipação ao lançamento do filme no Reino Unido (a acontecer amanhã, 10 de junho), o jornal “The Guardian” entrevistou o diretor do filme, Hiromasa Yonebayashi.
Entre vários assuntos, falou-se da situação atual deste estúdio tão conceituado, que já tem curtas-metragens planeadas para o Museu Ghibli, incluindo o primeiro trabalho totalmente CGI de Hayao Miyazaki. De referir também que a Studio Ghibli contribuiu recentemente para o filme de animação franco-japonês “Red Turtle”, em colaboração com o Wild Bunch, estúdio europeu liderado pelo holandês Michaël Dudok De Wit.
“O processo de desaparecimento da Ghibli já começou” diz Nishimura. De momento já não existe produção interna.
Relativamente à sombra de Miyazaki, devemos sentir a sua presença, assim como a de Takahata-san, os dois Maestros que fundaram a Studio Ghibli e deram coragem não apenas ao Japão, mas ao mundo inteiro.
Em causa não estão apenas as técnicas de animação, mas sim as histórias contadas, o que nós contamos, a quem contamos e as aspirações da realização daqueles filmes. É isso que temos de levar connosco.“
Na parte da entrevista que causou maior discussão, o The Guardian começou a discutir a liderança do filme, o que trouxe para a conversa o assunto “género”.
Realizado logo após o terramoto e tsunami que abalaram fortemente o Japão em 2011, o filme está cheio de referências a um ideal conservador do Japão: um festival tradicional, um campo idílico, um segredo que liga Anna aos seus antepassados e através do qual ela aprende a aceitar-se a si mesma.
“Tanta gente perdeu as suas vidas e tantas outras perderam os seus entes mais queridos” diz Yonebayashi. “A Anna também perdeu os seus.”
O jornal britânico perguntou então se, no filme, Anna representava o Japão. Depois de uma pausa, Yonebayashi respondeu:
“Pode ser. Anna é uma rapariga solitária. De momento, tantos japoneses se sentem sozinhos, ainda que ligados pela tecnologia. Não tenho a certeza se a Anna e o Japão são o mesmo, mas as pessoas que vivem no Japão devem ser capazes de a entender. A Anna é uma pessoa andrógena durante a transição da sua infância para um estado mais adulto, uma fase muito sensível da vida.”
Abordado sobre outro filme da Ghibli com protagonista do sexo feminino, Hiromasa disse o seguinte:
“Eu sou do sexo masculino. Se tivesse uma personagem principal que também o fosse, provavelmente iria colocar demasiada emoção nela, o que tornaria muito complicado passar a mensagem da história.”
Uma resposta que levou o The Guardian a perguntar se alguma vez uma realizadora do sexo feminino iria liderar uma produção Ghibli.
“Tudo dependeria do tipo de filme. Ao contrário do que acontece com os live-actions, com a animação nós temos que simplificar o mundo real. Mulheres tendem a ser mais realistas e tendem a organizar melhor a vida do dia a dia. Já os homens são mais idealistas e os filmes fantasiosos precisam desta caraterística. Não penso que o facto da escolha recair em homens seja uma coincidência.”
Fonte: Crunchyroll