De nome original “One Piece: Episode of Nami – Koukaishi no Namida to Nakama no Kizuna”, este episódio especial da franquia foi transmitido no já distante ano de 2012. Todavia, só há algumas semanas decidi vê-lo e, confesso, ainda bem que foi nesta altura. Ao visualizar este resumo da saga Arlong Park, em formato de longa-metragem, reencontrei-me com o melhor de One Piece e senti a necessidade de transportar essa nostalgia para este artigo. Assim, este texto reflecte uma pequena análise ao episódio especial da Nami e, ao mesmo tempo, um olhar inquisidor sobre o mais importante que a série, prestes a chegar aos 1000 capítulos, apresentou até agora ao espectador.
Arlong Park: Porta de entrada para One Piece
Desde há muitos anos que tenho a mesma resposta na ponta da língua para quem me pergunta se lhe recomendo o anime One Piece. Nomeadamente, a seguinte: “Vê até à saga de Arlong Park, e depois então tenta perceber se tens vontade de continuar a ver.” Embora não consiga precisar, tenho ideia que formulei esta resposta por, chegados a esta altura, os espectadores viam-se na iminência de entrar na Grand Line (salvo uma rápida passagem por Logue Town) e, como consequência, alimentados pela expectativa de acontecimentos muito mais interessantes. Era como se a história só fosse começar a partir dali e, portanto, cativar verdadeiramente o espectador dali para a frente.
Ironicamente, ao ver este Episódio da Nami, creio que esta resposta estava alicerçava por um outro motivo que, habilmente, se escondeu no meu subconsciente e passou despercebido aos meus olhos postos no futuro (a Grand Line). Afinal de contas, creio que dizia às pessoas para verem One Piece até à saga de Arlong Park, não porque depois se seguia a Grand Line, mas porque a saga de Arlong Park era de facto de enorme qualidade e, caso não fosse capaz de convencer o espectador, então não seriam as sagas seguintes que o iriam fazer. Desde sempre reconheci que a história de Nami era muito boa, mas só com a visualização deste especial percebi que era ainda melhor do que eu pensava.
Arlong Park: Uma história que podia ser independente
Como este recap demonstra, Arlong Park podia ser uma história independente da franquia. Quero dizer, alguém que decidisse criar uma história com este puzzle de acontecimentos, tinha de facto uma grande criação em seu poder. A maneira como todos os acontecimentos estão interligados é perfeita. De uma ponta à outra! O roubo do Going Merry, o regresso de Nami à vila onde cresceu, a história de Bell-mère e da vila Cocoyasi, o comportamento dos habitantes da região para com Nami, o “assassinato” de Usopp, a intervenção dos Marines, enfim, um grande rodopio de acontecimentos que culmina nos combates em Arlong Park, também este um local repleto de sentimentos fortes para a navegadora dos Straw Hats.
Por esta altura, One Piece já conta com muitas sagas e algumas de elevada qualidade, ainda que os motivos dos elogios possam ser diferentes. No entanto, tenho muitas dúvidas se Eiichiro Oda encarrilou tão bem os acontecimentos em alguma delas como o fez em Arlong Park. Esta compilação deixa isso bem evidente, aproveitando também a vantagem de ser uma saga mais pequena do que muitas e, por isso, ter tempo de antena para fazer uma longa-metragem de qualidade, o que tem sido uma raridade nas compilações das sagas de One Piece em filmes e episódios especiais.
A qualidade visual e da animação
Como se não bastasse (e ainda bem que não!), também fiquei agradavelmente surpreendido com a qualidade gráfica e da animação deste projecto. Era expectável que estivessem melhores que nos episódios desta saga embutidos na série, pois esses são mais antigos. Porém, já vários exemplos demonstraram que nem sempre esta regra se confirma, isto é, que uma produção mais recente é sinónimo de maior qualidade nestes aspectos de uma produção. Assim sendo, mérito para esta confirmação. Tudo graças ao desenho mais detalhado, às cores mais carregadas, a uma animação vigorosa e que não se esconde nos momentos mais violentos e, como é bom recordar, àquelas músicas de One Piece que aceleraram os batimentos cardíacos ainda antes de se passar alguma coisa no ecrã. Aquela caminhada de Luffy, Sanji, Zoro e Usopp até Arlong Park, ao som da magnífica “Overtaken“, será épica para sempre.
E com isto termino o essencial desta minha análise ao Episódio da Nami. Um capítulo que, fruto da sua enorme qualidade, deu asas a uma reflexão mais profunda na minha consciência, que agora transito para este texto.
O melhor de One Piece ainda está para vir?
Ao ver este Episódio da Nami, dei por mim a constatar o seguinte: momentos intensos como os que se passaram em Arlong Park, e em especial em Water 7/Enies Lobby, não foram assim tão frequentes quanto isso nas sagas que surgiram após a luta dos Straw Hats com a CP-9, o que é uma péssima notícia.
