Os filmes que compilam episódios de anime foram produzidos desde os anos 70. Houve uma altura em que eles cumpriam um objetivo importante: na era anterior ao aluguer/venda de filmes, eram a única forma de rever uma série. A TV nipónica, ao contrário do comum, não tem espaço para voltar a exibir uma série. Portanto falhar um episódio ou chegar tarde demais para ver a série, deixava-nos com uma única maneira de a rever: filmes de compilação das temporadas.
Não existiam cassetes de vídeo naquela altura, e como é claro, nem havia internet. Uma série era transmitida uma única vez e nunca mais era reexibida (exceto se algum dia uma cadeia televisiva decidisse reexibir a série desde o seu início – um evento raro e imprevisível), e os filmes compilados eram tudo o que os fãs tinham.
Filmes Compilação – A Razão pela Qual são Produzidos
Mesmo após o grande boom das cassetes de vídeo (VHS) nos anos 80, colecionar as séries televisivas neste formato raramente era uma opção. Esta era uma época onde as séries televisivas tinham uma duração bastante superior à dos dias de hoje, sendo que 2-3 episódios por cassete era o normal – e custavam mais que ¥11,000 (90€) por cassete – simplesmente não existiam muitas pessoas que se podiam dar ao luxo de colecionar séries completas, e as lojas de aluguer de cassetes tinham um espaço limitado. Os colecionadores mais hardcore tinham que se contentar com cópias pirata de baixa qualidade. Consequentemente nem todas as séries eram disponibilizadas através das fontes oficiais.
À medida que a indústria do aluguer de vídeo de cassetes amadurecia, nos finais dos anos 80 início dos anos 90, mais pessoas começaram a comprar séries completas, primeiro no formato de laserdisc, depois em DVD e Blu-ray. No entanto, os preços do anime em cassetes de vídeo no Japão nunca sofreram uma descida considerável. Continuaram elevados ((¥7,000-12,000 “57€-98€” por volume, boxed sets desde ¥20,000 ”164€”), tornando-as algo apenas acessível aos verdadeiros fãs das séries. E francamente, a maioria das pessoas não se vai sentar e rever as séries, de início ao fim, após as verem uma vez. O custo de compra duma série completa significava que apenas os fãs hardcore as iriam comprar. Mas isso não significa que apenas os fãs mais hardcore quererão rever as séries.
Os filmes compilados podem, também, servir como auxiliares de memória das partes mais importantes do enredo da série, tornando-se especialmente importantes quando está programado o lançamento duma sequela. Além disso, uma exibição nos cinemas é um evento que pode servir como ponto de encontro para os fãs da série, e os eventos que antecedem o lançamento duma série produzem uma grande campanha de marketing que, por sua vez, impulsiona as vendas de tudo o que é relacionado com essa série.
A comunidade mais fanática normalmente coleciona, quase de forma obsessiva, tudo que seja lançado sobre determinada franquia, mesmo que o mais recente lançamento só adicione uma pequena percentagem nova de conteúdo.
Mas mais que isso, este tipo de filmes é muito, mas mesmo muito, barato de se produzir. Mesmo que ninguém os compre, os custos de produção são uma pequena fração dos custos de produção dum único episódio de anime. Não há nenhuma animação nova que tenha que ser produzida (e se houver, é algo que apenas vai ocupar um par de minutos); normalmente um único ator de voz é chamado para que seja produzida uma nova narração; não é necessário compor banda sonora, e a maior parte dos efeitos sonoros podem ser reutilizados. Quando um produto já existente duma franquia pode ser criado pelo preço de se contratarem uns poucos editores, a questão que se coloca é:
e porque não?
O mercado ocidental tem sofrido algumas alterações relativamente ao seu início e a maneira como consumimos anime demonstra que os filmes compilados não foram feitos para nós. Grande parte dos lançamentos em formato físico inclui este tipo de material como um bónus, mas algumas vezes nem se dão ao trabalho. Os poucos que têm sido lançados separadamente, na maior parte das vezes, não atingem vendas por aí além, exceto se forem parte duma grande franquia, como por exemplo Neon Genesis Evangelion: Death & Rebirth.
Não obstante, no Japão, eles ainda têm o seu propósito… mesmo que este não passe de puro marketing.
Nota: Artigo original de Justin Sevakis, criador do site Anime News Network, com mais de 20 anos de experiência dentro da indústria anime. É também o dono da companhia de produção de vídeo MediaOCD.
Fonte: Anime News Network