Desde Thriller Bark até à entrada no Novo Mundo, a Guerra de Marineford terá sido a que mais se aproximou do topo de qualidade, quiçá seguido por Dressrosa. Isto mostra um padrão: as sagas de One Piece de maior qualidade, aos meus olhos, foram as que envolveram o passado de personagens dos Straw Hats. Nomeadamente: Nami e a história interessante da vila Cocoyasi; Robin e a fabulosa organização governamental de nome Cipher-Pol 9.
Por outro lado, existe o caso Marineford que já foge um pouco à regra. É verdade que Portgas D. Ace era uma personagem relevante por ser irmão de Luffy e ter um poder fantástico. Todavia, creio que o que me cativou mais nesta saga foi a passagem por Impel Down e a reunião de tanta gente forte em Marineford.
Estranhamente, já depois de tudo isto, Eiichiro Oda criou uma saga (Totto Land) com o passado de outra personagem principal (Sanji) que já não é comparável em termos de qualidade às supra referidas. Verificar este decréscimo de qualidade na estratégia que terá levado One Piece aos seus momentos mais gloriosos, também não é nada animador.
Um problema pessoal com os shounens?
Quer isto dizer que, embora ainda espere momentos épicos no que falta da história de One Piece – aliás, seria mau de mais se tal não acontecesse, olhando á complexidade e qualidade do enredo que Eiichiro Oda desenvolveu ao longo de tantos anos – sinceramente, já não espero um conjunto de episódios consecutivos que possam roçar a qualidade das sagas anteriores que mencionei. Apenas alguns momentos esporádicos de grande intensidade. E isto leva-me à dúvida se tal desilusão é apenas um problema meu, ou um problema geral dos shounens. Ainda que em One Piece isto só possa ser confirmado quando a série terminar, já não é a primeira vez que este sentimento me invade durante a visualização deste género de histórias e mais tarde se confirma.
Da minha perspectiva, os shounens são interessantes quando o autor tem uma ideia inicial e sabe como a vai trabalhar e fazer evoluir no presente e num futuro próximo. Ultrapassada esta fase, verifica-se a ausência deste primeiro fôlego de entusiasmo e criatividade e, para aumentar as dificuldades, existe a pressão dos fãs e a necessidade de continuar a evoluir as personagens para lá daquilo que foi inicialmente planeado. Mais do que isso, torna-se quase uma obrigação prolongar a história e descobrir novos poderes para as personagens, tornando a série cada vez mais complexa. Creio que isto, mais tarde ou mais cedo, acaba por resultar numa complexidade que foge ao controlo e à dimensão que o autor pensara para a história. Como consequência, torna-se muito mais complicado superar as expectativas dos fãs, depois de apresentadas sagas em que a criatividade andou de mãos dadas com a espontaneidade e deu forma a momentos de inspiração que surgiram de maneira inesperada na mente do criador em vez de serem “arrancados a ferros” da cabeça para o papel e, posteriormente, para o ecrã.
Não me importaria nada de engolir as palavras seguintes mas, em relação a One Piece, creio que as melhores sagas já passaram. Os melhores momentos esporádicos? Esses, como disse, creio que não! Depois de tantos anos de navegação, pelo menos o final, é quase garantido, causará muitos arrepios, quiçá lágrimas.
Conclusão
Em suma se quiserem desfrutar ao máximo da saga de Arlong Park, naturalmente que a devem ver na série, pois neste episódio especial não há tempo para, no caso das lutas, abordá-las ao detalhe. Sem considerar isso como um requisito obrigatório, esta é uma compilação fabulosa, dotada de alta intensidade em todos os parâmetros que importam verdadeiramente.
Ao contrário de outras, como o episódio de Skypiea (um verdadeiro desastre!), fiquei extremamente surpreendido pela positiva com este projecto e, por isso e pelas circunstâncias especiais que o envolvem (um resumo de uma saga), atribuo-lhe nota máxima. Não quer isto dizer que é melhor que outras séries ou filmes de anime que circulam por aí. Nada disso. Apenas um prémio merecido para um trabalho fantástico que, tirando proveito de uma excelente história, torna até possível a sua visualização sem qualquer conhecimento prévio de One Piece.
Posto isto, reformulo a resposta que mantive durante todos estes anos à pergunta: “Recomendas-me One Piece?”. Daqui em diante, responderei: “Se não queres perder muito tempo para fazer uma escolha, então dedica perto de duas horas a ver o Episódio da Nami e depois decide”.
Até à data, para curiosos e potenciais novos fãs do universo One Piece, esta foi a melhor porta de entrada que os responsáveis pela sua produção podiam ter desenvolvido.
One Piece: Episódio da Nami – Trailer
Análises
One Piece: Episódio da Nami
Uma compilação absolutamente soberba daquela que poderá ser considerada a primeira grande saga de One Piece (Arlong Park).
Os Pros
- A ligação perfeita que se verifica entre os acontecimentos sucessivos do enredo.
- A arte
- A animação
- A produção visual
- Uma história que continuaria a ser excepcional se fosse uma obra independente da franquia
Os Contras
- Como?